Quem desdenha quer comprar!
* Por Mara Narciso
O dono de um automóvel quer vendê-lo, e antes de levá-lo à feira, deu uma “guaribada” no carrinho, que reluzente, na medida do possível, está ao sol da praça numa manhã de domingo, esperando o futuro dono. Este chega, olha o carro, que é tudo que ele almeja, mas vai logo pondo defeito nisso e naquilo, levantando a suspeita de que o carro fora batido. Abre o capô, olha o motor e sacode a cabeça negativamente. À medida que vasculha tudo e se detém em cada parte do veículo, vai ampliando a lista de possíveis problemas. O dono já sente bons negócios a vista, e sabe que terá trabalho, pois o comprador vai “catimbar” no preço, as negociações serão longas, a queda de braço demorada, e enfim, a venda será efetuada. Entre os vendedores de carros usados é sabido que “quem desdenha quer comprar”.
Mas com gente é diferente. Tantos que foram vítimas de desprezo noutros tempos, agora, cientes da auto-definida importância, olham o mundo de cima, até com nojo, e não fazem concessões. Sentem que o outro vale menos do que eles próprios, e agem como se isso fosse a mais pura verdade. Não raro, quem sofreu com o pouco caso de alguém, paga na mesma moeda, e nivela a todos por baixo, tendo ciência interna de que o outro é inferior, em todos os sentidos, sejam físicos, sociais, intelectuais ou financeiros. A impaciência, beirando a raiva, é demonstradora dessa verdade. A desconsideração com o que o próximo tem a dizer denota a total desimportância dada a ele. E se a pessoa insiste em se fazer ouvida, recebe palavras ríspidas, fora o olhar de enfado, e o bater negativo da cabeça.
Em todos os setores da vida é duro ser subestimado. Ninguém quer nada disso, no entanto se vê esse tipo de fato acontecendo a toda hora, em todos os lugares. Há quem use desse expediente com tanta assiduidade que nem se dá conta de estar sistematicamente menosprezando os demais. Enquanto o aparente desprezo a um objeto pode indicar uma possibilidade de compra e venda, o que se deve entender quando alguém é depreciado? Que atitude a pessoa deve tomar? Partir para a briga? Chamar quem a defenda, ou deverá ser ela mesma a sua defensora? Ou não estará valorizando demais quem a analisa e com isso está dando mais munição ao inimigo?
Como são tolos e presunçosos esses falsos reis. A arrogância que carregam pode encher um contêiner. A vaidade que ostentam alcança o topo do Everest. Onde estarão a solidariedade e a tolerância? Nem de longe serão gente, nem estarão em paz. A humilhação que impingem ao outro nada lhes trará em troca, apenas causará sofrimento.
Enquanto vários sentimentos maus – e até mesmo os sete pecados capitais –, são cantados de todas as formas, recebendo homenagens em músicas, livros e novelas, o desdém, que é um personagem onipresente, inexplicavelmente não aparece. Acredito ser ele desdenhado também.
* Médica, acadêmica do sexto período de jornalismo, autora do livro “Segurando a Hiperatividade”.
* Por Mara Narciso
O dono de um automóvel quer vendê-lo, e antes de levá-lo à feira, deu uma “guaribada” no carrinho, que reluzente, na medida do possível, está ao sol da praça numa manhã de domingo, esperando o futuro dono. Este chega, olha o carro, que é tudo que ele almeja, mas vai logo pondo defeito nisso e naquilo, levantando a suspeita de que o carro fora batido. Abre o capô, olha o motor e sacode a cabeça negativamente. À medida que vasculha tudo e se detém em cada parte do veículo, vai ampliando a lista de possíveis problemas. O dono já sente bons negócios a vista, e sabe que terá trabalho, pois o comprador vai “catimbar” no preço, as negociações serão longas, a queda de braço demorada, e enfim, a venda será efetuada. Entre os vendedores de carros usados é sabido que “quem desdenha quer comprar”.
Mas com gente é diferente. Tantos que foram vítimas de desprezo noutros tempos, agora, cientes da auto-definida importância, olham o mundo de cima, até com nojo, e não fazem concessões. Sentem que o outro vale menos do que eles próprios, e agem como se isso fosse a mais pura verdade. Não raro, quem sofreu com o pouco caso de alguém, paga na mesma moeda, e nivela a todos por baixo, tendo ciência interna de que o outro é inferior, em todos os sentidos, sejam físicos, sociais, intelectuais ou financeiros. A impaciência, beirando a raiva, é demonstradora dessa verdade. A desconsideração com o que o próximo tem a dizer denota a total desimportância dada a ele. E se a pessoa insiste em se fazer ouvida, recebe palavras ríspidas, fora o olhar de enfado, e o bater negativo da cabeça.
Em todos os setores da vida é duro ser subestimado. Ninguém quer nada disso, no entanto se vê esse tipo de fato acontecendo a toda hora, em todos os lugares. Há quem use desse expediente com tanta assiduidade que nem se dá conta de estar sistematicamente menosprezando os demais. Enquanto o aparente desprezo a um objeto pode indicar uma possibilidade de compra e venda, o que se deve entender quando alguém é depreciado? Que atitude a pessoa deve tomar? Partir para a briga? Chamar quem a defenda, ou deverá ser ela mesma a sua defensora? Ou não estará valorizando demais quem a analisa e com isso está dando mais munição ao inimigo?
Como são tolos e presunçosos esses falsos reis. A arrogância que carregam pode encher um contêiner. A vaidade que ostentam alcança o topo do Everest. Onde estarão a solidariedade e a tolerância? Nem de longe serão gente, nem estarão em paz. A humilhação que impingem ao outro nada lhes trará em troca, apenas causará sofrimento.
Enquanto vários sentimentos maus – e até mesmo os sete pecados capitais –, são cantados de todas as formas, recebendo homenagens em músicas, livros e novelas, o desdém, que é um personagem onipresente, inexplicavelmente não aparece. Acredito ser ele desdenhado também.
* Médica, acadêmica do sexto período de jornalismo, autora do livro “Segurando a Hiperatividade”.
O orgulho desmedido afundou o Titanic e derrubou impérios, desmanchou casamentos, escarneceu do amor ... Ah, quanta porcaria! Em compensação, dia desses, fuçando no Youtube, vi um homem cantando para a sua cadela de estimação dormir. E ela adormecia mesmo! Por um lado, a vida fede, mas, por outro, é de inebriar, né não?
ResponderExcluirGosto da vida, mas não gosto de pessoas que são prepotentes, arrogantes, portadoras de soberba exacerbada. Algumas vezes me pego caminhando para me sentir melhor do que alguém. Faço o caminho de volta, e isso me faz um bem. Daniel, agradeço a atenção com meu escrito. Muito obrigada!
ResponderExcluirBela e válida comparação entre um caso e outro, Mara. Lição de vida e de literatura que ninguém há de desdenhar. Parabéns.
ResponderExcluirFico muito mal quando percebo a prepotência de algumas pessoas.Já testemunhei isso em restaurantes. Pessoas ditas "finas" humilhando garções. E no trabalho, chefes que se consideram donos da verdade humilhando seus subordinados.
ResponderExcluirDuas coisas me levariam a romper- até - com um grande amor: mau humor e prepotência.
Marcelo e Risomar, pensando bem, quem somos nós? Meros caminhantes desse planeta. Quando partirmos o que restará? Bons atos, quando muito. Pelo menos tento. Obrigada pelo comentário.
ResponderExcluir