domingo, 13 de maio de 2018

Fuja, louco!!! - Edmundo Pacheco


Fuja, louco!!!


* Por Edmundo Pacheco



Uma pausa pra um esclarecimento, antes que nos tornemos muito íntimos: seja você estudante de jornalismo, seja profissional, ou apenas mais um sonhador, saiba que: Jornalista não faz amigos - cultiva fontes. Jornalista não acredita – investiga, apura. Jornalista não tem religião – tem ética. Jornalista não tem partido – tem filosofia de trabalho. Jornalista não tem time, não torce – tem direcionamento. E, principalmente, que não existem jornalistas de meio expediente, nem de 5, 6 ou 7 horas.

A profissão é um sacerdócio. Trabalhamos 24 horas por dia, 7 dias por semana, 30 dias por mês. Por toda uma vida. E terminamos exatamente como começamos: com uma mão na frente e outra atrás, preocupados porque aquele texto de ontem poderia ter ficado melhor, (vai ser sempre uma bosta; por melhor que achem que seu texto está, você sempre vai pensar que poderia ter feito melhor, que faltou algo), que faltou uma informação ou qual a melhor pauta pra hoje, pra amanhã etc.

Se você imagina algo diferente disso: fuja, louco (expressão muito usada por meu amigo Augusto Câmara, também conhecido como Cláudio Filmadora, que significa "sai fora", "sai dessa")!!! Você está na profissão errada.

Se você não tem vocação para a profissão: fuja, louco!!! Se você está sentado numa sala de aulas, neste momento, e acaba de descobrir que não é jornalista, levante-se, finja que vai ao banheiro e tchau nego. Não titubeie, não tenha medo, não vacile. Mude!!!

Mude de profissão, mude de curso, mude sua vida. Se você pensa em fama e fortuna, então... Fuja, louco!! Vai brincar de outra coisa, meu. Além de entrar na profissão errada, sonhando em ser artista (Pedro Bial, Gloria Maria, deixaram de ser jornalistas há muito tempo. São artistas, não tenha dúvida) a maioria dos novos profissionais está deixando a escola com uma confusão em mente. Pensa que receita de bolo, dicas de turismo, de trilha de não-sei-o-quê, e tantas baboseiras que vemos no nosso dia-a-dia, sejam notícia. Não são. Não são mesmo.

Tenho uma teoria que se aplica ao caso: acho que estes novos profissionais, formados depois do fim da ditadura, principalmente a partir da década de 90, quando o assunto se tornou mais corriqueiro, estão confundindo as coisas. Viram na escola que, durante o período mais negro da ditadura, jornalões (Estadão, Folha, JB, O Globo etc.) usavam receitas de bolo e amenidades afins, para tapar os buracos deixados pela censura.

E aí, este pessoal saiu (e continua saindo) da escola sem entender que aquilo era uma forma de protesto contra a repressão. Entenderam (e continuam) que a receita de bolo era "a notícia". E acharam legal, e transformaram as receitas de bolo em linha editorial (quer um exemplo? O PARANATV, aqui no Paraná. Jornalzinho de amenidades, receitinhas, florzinha, enfim cheio de "boas notícias". A vida é bela no Paraná).

Companheiro, isso não é jornalismo. Isso é entretenimento. E entretenimento é área para
artistas. ENTRETENIMENTO NÃO É JORNALISMO, GRAVE ISSO. Claro que um jornal tem que ter amenidades, tem que ter caderno 2, horóscopo, a feira, o serviço etc. etc. Óbvio. Agora, fazer um jornal só com amenidade?! Brincou, né?!

Ah, mas tem algo pior: o esporte. O esporte é uma praga que consome o jornalismo. ESPORTE TAMBÉM NÃO É NOTÍCIA!! É ENTRETENIMENTO!!! Galvão Bueno é um dos melhores artistas da Globo. Assim como o Faustão, como a Regina Casé e tantos outros.

Claro que há notícia no esporte. O Fantástico e o GE diário são bons exemplos: quem fez o gol, quem ganhou ou perdeu, o jogador contratado por x milhões, o time que se lascou, o jogador que surpreendeu, o que quebrou a perna, o que teve um ataque cardíaco fulminante, o goleiro frangueiro, o quebra-pau no campo, os vândalos  torcedores etc.etc.etc.são notícias do mundo do esporte. Mas quando você se mete a transmitir evento esportivo, fazer comentários etc. Aí, companheiro, derrapou na curva e entrou na contramão. Fuja, louco!!

Jornalismo é outra coisa. Então, se você pensa que o mundo se divide entre bons e maus, que há boas e más notícias, que você pode ser jornalista 5 horas por dia e depois voltar a ser um cidadão comum, que o jornalismo traz fama e fortuna, que receita de bolo é notícia, que jogo de futebol é notícia, fuja, louco!!! Você está na contramão.


* Escritor por devoção, poeta por impulso, jornalista por profissão. Já  foi bóia-fria, catador de batatas, lavador de banheiros, pasteleiro, feirante, churrasqueiro de restaurante beira de estrada, pacoteiro, vendedor de tecidos, derrissador de café, repórter de impresso, pauteiro de TV, assessor de imprensa, revisor, diagramador, editor de texto de  TV, funcionário público estadual e municipal, dono de lanchonete, confeccionista, balconista, corretor de imóveis, editor-chefe de telejornal, entre outros...




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