Personagens da Pauliceia
* Por Luís Delcides R. Silva
Entre idas e vindas, encontro diversos
personagens no cotidiano da paulicéia. O motorista cantor, o vendedor ambulante
que cria rimas para vender seus produtos, o bêbado. Mas um que me chamou a atenção
foi a ascensorista de um prédio da Região da Praça da Sé, que convidava os
usuários do elevador para uma bela viagem ao Rio de Janeiro.
Quando todos embarcavam e ela acionava
o fechamento das portas, começava a sua fala:
-Senhores passageiros, com destino ao Rio de
Janeiro. Neste momento estaremos conhecendo alguns belos pontos turísticos da
Cidade Maravilhosa.
Uma senhora pediu:
-Por favor, quinto andar. Por
gentileza?
Ela:
-Sim, quinto andar é a lagoa Rodrigo de
Freitas. Você terá uma bela vista, com gente bonita. É um belo lugar para dar
um passeio.
Percebi que cada andar solicitado pelo
indivíduo era comparado a um ponto turístico da Cidade Maravilhosa. Um refúgio
para aqueles operadores do Direito, funcionários e pessoas que entravam naquele
aparelho.
Ao sair, percebi como as pessoas que
estavam fora do prédio estavam tensas, irritadas. Olhei para o movimento de
veículos na rua, vi a impaciência, a ânsia para chegar ao destino que estavam
estampadas na face dos indivíduos. Correria, buzinas soando alto, pista molhada
e transeuntes trombando uns nos outros para não perder cada minuto.
Vendo todo esse movimento, lembrei-me
do elevador, dos momentos de distração. Ao embarcar, me desliguei. Senti que
estava em um universo diferente da loucura e tensão das ruas paulistanas. Há
distração, conexão. As amizades surgem naquele lugar tão robusto e tenso por
onde transitam advogados e juízes.
Essa é São Paulo! Da garoa, da loucura,
dos impacientes e dos personagens. Indivíduos que fazem o seu papel, como a
ascensorista que sempre traz a alegria para todos que trabalham naquele
edifício antigo e robusto.
* Jornalista.
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