sábado, 15 de julho de 2017

Subida


* Por Flora Figueiredo


Quando o dia acorda atravessado,
escalo uma montanha.
É meu próprio caminho em direção ao sol.
Mochila nas costas, carrego o principal;
não levo nem perguntas, nem respostas.
Ponho um ramo de sonhos
que vou plantando pelo caminho,
a flauta encantada
pra seduzir passarinho,
a estrela companheira
que brilha o tempo inteiro
e mantém a trilha luminosa;
um frasco de água benta,
uma reza certeira;
um arco-iris à prova de nada.
Devagarzinho, sem pressionar o tempo,
chego ao meu destino.
Respiro fundo, abro os braços,
canto um hino de sagração ao mundo
— e agradeço —
por ter descoberto de repente
por onde se começa o recomeço. 



In O Trem que Traz a Noite, 2000 


* Poetisa, cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça - às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal, seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida. 




Nenhum comentário:

Postar um comentário