Reflexões suscitadas por um
e-mail
* Por
Pedro J. Bondaczuk
O leitor Kleber Batista
escreve-me longo e-mail em que mistura elogios e críticas, ambos
pertinentes e bem vindos (mais as segundas, as restrições, por me
possibilitarem ser redator um pouco melhor, embora sem desprezar os
primeiros, os apoios, por me indicarem que estou no caminho certo).
Não costumo responder de público o que me é enviado em caráter
particular. Neste caso, todavia, abro exceção, com a anuência da
própria pessoa que me contatou e cuja fidelidade agradeço e rogo
que permaneça intacta. Esclareço que a crítica feita por Kleber
não se refere ao meu estilo, um tanto despojado, às vezes desbocado
e na maior parte das vezes exagerado. Refere-se, especificamente, aos
temas que abordo neste espaço, que já se tornou tradicional para
reflexões diárias por quase oito anos.
Diz, meu amigo Kleber (posto
que sua amizade é virtual, mas nem por isso menos importante e menos
apreciada que as presenciais) que escrevo muito sobre escritores e
que nem todos os que me lêem exercem essa atividade. Têm outros
interesses que não a Literatura. Ademais observa que nunca critiquei
nenhum homem de letras e que, em alguns casos, chego quase a
“deificar” alguns deles, como suprassumos da perfeição. Por
fim, sugere que eu dê “um tempo” nos meus textos, fazendo
questão de observar que não questiona a qualidade deles, que
considera entre as mais altas encontradas na internet, mas por
preocupação com minha “sanidade mental”, entendendo que eu deva
“descansar”, para evitar o estresse.
Vou responder por partes, até
para que os demais leitores entendam e opinem ou não, se julgarem
pertinente emitir opiniões. Primeiro, meu amigo não deve estar
lendo com a freqüência que diz os textos publicados neste espaço.
As dez, quinze ou vinte das últimas reflexões nada têm a ver com
escritores. Um ou outro é citado, sim, mas apenas a título de
ilustração, para reforçar alguma idéia minha sobre temas que
esteja tratando. Ademais, o Literário, assim como meu blog pessoal
“O Escrevinhador”, até pelos próprios nomes que ostentam, são
voltados, “exclusivamente”, à Literatura. Faz todo o sentido do
mundo, portanto, que trate neles do principal agente da atividade
literária, o escritor. Ou não faz?
A segunda questão refere-se a
críticas. Já expliquei “n” vezes porque não critico
escritores. Não me custa, porém, reiterar. Não o faço porque só
trago à baila os que aprecio. Quando não gosto de algum livro, ou
de algum texto esparso, ignoro-o, até porque posso estar equivocado
a respeito e me recuso a assumir o papel daquele que destrói ou
contribui para destruir o sonho de alguém. Estou errado? Até pode
ser. Mas não abro mão dessa postura nem por decreto. Se você
quiser ler críticas aos escritores “x”, “y” ou “z”,
acesse outros espaços. Aqui você não as encontrará, esteja certo.
Eu sei, como ninguém, o quanto essa atividade é desgastante,
frustrante e decepcionante. Não moverei uma única palha para
torná-la ainda pior para qualquer escritor. Ademais, não “deifico”
ninguém. Só evito “demonizar” alguém, como muita gente faz.
A terceira questão do Kleber,
que nem é de fato uma questão, mas saudável preocupação com
minha sanidade mental, é por que não me afasto da atividade
literária por certo tempo, que ele não determina quanto, para
descansar e assim evitar o estresse. Essa eu respondo com este texto
do poeta português Miguel Torga, a propósito de quem já escrevi
neste espaço, extraído do seu livro “Diário”, datado de 1942.
O ilustre escritor patrício escreveu:
“-Mas por que não deixa
você de escrever durante uma temporada, para descansar? –
perguntava-me hoje alguém. – Porque era a mesma coisa que um
crente deixar de rezar um mês ou dois, por higiene”. Pois é,
Kleber, creio que esse texto responde por que não me afasto, nem
temporariamente, da atividade que tanto me fascina e mobiliza.
E por que escrevo tanto? Pelo
mesmo motivo citado por José Saramago, o único escritor de língua
portuguesa a conquistar um Prêmio Nobel de Literatura, que concluiu:
“No fundo, todos temos necessidade de dizer quem somos e o que é
que estamos a fazer, e a necessidade de deixar algo feito, porque
esta vida não é eterna e deixar coisas feitas pode ser uma forma de
eternidade”. Escrevo tanto por isso. Por ser a única forma de
eternidade que considero estar ao meu alcance, posto que
remotissimamente.
Só evito me deixar cair na
tentação de recorrer ao que denomino de “pirotecnia verbal”.
Recorro (ou penso estar recorrendo) ao expediente da simplicidade
para expressar o que sinto e o que penso. E explico por que. Aliás –
já que citei Miguel Torga e José Saramago, aproveito o embalo para
citar outro mestre, e garanto que não estou “deificando”
ninguém) – para justificar esse meu procedimento, recorro aos
préstimos do argentino Ernesto Sabato, que escreveu: “Um bom
escritor exprime grandes coisas com pequenas palavras; pelo
contrário, o mau escritor diz coisas insignificantes com palavras
grandiosas”.
Escreva sempre, amigão Kleber
Batista, que prometo responder, sem titubear, caso, claro, você me
autorize divulgar a resposta neste caótico “oceano” que é a
internet. E agradeço por seus questionamentos que, no mínimo, me
pautaram para redigir estas descompromissadas reflexões de hoje.
Continue me lendo (pelo amor de Deus!), mas lendo de fato e não
apenas passando por alto nos títulos, se tanto, dos textos postados
neste espaço.
*
Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de
Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do
Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções,
foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no
Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios
políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance
Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas),
“Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da
Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º
aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio
de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53,
página 54. Blog “O Escrevinhador” –
http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
Eu leio quase todos os editoriais desde quando começou o Literário. Eu já sabia dessas informações. Há dias em que chego a jurar que já li o texto, mas, acabo me convencendo que é uma nova abordagem de um mesmo tema.
ResponderExcluir