terça-feira, 4 de julho de 2017

De céu e mais


* Por Evelyne Furtado


A janela do meu quarto me oferecia um céu inteiro. De súbito um edifício cortou-me um pedaço de céu. 

O prédio não se fez em um dia, porém só o percebi ontem à tarde, o que me levou a pensar no quanto estou desatenta ao que me rodeia. 

Indaguei sobre o que pensava enquanto os operários erguiam o grande edifício:

Será que prestava mais atenção aos vazios deixados pelas casas demolidas na vizinhança para erguer novas edificações ou, mesmo, aos meus próprios vazios? Será que me fixava em palavras e saudades? Será que me esforçava para aprender novos conceitos? 

Talvez todas essas alternativas acrescidas a uma e outra preocupação expliquem o meu descaso com o céu recortado à minha revelia.

As reflexões se multiplicaram e eu, ansiosa, já me antecipava a pensar que logo iriam me tirar mais céu. 

Foi quando me forcei a contemplar a paisagem que tenho agora e que é feita de presente, saudades e vontades futuras. 

No momento escrevo e assisto uma entrevista com o poeta Ferreira Gullar e ele diz coisas preciosas. Começo a dividir a atenção entre o texto e o poeta. Ele ganha fácil. É conveniente parar por aqui.



* Poetisa e cronista de Natal/RN.

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