Eu,
cadeira presidencial
* Por
Frei Betto
Ando
muito fria nos últimos tempos. Ninguém me esquenta. Havia uma
senhora sentada sobre mim. Recordo que ela se levantou, abrupta, ao
receber a carta na qual seu vice se queixava de ser uma figura
decorativa. E, súbito, a senhora sumiu…
Veio
então o decorativo senhor e me ocupou. Mas ainda não esquentou
assento. Prefere atender a turma do beija-mão fora de mim. Já a do
beija-bolso, nos porões do Palácio Jaburu.
Agora
me sinto reduzida ao jogo infantil do senta-levanta. Em poucos dias,
três bundas diferentes desabaram sobre mim. Já nem sei quem governa
o Brasil. O piloto sumiu! A rotatividade presidencial anda acelerada.
Só
me resta ficar aqui à espera de que a nação assegure um mínimo de
estabilidade ao país e fundilhos dignos e limpos a quem meus braços
acolhem e meu estofado sustenta.
*
Frei Betto é escritor, autor de “O que a vida me ensinou”
(Saraiva), entre outros livros.
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