A
arte como libertação
* Por
Eduardo Oliveira Freire
Primeiro
de tudo, confesso minha ignorância em relação ao teatro que se se
produz atualmente. Principalmente, produções que não têm artistas
muito “famosos” da televisão. Desde pequeno, sempre fui ligado
em novelas, filmes e quando me tornei adulto, comecei a me interessar
por literatura e outras artes.
Quando
cheguei ao CCBB, eu e minhas companheiras de passeio queríamos
assistir a versão da peça Hamlet, já conhecíamos mais ou menos a
história. Inclusive, vi umas duas versões cinematográficas.
Os
ingressos se esgotaram e decidimos de momento comprar os tickets de
outra peça, que era uma ópera contemporânea. Concluímos
experimentar e saltar no escuro. Por que não? Se não gostássemos,
beleza, pelo menos, sairíamos da zona de conforto. Ainda mais que
ópera me remetia àquelas exibições que os artistas cantavam em
italiano e com cenários de épocas antigas. Pelo visto, mostrei como
tenho uma vasta cultura que se resume a vários clichês... (Bem,
abafa o caso.)
No
primeiro momento, houve um estranhamento, não tinha lido nada sobre
a obra. Todavia, a sincronia entre a luz, a música e a interpretação
voraz da atriz me fez viajar para a história e, também, na boca do
cão. Ela cantava como uma soprano e ainda interpretava com o corpo.
Com certeza, deve ter tido muita preparação física.
Por
meio da ópera, contou-se a história de uma menina que foi mordida
por um cão e como isto afetou seu consciente e inconsciente,
construindo imagens tenebrosas e impactantes e de como a protagonista
superou seu trauma pelo canto.
A
obra foi inspirada em um caso verídico que aconteceu com a
atriz-soprano, mostrando que a arte pode ser libertadora. Adorei sair
da minha zona de conforto e experimentar outras veredas.
Bem,
quando a sessão terminou, uma senhora me disse que foi ótimo e
concordei. Ao dizer minha impressão, equivoquei-me ao dizer que a
ópera foi inspirada num caso “simples”. Ela contestou,
argumentando que o episódio não foi pouca coisa.
Na
verdade, queria ter dito que o caso em que se baseou o espetáculo
foi cotidiano, quantas crianças foram mordidas por cães e
desenvolveram traumas?
Evidencia-se
um olhar artístico contemporâneo em relação ao ser humano, que
não é mais retratado como idealizado em outros estilos do passado e
com histórias sublimes, românticas ou trágicas. Pelo contrário,
ele precisa lidar com o absurdo caótico da vida.
*
Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural
e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/
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