terça-feira, 12 de julho de 2016

Está escuro


* Por Eduardo Oliveira Freire


Olha pela janela descascada da biblioteca. Um leve arrepio na nuca. Tem um pressentimento. Sai apressada, o campus está escuro. O ônibus circular da universidade demora.

Pensa na moça que foi currada e assassinada. “Não quero pensar nisto”. As mãos estão geladas. Tenta ligar para casa, não consegue. O celular cai no meio fio da calçada.

Ao pegá-lo, vê um cordão dourado arrebentado, o pingente tinha o formato da letra J. “A garota morta, chamava-se Julieta.”. Coração acelera. Um vulto passa rapidamente. “É uma besta enorme”.

Surgem passos, corre outra vez para o prédio da biblioteca, que está fechada. Começa a chorar e as pernas paralisadas. Corre com dificuldade. A besta emite um som aterrorizador.

Começa a lembrar dos seus queridos pais, irmãos e do ex-namorado que a não deixava em paz. Os passos aumentam, parecem bandos.

O campus está um breu total. Vândalos atiram nos transformadores. Sente a urina escorrer entre as pernas, quer gritar, sua garganta se fecha, falta-lhe ar. Escuta um grito dolorido que se expande na decadente arquitetura do campus.

Corre. Encontra um corpo, o reconhece o corpo de ex-namorado. Apesar do choque, sente-se livre. De repente, se encontra cara a cara com a besta e se reconhece no olhar dela. Ouve o barulho do ônibus.

* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/


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