Morro da Conceição II
*Por
José Calvino
Lamentavelmente, na
noite do primeiro sábado deste novo ano (07/01/2017), duas pessoas morreram e
uns três ficaram feridos após serem atropeladas por uma viatura da Polícia
Militar que capotou quando perseguia em alta velocidade uns motoqueiros (sic).
O acidente chamou a
atenção e houve grande revolta dos parentes e moradores do Morro.
Com esta segunda
tragédia achei importante registrá-la na referida crônica publicada em 2012.
No século XVII,
durante as invasões holandesas em Pernambuco, o local passou a
ser conhecido como “Monte Bagnuolo”, por
ter sido ocupado pelo general italiano a serviço dos donatários da Capitania
Duartina. O Conde Francisco de Bagnuolo, substituto de Matias de Albuquerque, no primeiro período batavo, idealizou uma
fortificação próxima ao antigo Arraial Velho do Bom Jesus, que não chegou a ser
construída.
Posteriormente, já no
início do século vinte, a localidade foi chamada de “Morro da Bela Vista”,
passando a pertencer à Freguesia do Poço da Panela, depois do Arraial e, posteriormente,
à de Casa Amarela, de quem se desligou após a nova modificação urbana em 1988,
que dividiu a cidade em 94 bairros.
Em 08 de dezembro de
1904, há portanto mais de um século, por
iniciativa do Arcebispo Dom Luiz (Vide Largo Dom Luiz) Raimundo Brito, mandou
erigir um monumento à imagem da Imaculada Conceição, construída na França. A
obra é de autoria do engenheiro Lafayette Bandeira e mede cinco metros e meio
de altura, pesando 1806 Kg, com
coroamento, todo em estilo gótico.
Uma outra curiosidade
é que a imagem de Nossa Senhora da
Conceição procede da Europa e veio do cais do porto para o sopé do então Morro
da Bela Vista em um vagão de trem pela linha férrea Norte (hoje Av. Norte,
Miguel Arraes de Alencar). A mesma foi conduzida, festivamente, até o alto do
Morro nos ombros dos marinheiros e estivadores das Docas, acompanhada pelo povo
e autoridades.
A partir dos anos 30
do século 20, os morros passaram a serem vistos como áreas propícias para a
ocupação por pessoas de baixa renda, que estavam sendo expulsas do centro da
cidade. Entre as décadas de 30 e 40, o governo promoveu a remoção de mocambos
que ocupavam os mangues do centro da cidade e, conseqüentemente, essa população
foi transferida para os morros da zona
norte, até então subocupados.
Um fator importante
para a ocupação dos arredores da Av. Norte foi a Feira de Casa Amarela. Muitos
feirantes vieram do interior do Estado e passaram a morar nos morros, sobretudo
no Morro da Conceição, como também a Fábrica de Tecidos Othon, mais conhecida
por Fábrica da Macaxeira. Esta instalou-se no início do século 20 às margens da
Estrada de Ferro do Limoeiro devido à facilidade de transportes de mercadorias
e matéria-prima.
As ruas e ladeiras do
Morro foram calçadas em 1960. A água era fornecida por um chafariz e bombeada
da Rua Palmitos (Antiga Rua do Motor). Lembro que o pessoal do Morro ia buscar
água num cacimbão da Great Western que havia perto da casa onde eu nasci e do
campo do Ipiranga. A água era salobra e hoje o abastecimento é regular e próprio para o consumo humano.
As lembranças me fazem
transportar no tempo e recordar com saudade dos clubes dançantes que havia no
Morro da Conceição e que eram mantidos pelos vereadores “Rui Alves” (hoje
Escola de Samba Cultural Galeria do Ritmo), “Roberval Lins” e “Romildo Gomes”.
Existiram outras escolas de samba como a Leão do Norte e Unidos do Dendê (ambas
extintas). Atualmente, o Morro só tem dois clubes: Acadêmico e Galeria do
Ritmo, que divertem a comunidade e visitantes.
Sou testemunha ocular
de que em 1959 aconteceu uma tragédia na comemoração da festa da Padroeira do
Morro. Às 4 horas da manhã, quando se iniciava a celebração da missa pelo então
pároco da paróquia do Bom Jesus do Arraial, Monsenhor Teobaldo de Souza Rocha,
houve um curto-circuito nas gambiarras das barracas e nos brinquedos da
quermesse, provocando uma correria entre as pessoas, que pensavam tratar-se de
tiros de arma de fogo, o que resultou em inúmeras pessoas acidentadas e
falecimento de 12 fiéis. Depois da tragédia, o Arcebispo de Olinda e Recife
empenhou-se junto às autoridades para a festa profana ser transferida para os
campos do Ipiranga e Canto da Vila. Hoje, ela se estende para a Praça do
Trabalho e Largo D. Luiz.
Até 1974 o Morro da
Conceição pertencia ao bairro de Casa Amarela. Em 1988, com a reestruturação
dos bairros do Recife, foi elevado à categoria de bairro.
*Escritor,
poeta e teatrólogo pernambucano
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