Sem medo da vida
Poucos animais na natureza são,
fisicamente, mais dependentes do que o homem. Mas nenhum opera as maravilhas de
que ele é capaz, quando se prepara adequadamente e quando manifesta sua vontade
e suas aptidões através de atos. É tolice esse mito da juventude, de que esta
seja a fase mais criativa e produtiva da vida.
Até se explica essa postura, que não
foi, de forma alguma, imposta pelos jovens. Ocorre que em certa fase da vida
brasileira, a taxa de natalidade por aqui era muito elevada. O País era um dos
que tinham o maior contingente mundial de pessoas entre zero e 21 anos, que
chegou a representar, em determinado período, de 70% a 75% do total da
população. Os homens de negócio viram nesse mercado enorme um bom filão para
auferir grandes lucros. E com razão. Do resto, a propaganda e a publicidade se
encarregaram..."Business", como diriam os norte-americanos...
Com isso, criaram-se modas e modismos
voltados exclusivamente, ou quase, para essa faixa de brasileiros. Ocorre que
esses jovens cresceram, amadureceram e inverteram o perfil etário do Brasil.
Hoje, o patamar dos idosos é o que mais cresce. E crescerá muito mais nos anos
vindouros. Logo, estejam certos, a indústria e o comércio vão atentar para esse
fenômeno. E toda a propaganda e publicidade estarão voltadas (e a inversão já
está começando) para os cidadãos de maduros para velhos, que eufemisticamente
são chamados de integrantes da "3ª idade".
Assim é a vida. Cada fase dela tem suas
vantagens e desvantagens. E mesmo que não tivesse, o controle do processo de
envelhecimento não está em mãos humanas. É um ciclo biológico inevitável. De
nada adiante se rebelar contra ele.
O Marquês de Maricá, conhecido por seus
aforismos, citados em profusão nos antigos almanaques de laboratórios – hoje
desaparecidos – tem um que fala a esse respeito. Diz: "Os velhos ruminam o
pretérito, os moços antecipam e devoram o futuro". Tanto um, quanto o
outro, estão errados. Ambos deveriam viver o aqui e o agora na sua plenitude.
Ruminar o passado não o traz de volta e é, portanto, perda de tempo, que
poderia ser melhor utilizado para coisas úteis, como por exemplo, para construir,
a cada dia, um novo instante de felicidade. Antecipar o que é meramente
potencial, por sua vez, é uma forma de apressar a velhice.
Um fruto, por mais saboroso que seja,
só é saudável e próprio para o consumo quando está no ponto certo. Verde,
amarra a boca. Podre... Assim também é a vida. E, igualmente, o que se entende
por poder. Para que não seja simples miragem, este precisa de um período de
maturação. O escritor, principalmente, deve ser sempre atemporal. Não pode, sob
pena de fracassar, voltar suas mensagens apenas para pessoas de sua própria
faixa etária. Tem que escrever para todo o tipo de leitor. Quanto maior a
quantidade, tanto melhor. Terá mais "poder" para a difusão de idéias.
Deve, sobretudo, compreender o comportamento dos indivíduos em cada etapa de
sua vida, e nas variadas formas existentes, para incorporar em seus personagens
e dessa forma dar-lhes verossimilhança. E em que parâmetro se basear? Na
observação e, sobretudo, na memória. Deve recorrer à lembrança de como se
comportava em cada idade pela qual passou.
Honoré de Balzac, profundo conhecedor
da alma, sentenciou: "Todo poder humano é um misto de paciência e
tempo". Claro que a juventude é fascinante, quando quem está nela tem as
condições ideais de saúde, ambiente e educação. Quando conta com uma família
esclarecida, que lhe balize o caminho a seguir. Mas é repleta de armadilhas e
sobressaltos. É cheia de espinhos e sofrimentos, de perplexidade e de abandono
quando não se tem nada disso. Os meninos de rua brasileiros (e de outras partes
carentes do mundo) que o digam... Guimarães Rosa escreveu: "...Juventude?
É uma maravilha. A juventude é quase tudo. É a humanidade, é a esperança
recomeçando". De fato, é tudo isso. Mas para a burguesia. Para as classes
alta e média. Generalizar essa "maravilha" não passa de alienação.
Mas seja qual for a nossa idade ou
nossa condição social, a postura que tivermos face à vida vai contar muito para
nosso sucesso ou fracasso, para nossa alegria ou tristeza, para nossa vitória
ou frustração. Essa é uma tarefa solitária que apenas nós mesmos poderemos
exercer. De pouca valia têm os conselhos, se não nos conscientizarmos daquilo
que é o melhor para nós. Egon Krenz, um dos últimos líderes da extinta Alemanha
Oriental, em pronunciamento que fez em 18 de janeiro de 1989, disse uma coisa
muito importante a esse respeito. Observou: "Precisamos reconhecer os
sinais do tempo e reagir, do contrário seremos punidos pela vida. Só correm
perigo os que temem a vida". Não a temamos, portanto. Livremo-nos desse
risco. Bebamos desse cálice milagroso até a derradeira gota...
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Bons conselhos. Espero que possamos segui-los.
ResponderExcluir