A
medonha língua alemã
*
Por Mark Twain
… Observem
os adjetivos alemães: aqui está um caso em que a simplicidade do
Inglês teria sido de grande vantagem; por isso mesmo - não podia
haver outra razão! - o inventor dessa língua complicou tudo o que
podia. Quando queremos falar de nosso "bom amigo" ou "bons
amigos", em nossa abençoada língua, usamos uma só forma e não
sentimos remorso com isso (em Inglês: "our good friend or
friends"), mas na língua alemã é diferente.
Quando
um alemão deita as garras num adjetivo, ele vai decliná-lo até que
seu próprio juízo entre em declínio. É tão ruim quanto Latim.
Ele dirá, por exemplo, no singular - Nominativo: Mein gutER Freund,
meu bom amigo. Genitivo: MeinES gutEN FreunDES, do meu bom amigo.
Dativo: MeinEM gutEN Freund, ao meu bom amigo. Acusativo: MeinEN
gutEN Freund, meus bons amigos. No plural, muda tudo: Nominativo:
MeinE gutEN FreundE, meus bons amigos. Genitivo: MeinER gutEN
FreundE, dos meus bons amigos. Dativo: MeinEM gutEN FreundEN, aos
meus bons amigos.
E
por aí vai - e vá o candidato ao hospício tentar memorizar essas
variações, e vocês vão ver como ele se elege rápido! A única
coisa que pode evitar essa encrenca toda é andar mesmo pela Alemanha
sem ter amigo nenhum.
Claro
que eu só mostrei o estorvo que é declinar um bom amigo no
masculino; isso é apenas a terça parte da façanha, pois temos de
aprender toda uma outra variedade de distorções do adjetivo quando
se tratar do feminino ou do neutro. O pior é que existem mais
adjetivos nesta língua do que gatos pretos na Suíça, e todos devem
ser caprichosamente declinados do modo como vimos no exemplo acima.
Ouvi
um estudante americano em Heildelberg afirmar, num tom resignado, que
preferia declinar dois convites para beber do que um único adjetivo
alemão.
O
inventor dessa língua parece ter se esforçado ao máximo para
complicá-la…
*
Pseudônimo do escritor e humorista norte-americano Samuel Langhorne
Clemens.
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