Surpresas
do presente
A
vida lhe dá uma infinidade de presentes diários – e quanto mais
anos você tem, mais os recebe – e você, além de não agradecer,
e sequer se dar conta dessas dádivas, ainda tem o desplante de
desfiar imensos rosários de queixas e lamentações, dando a
entender que vive sendo punido. Vá ser mal-agradecido lá na
Cochinchina!!!
Só
o fato de despertar, a cada manhã, vivo, com um dia inteiro ao seu
dispor, para preencher com idéias e realizações, já é um imenso
privilégio. Muitos sequer despertam. Claro que você não reconhece
isso. Acorda azedo e mal-humorado, dando coices em todo o mundo, como
um cavalo xucro que ainda não foi domado. Pensa nas inúmeras
“chatices” que terá que enfrentar, a escola, o trabalho, as
obrigações, com pouquíssimo tempo para diversão.
Esquece-se,
todavia, que essas coisas que você considera tão chatas, são um
privilégio que muitíssimos, mundo afora, não têm. Como eles
ficariam felizes se tivessem! Há mais de um bilhão de
desempregados, somando-se todos os países da comunidade
internacional, que não têm a menor noção de como farão para se
sustentar e garantir o sustento dos que deles dependem. O que essas
pessoas não dariam para terem isso que você considera “chatice”?!
Ademais,
você trabalha em um escritório confortável, com ar-condicionado,
escrivaninhas modernas e computadores de última geração. O esforço
que despende é ínfimo, quase uma brincadeira perto de tantos e
tantos e tantos outros trabalhadores. A imensa maioria dos que têm
emprego exerce tarefas perigosas, insalubres, braçais e com
remuneração dezenas de vezes menor do que a sua. Qual o motivo da
sua reclamação? Você trocaria sua “chatice” pela dessa gente
toda? Duvido!
Você
acha chato estudar. Não sabe, todavia, (ou se sabe, é muito mais
egoísta e burro do que parece), que há, no mundo, mais de um bilhão
de analfabetos. Que futuro essas pessoas podem esperar? Estão
condenadas, sem remissão, à miséria, ao “apartheid” econômico
e social, à nulidade, ao inferno na Terra.
Faculdade,
como a sua? Nem pensar! Esse contingente imenso se daria por
extremamente satisfeito se conhecesse, pelo menos, o alfabeto do seu
idioma. Se conseguisse juntar as letras e formar as palavras mais
simples. Se pudesse ler nem que fossem as placas das ruas ou os nomes
e anúncios das lojas. Se lograsse a imensa “façanha” de
“desenhar” seus nomes, mesmo que mediante garranchos.
Você
se queixa do pouco tempo que dispõe para “diversão”. Mas o que
você vê de tão divertido nas baladas que freqüenta, nos estádios
de futebol a que comparece, nas conversas vazias e sem nenhum
conteúdo com os amigos – que só têm caraminholas na cabeça e
dois únicos pares de neurônios no cérebro – e nas outras tantas
bobagens que você classifica como sendo “lazer”? Bilhões de
pessoas, mundo afora, não têm acesso sequer a isso. E se tivessem o
tempo livre que você tem, não o desperdiçariam dessa maneira
inconseqüente e tola.
Mas
você recebe outros tantos presentes diários da vida e sequer
percebe. Os belos dias de sol, por exemplo. Milhões de pessoas no
mundo vivem em lugares em que essa luz e esse agradável calor são
raridades. E, ainda assim, agradecem por isso. Mesmo os dias de chuva
são bênçãos inquestionáveis, embora você não os considere
assim. Há regiões, densamente habitadas, do Planeta, em que chove
reles dez dias por ano. Que festa os moradores desses locais não
fariam se tivessem mais dias como estes dos quais você não raro
reclama! Em Lima, por exemplo, não chove há já quatro anos.
Poderia
passar horas e mais horas desfiando lista interminável de presentes
que a vida lhe dá, todos os dias, mas não o farei. Deixarei a
tarefa ao seu cargo, ao seu raciocínio, caso você tenha um mínimo
de sensibilidade e inteligência para pensar, nem que seja uma única
vez, nisso. Vamos lá, exercite seu par de neurônios!
Mas
lhe darei, de graça, sem cobrar coisa alguma (aliás, como a vida o
faz com os presentes que dá) alguns conselhos úteis, que você pode
ou não seguir. O problema é só seu. Não tenho nada com isso.
Não
fique com essa lenga-lenga de se referir, a toda hora, ao passado
que, dada sua falta de memória, você acha que foi muito feliz.
Provavelmente, nem foi. Mesmo que tenha sido, porém, passou. Jamais
você irá recuperar esse tempo.
Não
fantasie muito, também, o futuro, pois você nem mesmo sabe se terá
um. Seu tempo pode estar se esgotando sem que você tenha a menor
suspeita. Viva o presente. Faça, a cada dia, o melhor que puder.
Aproveite cada segundo, mas com qualidade, sem queixas, reclamações
ou grilos. .
Tempos
atrás, li, em uma das colunas que Paulo Coelho publicou no jornal “O
Globo”, o seguinte, que o escritor caracterizou como “provérbio
do Ciberespaço” (mas que suspeito tenha sido escrito por ele): “O
passado é história,/O futuro é mistério./O agora é uma caixa de
surpresas./Por isso, nós o chamamos de presente”. Entendeu a
mensagem, cara-pálida?!
(Crônica
escrita em resposta às queixas de uma pessoa pessimista, que encara
a vida como castigo, e não como o privilégio que é).
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
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