segunda-feira, 12 de dezembro de 2011







O cesto de Davir Jacques Louis

* Por Talis Andrade


No espelho dos teus olhos
o desejo de me ver
que seja uma única vez

Eu pago o preço
mesmo que custe
o temido castigo
de ter os olhos
para sempre vendados
com uma faixa tecida
por hábil tricotadeira
todos os dias
ajoelhada
com as companheiras
junto à guilhotina
alegre vivandeira
do terror
o terror político
transformado
em espetáculo

O rosto voltado
para a terra
a cabeça decepada
em um só golpe
a cabeça jogada
no cesto forrado
com seco capim
para absolver
o sangue golfado

No horrendo cesto
sanguinoso cesto
em que revoam
um enxame de almas
a cabeça mumificada
por Davir
os olhos abertos
revirados de cego
que mais desejam ver


* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).

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