domingo, 2 de agosto de 2009


Poesia mística

A poesia é, no entender dos críticos, o gênero que mais se presta às manifestações do que as pessoas entendem por “sagrado” na literatura. É uma forma de escrever emocional, intuitiva, passional, em que nem sempre a racionalidade é o que conta. Tanto que até existe nela uma subdivisão, uma espécie de subgênero, que é o da “Poesia Mística”.
Raros são os poetas – não importa de que tempo, país ou religião que professem –, que nunca tenham escrito versos de cunho místico, mesmo que seja (e em muitos casos é) para contestar a divindade. Vários poemas, não raro mediante elaboradas metáforas, abordam, sugerem ou contestam o que se sabe sobre nossas origens e destino. E, convenhamos, sabe-se quase nada a esse propósito. Especulações há em profusão. Mas certezas...
Os símbolos, as comparações e as metáforas utilizados nesses poemas sugerem tratarem-se de arquétipos inscritos no DNA dos poetas, a memória milenar do homem, em busca de compreensão de onde e como veio, intuindo a existência de um ser supremo, superior e onipotente que o criou e a tudo o que o cerca e que ele vê e que de alguma forma mantém e rege todo esse incompreensível e monumental conjunto.
Quando se fala de poesia mística, vêm, de imediato, à memória do pesquisador, os nomes de um grupo de poetas espanhóis do século XVI, como Juan de La Cruz, Teresa de Ávila, frei Luís de Leon e sóror Juana Inês de La Cruz. Inúmeros outros, que se inspiraram na vertente do “sagrado”, poderiam ser citados, não somente na Espanha, como em vários outras partes do mundo.
Ademais, não foi somente o cristianismo que inspirou o misticismo de muitos e muitos poetas. Jalal ud-Din Rami, por exemplo, nascido no Afeganistão em 1207, era islâmico. Todavia, é considerado, quase que consensualmente, como o maior dos místicos do Oriente, conhecido como o “poeta do amor”. São famosos os seus “masavis”, ou seja, poemas de teor reflexivo-teológico.
Omar Khayan, por seu turno, não era nem cristão e nem muçulmano. Aliás, sequer era poeta de “profissão”. Era, na verdade, astrônomo e persa. Contudo, seu “Rubayat” é um monumento de misticismo, posto que misturado com o profano, até hoje lido, admirado e profusamente citado.
Outro nome que não pode ser esquecido é o do indiano Kabir. Trata-se de um dos grandes poetas místicos, ou “santos-poetas” da Índia medieval. Compôs poemas que evidenciam a fusão do movi mento hindu “bakht”, ao qual estava originalmente ligado, com o sufismo muçulmano.
Ao se tratar do tema “misticismo” na poesia, não se pode, igualmente, esquecer do grande poeta inglês John Milton, com seu livro “Paradise Lost”, que nos traz a visão anglicana das origens e do possível destino do homem.
Claro que a intenção deste Editor não é a de se aprofundar num assunto tão complexo e muito menos a de esgotá-lo. Sua pretensão é muito mais modesta e prosaica. Ou seja, é a de (quem sabe) provocar debate entre os ilustres freqüentadores do Literário, que até aqui têm se mostrado ausentes do sempre saudável e necessário confronto de idéias.
Fernando Pessoa, sob o heterônimo de Alberto Caeiro, expressou opinião nada lisonjeira a propósito dos poetas místicos. Escreveu, num poema (cujo título não nos ocorre): “Os poetas místicos são filósofos doentes,/e os filósofos são homens doidos./Porque os poetas místicos dizem que as flores sentem./E dizem que as pedras têm alma/e que os rios têm êxtases ao luar...”

Boa leitura.

O Editor.

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