sexta-feira, 13 de maio de 2011







O falante vendedor de cachorro-quente

* Por Rodrigo Ramazzini


Em uma carrocinha de cachorro-quente.

- Boa noite!
- Boa noite!
- Me vê um cachorro sem alface, por favor!
- É pra já! Hoje, está em promoção o lanche...
- Que bom!
- Noite fria, né?
- Pois é! Esfriou mesmo...
- Eu dei um jeito de me agasalhar bem, meu filho! Estou com um resfriado...
- Tem que se cuidar mesmo!
- Pois é! Se não passo dessa para uma melhor... Ou pior, né? Vai saber... Há! Há! Há!
- É...
- Ainda bem que tu não queres alface. Tive que colocar a que trouxe de casa toda fora. Estava com uns bichinhos... Sabe esses que criam em alface?
- Sei...
- Pois é, estava cheio deles e eu não havia visto. Eu que planto as alfaces em casa. Tudo sem agrotóxico...
- É bom...
- Faz bem para a saúde da gente. Mas, o problema é que não dura muito... Planto milho, também!
- Legal...
- Mas esse ano não deu muito... Deu uns milhos feios... Com um amarelo gozado... Esse aqui, ó... É o restinho da plantação... Mas, o senhor pode ficar tranqüilo que é tudo de qualidade, viu?
- Sei...
- Eu sempre digo que o meu cachorro-quente é o mais natural da cidade. Planto ou faço quase tudo que vai nele... Só o pão que não!
- Bom!
- Tenho horta nos fundos do pátio de casa...
- Ah!
- Planto cebola, tomate, milho, alface... De tudo um pouco!
- Sei...
- A maionese é a patroa quem faz! Fica mais gostosa feita em casa, né?
- Com certeza...
- O molho é ela quem faz, também! Daí, não se tem desperdício... Aproveita, né? De um dia para outro...
- Sei...
- Esse aqui é bem novinho. Ela fez hoje...
- Acredito...
- Atchim! Atchim! Atchim!
- Saúde!
- Obrigado! É o resfriado que me pegou...
- Desculpa, mas... O senhor assuou o nariz no pano de prato... Isso?
- Não tive escolha, meu filho! Mas já vou trocar...
- Ah, tá!
- Esse já estava encharcado mesmo de tanto que eu já espirrei, hoje!
- Hã...
- Mas voltando ao meu cachorro-quente. Dizem que é o melhor da cidade! Eu sou suspeito de falar...
- Acredito...
- O senhor deve estar se perguntando: e a salsicha, né? De onde ele tira...
- Nem tinha pensado nisso... Mas, conta...
- Meu cunhado quem faz! Tem um pequeno negócio nos fundos de casa... A firma não está registrada, ainda... Mas a gente tem que incentivar, né? Ele está caprichando. O senhor come e depois me diz se não é a salsicha mais gostosa que já comeste...
- Imagino!
- Mas para efeito de driblar a fiscalização da vigilância sanitária, tenho um pacote aqui guardado de salsicha comprada no supermercado...
- ah!
- A gente tem que dar um jeitinho, né?
- Pois é...
- Está quase pronto...
- Vou fazer uma ligação e já retorno, ok?
- Claro...

Três minutos depois...

- Prontinho!
- O senhor pode fazer mais dois...
- Opa! Só falei como preparo o meu cachorro-quente e já deu água na boca, é?
- É... Dois amigos virão pra cá, também!
- Isso aí, meu filho! Ajuda a trazer mais gente para o negócio do “véio” aqui!

Dez minutos depois, os dois amigos chegam...

- Grande, Ferreira!
- E aí, Mário! Tranqüilo?
- Tranqüilo!
- E aí, Bittencourt! Tudo bem?
- Tudo!
- Eis o cachorro-quente que lhes falei por telefone...
- Esse Ferreira, não descansa nem na folga... Isso que é exemplo de colega profissional!
- Pois é...
- Vamos trabalhar!

Então, os dois homens abordam o falante vendedor de cachorro-quente...

- Boa noite, senhor! Somos da vigilância sanitária...


• Jornalista

2 comentários:

  1. Por medida de segurança pessoal, não como absolutamente nada na rua, na estrada e nem em rodiviárias, onde me disseram, há o pastel "Jesus me chama". Melhor não me arriscar.Ficou um alerta importante, pois há quem nem preste atenção ao que come.

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