quarta-feira, 12 de agosto de 2009


A Garcia Lorca

* Por Zélia Bora


Inventei uma dedicatória santa,
como se tu tivesses oferecido a mim o teu último poema.
Assim, pensei arrancar de ti o fluxo poético desta
descontinuidade chamada vida,
interrompido pela morte assassina.
Porém, sabias que bendita e antiga é a morte
e então, aprendeste a aplacar esta agonia difícil
de conter
chamada vida,
comunicada pela ilusão das palavras.
Por isso penso:
é tempo de arrancar de mim essa agonia,
esse amor incurável de inventar,
não mais resistir ao apelo impessoal e
descomedido das palavras
que atordoam o espírito como uma dor pungente
de adeus.
Ainda assim, entrego-me à solidão das palavras.


* Poetisa e professora

2 comentários:

  1. Um poema em diáspora.... Mas veja que também comunhão (para além da solidão) nas palavras.

    ResponderExcluir
  2. O adeus de amor é tão dolorido quanto a morte.
    Destaco: "bendita e antiga é a morte". Dá uma impressão de afinidade com ela, que vem quase amiga. O tal amor dói demais, mas faz versos lindos.

    ResponderExcluir