sexta-feira, 28 de julho de 2017

Second life


* Por Rodrigo Garcia Lopes

Na foto os olhos jovens, a praia, a mente fresca:
o tempo inteiro numa tela.
Grandes expectativas.
Agora a voz mais muda, a cicatriz:
isto o jogo não capta. Instantes são falsas iscas
que nos iluminam quando mudam
de lugar, um céu se desdobrando,
origami branco e blue, uma toalha.
A velha fúria dos instantes em uma
pilha de nuvens-pratos no horizonte.
Os discos voadores deixaram
esta música desconhecida, desde ontem.
Em vez de ontem, um totem de eterno quando.
Cubos, pirâmides, esferas. No céu.
A areia neste antigo caderno.
Tanto se viveu, tanta coisa percebida:
no meio do caminho
até parece uma segunda vida.
Ilhas, residentes e avatares
mirando o mar como se meditassem.
As ondas paralelas dão a você as boas-vindas.
Não é humana, como a voragem.
Não é humana, por mais que elas contem
histórias de mimetismos, istmos, mistérios
e no fim se dissolvam superlentas: isso são espumas.
As dunas bizantinas, a névoa sutil lambendo a costa
e o mar atemporal sob um aguaceiro
desafiam a foto daquele instante, tirada neste mesmo lugar, na mesma duna.
Aquela é e não é: você.
Esta é a “vida real”.
“Estamos em assembleia permanente.”
Não se vê duas vezes a mesma paisagem.
Não se entra duas vezes na mesma mente.
Nossas horas acabaram, o aroma salino e forte penetra as narinas.
§
minha mulher
molha as mãos na bacia
lua de verão


* Poeta, compositor, jornalista e tradutor.

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