sexta-feira, 15 de julho de 2016

Camadas


* Por Eduardo Oliveira Freire


Quando criança, Cláudio adorava ir à casa dos avós. Podia brincar à vontade na chácara. Era um paraíso para ele e os primos.

Numa noite, quando foram dormir, a avó saiu para dar uma volta. Sempre sentia calores e precisava caminhar pela noite fresca. Cláudio estava sem sono e, quando foi à varanda, flagrou a avó beijando ardentemente o caseiro mais jovem. Cláudio ficou horrorizado, sempre achou sua vó parecida com a imagem imaculada da dona Benta do Sitio do Pica-Pau Amarelo. Retornou á cama, chorando. Nunca mais quis voltar à chácara.

Alguns anos depois, retornou para ver o avô doente e deprimido pela morte de sua esposa. Foram dias agradáveis.  O avô lhe perguntou por que nunca mais quis ir ao sítio. O jovem revelou o caso da avó e se surpreendeu de o velho não esboçar nenhum sentimento.


Só disse que o desejo para ele tinha passado, mas, não para ela e que isto era insignificante em relação ao fato de estarem juntos na alegria, na tristeza, na saúde e na doença por quase toda a vida juntos. O avô sabia que ela o amava verdadeiramente.

Ainda disse a Cláudio que era muito jovem para compreender as ambiguidades do ser humano. Todo mondo possui camadas que se revelavam com o passar das estações.

Cláudio só entenderia o diálogo com o avô, anos depois.

* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/

 


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