terça-feira, 10 de maio de 2011



São todos iguais

* Por Guilherme Scalzili

Agora que os cartéis do futebol brasileiro exibem sua abjeta ferocidade, alguns comentaristas parecem estar descobrindo a nudez do rei: “nossa, a distribuição das cotas de TV é mesmo um absurdo!” Hipocrisia. Esse descalabro acontece há décadas, sob o silêncio cúmplice da crônica das capitais.
O tal Clube dos 13 existe para garantir privilégios a seus apaniguados, em prejuízo da esmagadora maioria dos times do país. Seu propósito é financiar a “grandeza” de certas agremiações e assassinar sistematicamente os clubes do interior. Desde o surgimento do Clube dos 13 a conquista de um campeonato nacional (e mesmo estadual) por um “pequeno” transformou-se em quimera de torcedores fanáticos. O Clube dos 13 é o grande causador da decadência do futebol brasileiro.
É cômodo e mentiroso alimentar essa falsa rivalidade entre Globo e CBF, de um lado, e o Clube dos Maiorais do outro. São todos partícipes da mesma farsa, do mesmo verdadeiro problema, que ninguém na grande imprensa tem coragem de abordar.
O modelo brasileiro de distribuição de verbas de patrocínio e cotas de TV imita os piores exemplos mundiais. O sistema de pontos corridos nasceu para conferir uma aparência de justiça a essa estrutura viciada. Com ele, a disparidade econômica destrói a competitividade das disputas. Um universo de centenas de clubes é reduzido a meia dúzia de eleitos que revezam troféus e repartem fortunas entre si.
A negociação direta com as emissoras seria oportunidade única para que os clubes menos poderosos começassem a reivindicar tratamento igualitário. Mas os donos da bola voltarão rapidamente a se unir quando os “pequenos” ameaçarem fazer o mesmo.




*Jornalista e escritor, autor dos livros “O colar da Carol ta na grama”, “A colina da Providência”, “Pantomima”, “Acrimônia” e “Crisálida”.

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