sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Os ventos

* Por Miguel Jorge


Ritmo louco, os ventos. Pontas finas de lâminas
frias, sanhas de asas verdes de canas.

O que vai e vem os ventos levam sobre areias,
sobre pedras, difícil é sair de suas aragens.

(De curta emboscada, os ventos, é certo que fascinam)

Bicho de céu e chão, poderiam voar mais alto
como os pássaros à caça, a presa e suas garras.

Bate forte o vento sobre as portas nuas das barcas,
e se inclina ao fogo, nascido nas manhas de domingo.

De extintas casas, nascem os ventos, trilhos por onde
nunca se passam. Tudo é ácido, e é doce, e é crível:

o levantar de voos de promíscuas palavras.

E bate, e bate forte esse cavalovento. Pupilas que
se cruzam pelas pontes, clareiras de raízes que se perdem,
crinas acinzentadas atravessam os astros.

Bate e bate esse pássarovento inventando nomes
assassinados. Verdes frutos que o orvalho guarda
sob as pálpebras, e outras águas devoram.

* Poeta, romancista e contista matogrossense


Nenhum comentário:

Postar um comentário