Formalidade do ensinar
O
ato de ensinar, seja lá o que for, para outras pessoas, requer uma
série de virtudes de quem se propõe a assumir essa missão. Entre
estas, destacam-se a paciência, a perseverança, o otimismo, o
bom-senso e amor, muito amor pelo que se faz. Há, porém, quem
consiga ensinar sem contar com nenhuma dessas características? Há,
embora essa ausência comprometa a eficácia.
Todavia,
há uma formalidade sem a qual ninguém consegue transmitir nada (nem
informações, nem conhecimentos, nem conceitos, nem experiências
etc.) para ninguém. Para ensinar os outros é preciso, antes de
tudo, “saber”. “Óbvio!”, dirão alguns, sem sequer refletir
ou pestanejar. A questão deveria ser encarada, de fato, com essa
obviedade. Mas não é.
Há
muita gente por aí tentando ensinar os outros sem que sequer saiba
plenamente a respeito do que se propõe a transmitir. Há muitos
professores despreparados, sem ter cursado, sequer, os quatro
primeiros anos do Ensino Básico, lecionando, por este Brasil afora,
para suprir a ausência de mestres qualificados.
Convenhamos,
a remuneração paga a quem assume essa missão fundamental em
qualquer sociedade é um escândalo. Não motiva ninguém a seguir a
carreira do Magistério e nem a se preparar adequadamente para essa
função, quando já está em seu exercício. Interesses outros,. de
políticos despreparados, que não um ensino de qualidade,
notadamente nas escolas públicas, destinadas à população de baixa
renda, prevalecem e redundam na “deformação”, em vez da
formação, de parte considerável das futuras gerações.
Infelizmente,
há muita gente tentando ensinar o que não sabe, ou que sabe apenas
superficialmente (o que, às vezes, é pior do que não saber por
completo) num arremedo de educação. Tais professores “fingem”
que ensinam e seus alunos, em contrapartida, “fingem” que
aprendem. Trata-se de um processo em que todos perdem, principalmente
o País.
Faço
estas observações com a experiência de quem já se propôs a
ensinar (e, de fato, ensinou) a uma centena de jovens, a princípio
não muito interessados em aprender. Esta época de aprendizado (pelo
menos do básico) coincide com a fase mais difícil da vida de
qualquer pessoa: a da rebeldia (geralmente sem causa) e da
autossuficiência, ditadas, exclusivamente, pela falta de maturidade.
Os
alunos (salvo exceções) são adolescentes, em várias fases da
adolescência, que atravessam um período de transformações físicas
e não entendem sequer o que se passa em seus próprios corpos,
quanto mais no mundo. É aí que o mestre tem que se mostrar melhor
preparado, para ensinar não somente os itens do currículo da
matéria que leciona, mas as regras básicas do comportamento, que
irão prevalecer na seqüência da vida de seus pupilos.
Tem
que estar preparado para responder a todas as perguntas, referentes
ou não ao objeto de estudo. Nos tempos de faculdade, para poder
custear meu curso, restou-me, apenas, como opção, colher as
migalhas pagas pelas instituições de ensino aos seus mestres. Sem
querer me engrandecer e nem exaltar meus supostos méritos, porém,
posso afirmar que jamais fui confrontado por alguma pergunta que não
soubesse responder.
Foi
o período mais trabalhoso da minha vida. Além de ter que estudar as
matérias do curso que fazia na faculdade, tinha que fazer isso em
dobro na preparação das aulas que teria que ministrar. Foi, porém,
a época em que mais aprendi. Jamais cheguei diante da classe sem
saber a fundo o que pretendia transmitir.
O
desafio maior que enfrentei foi o de conquistar a confiança dos meus
pupilos. Foi o de mostrar, antes e acima de tudo, a relevância da
matéria que estava lecionando para as suas vidas. Parece fácil, não
é verdade? Tentem, porém, por um único dia que seja, para
descobrirem o tamanho do desafio que isso implica.
Até
hoje ainda não sei se tinha (ou se tenho) vocação para o
Magistério. Contudo, minha classe foi, de toda a escola, a de menor
índice de reprovação. E isso ocorreu não porque eu eventualmente
fizesse vistas grossas aos supostamente parcos conhecimentos dos meus
alunos. Pelo contrário, eu era tido e havido como o professor mais
rigoroso e parcimonioso na atribuição de notas de toda a escola.
O
que consegui foi a empatia dos adolescentes. Foi prender sua atenção,
não com gritos, expulsões de classe, ameaças ou demorados e
cansativos sermões, como os professores fazem, via de regra, para
impor e manter a disciplina. Isso foi possível graças, unicamente,
à credibilidade que conquistei.
E
como logrei essa façanha? Da única forma que jovens na tenra idade
se convencem: mostrando-lhes que “sabia” o que me propunha a
ensinar. Esse é, pois, o caminho (creio que único) para assegurar a
qualidade de ensino, que ainda deixa tanto a desejar em nosso País.
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Nos 27 anos que frequentei escola, tive alguns professores que não tinham conhecimento do que lecionavam. Tinham a cara de pau de ficar lendo a matéria, ou mandavam os alunos abrir o livro e copiar perguntas colocadas no quadro. Um vexame.
ResponderExcluir