Persistir na persistência
As pessoas ainda têm,
em sua maioria, uma idéia falsa, ou pelo menos estereotipada, a respeito do
verdadeiro significado do heroísmo. Herói não é somente aquele sujeito que
salva uma vida, ou que se destaca em uma batalha ou que tem um assomo ímpar de
coragem, de acordo com os padrões vigentes. Estes podem sê-lo, não há dúvida.
Contudo, o indivíduo aparentemente pacato, considerado "comum",
aquele que não tem nada de excepcional na aparência ou nas atitudes que o
destaque da multidão, mas que seja persistente na busca dos seus sonhos,
aplicado em suas tarefas e responsável em sua conduta também o é. E talvez com
maiores méritos do que aqueles que emergem, de uma hora para outra, para a
fama, ao sabor das oportunidades ou circunstâncias.
O reverendo norte-americano
Norman Vincent Peale, de tantas e positivas mensagens em seus inúmeros livros e
sermões, observou: "Uma das coisas mais simples sobre a arte de viver é
que para chegar aonde desejamos é preciso persistir na persistência".
Trago estas palavras como lema em minha vida e repito-as nos piores momentos,
naqueles em que massacrado por problemas e acossado pelo desencanto, me vejo
tentado a desistir de tudo. Tanto isto é verdade, que as figuras que me são
inspiradoras, aquelas que desejo imitar e que se constituem em luzes no meu
caminho, foram persistentes na busca dos seus ideais, vencendo deficiências e
superando dificuldades.
Em dezembro de 1967,
classificado nos cinco primeiros lugares em um concurso de crônicas de Natal
promovido pelo "Correio Popular", fui entrevistado pela professora e
jornalista Célia Siqueira Farjallat. Na oportunidade, indagado sobre os meus
ídolos, não titubeei. Nomeei, de imediato, Abraham Lincoln e Helen Keller.
Ambos vencedores por sua coragem, fé e sobretudo persistência. O ex-presidente
norte-americano era, quando moço, simples lenhador. Pôs na cabeça, no entanto,
que um dia iria presidir os Estados Unidos. Estudou em condições adversas, à
luz de velas, tornou-se advogado, destacou-se na profissão, entrou na vida
pública, superou todos os obstáculos políticos para galgar degrau-após-degrau
até chegar ao topo: à presidência da República. Conquistou, dessa forma, o seu
sonho, não esperando pelo acaso. É, portanto, símbolo por excelência de
persistência.
E o que dizer de Helen
Keller? Cega, surda e muda, tinha tudo para ser posta à margem da vida e até
para ser classificada como uma pessoa retardada. Mas nunca se conformou em
assumir esse humilhante papel. É certo que contou com a generosidade de Anne
Sulivan para se desenvolver. Primeiro, aprendeu a ler, através da linguagem
Braille. Achou pouco. Decidiu aprender a falar. Também entendeu que ainda não
era o suficiente. Queria ir mais longe, muito mais, na busca do seu espaço na
vida.
Houve, é certo,
momentos de desespero, em que pensou em abandonar tudo e se recolher à sua
"desgraça". É compreensível. Mas Anne Sulivan não deixou. Keller
persistiu. Formou-se, de forma brilhante, na universidade, em 1904. Ainda
achava que era pouco. Tornou-se inflamada oradora. Fez palestras e conferências
por todos os Estados Unidos, narrando sua experiência. Legou-nos vários livros,
primores de otimismo e positividade. Anne Sulivan e Helen Keller, como se vê,
persistiram na persistência.
A poetisa
norte-americana Ella Wheeler Wilcox acentua: "O homem é o que ele pensa.
Não o que diz, lê ou ouve. Mediante persistente pensar podemos desfazer
qualquer condição que exista. Podemos libertar-nos de quaisquer cadeias, quer
da pobreza, quer do pecado, da doença, da infelicidade ou do medo". E Michael
Drury observa: "Podemos não ter os dotes necessários para construir uma
ponte, compor um poema, ou descobrir uma nova estrela; mas se quisermos viver
nossa vida com profundidade e espírito criador, precisamos trabalhar
incessantemente para expressar o nosso próprio conceito do que significa estar
vivo". Temos, em suma, que "persistir na persistência".
Um dos textos mais
belos a este propósito nos foi legado por um francês igualmente persistente.
Escritor, transformou-se em político, chegando ao Senado pelo voto popular e se
tornando símbolo de homem público. E não apenas para as pessoas de seu tempo,
mas de todas as épocas posteriores. Refiro-me ao poeta, romancista e
conferencista Victor Hugo, que escreveu: "Todo o segredo dos grandes
corações está nesta palavra: 'perseverar'. A constância diz que espécie de
homem há dentro de nós, qual é a nossa personalidade, a dimensão da nossa
coragem. Os constantes são os sublimes. Quem é apenas bravo tem só um assomo,
quem é apenas valente tem só um temperamento, quem é apenas corajoso tem só uma
virtude; o tenaz, porém, tem a grandeza". Tenacidade é sinônimo de
persistência. Só ela conduz ao verdadeiro heroísmo. E este consiste em
vencermos nossas deficiências. Em conquistarmos os nossos sonhos...
Boa leitura!
O Editor.
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O texto de hoje foi um grande estímulo, capaz de transformar uma fraca vontade em obstinação.
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