Celular
na sala de aula, o que fazer?
* Por
João Luís de Almeida Machado
O
telefone celular é, certamente, uma das mais celebradas invenções
da humanidade. Seu uso, no entanto, traz não apenas benefícios,
mas, em alguns casos, gera transtornos e dificuldades. Existe certa
"ética" quanto ao uso do celular, que não é explícita,
mas oculta e imperceptível, a orientar a maioria das pessoas.
Sabe-se, por exemplo, que em locais públicos, como cinemas e
teatros, é preciso desligar os celulares ou deixá-los em modo de
vibração, para que os demais presentes não sejam incomodados em
caso de telefonema. É esperado que as pessoas ajam dessa forma, mas
nem sempre é o que acontece. É certo também que existem leis que
condenam o uso de aparelhos celulares pelos condutores de veículos.
Mas ande no trânsito em qualquer lugar do Brasil e perceba se os
motoristas estão preocupados com sua segurança ou mesmo com as
multas que a eles podem ser aplicadas quanto ao uso dos celulares.
O exagero no uso dos celulares, além dos inconvenientes na vida cotidiana, tem ocasionado também problemas invisíveis a "olho nu". Essas dificuldades vão além daquilo que pode ser considerado prejuízo no trânsito, nos cinemas, em locais de trabalho. Referem-se à overdose de informações e de ligação com o mundo (profissional ou pessoal). Trata-se, portanto, de problemas que estão relacionados a estresse, ansiedade, depressão e afins - de fundo psicológico e emocional. O fato de estarmos "ligados" pelas Tecnologias de Informação e Comunicação, entre as quais temos que incluir os celulares, cada vez mais integrados a todas as redes - não apenas via telefonia -, provoca problemas psíquicos em todas as faixas etárias, inclusive entre crianças e adolescentes, reforçando sintomas e dificuldades associados à velocidade e às cobranças cada vez mais acentuadas do mundo atual.
Nas escolas não é diferente. Há os problemas relacionados à ética quanto ao uso de telefones celulares que, para início de conversa, devem começar com os profissionais que atuam nas escolas. Diretores, coordenadores, orientadores, funcionários em geral e, principalmente professores, devem desligar seus aparelhos quando estiverem trabalhando ou, caso seja muito necessário, mantê-los em modo de vibração (silencioso) para que as mensagens e ligações fiquem em arquivo e depois possam ser respondidas.
Em
sala de aula, especificamente, o toque de um celular, ainda mais com
a variedade de músicas e demais estilos (muitos deles cômicos) pode
atrapalhar consideravelmente o andamento das ações previstas pelo
professor. Portanto, o exemplo começa com ele e, depois, deve ser
combinado com os alunos, seguido das devidas explicações, ou seja,
dos motivos que levam a escola (sim, a instituição e não apenas o
indivíduo, o profissional) a pedir aos alunos que deixem seus
celulares desativados durante o dia de atividades educacionais. Isso,
certamente, inclui a questão do envio de torpedos com mensagens de
texto. Essa prática, ainda que silenciosa, tira o foco dos alunos e
pode, em muitos momentos, ser utilizada para fins indevidos, como
passar respostas em provas ou testes.
Na
hora do intervalo, na mudança de professores (período entre uma
aula e outra), daí sim é possível que alunos e professores
examinem seus celulares para verificar se há mensagens importantes
ou telefonemas de retorno necessário. Ainda assim, cabe lembrar que
isto não deve se tornar uma "neurose", não devemos nos
tornar escravos do aparelho e dos serviços, tendo que a toda hora
conferir as mensagens (como já foi detectado, por exemplo, com as
pessoas que trabalham muitas horas por dia diante do computador e que
se sentem compelidas a ver e-mails, atender comunicadores
instantâneos, responder a mensagens no Twitter...).
No
caso das salas de aula, por outro lado, diferentemente do que se
pensa, os celulares não precisam ser vistos apenas como problemas.
Além de canais de comunicação com as famílias e amigos, ou mesmo
entre a escola e os alunos, esses aparelhos podem ainda se tornar
elementos de aprendizagem, incluídos em projetos educacionais. As
peculiaridades dos celulares, cada vez mais equipados, contando com
recursos como câmeras (que fotografam e filmam com boa qualidade de
som e imagem), gravadores de áudio, calendários, comunicadores
instantâneos (envio de torpedos), calculadoras e tantas outras
ferramentas possibilitam a criação de projetos e ações
pedagógicas que não podem nem devem ser desprezadas.
Entrevistas,
criação de banco de imagens, gravação de minidocumentários,
elemento de comunicação entre alunos e dos estudantes com os
professores, envio de mensagens sobre dúvidas e avaliações,
utilização de agendas para organização da vida escolar são
algumas das possibilidades de trabalho com o celular em sala de aula.
Há inúmeras outras que podem ser pensadas e criadas pelos
professores, se transformando em projetos que, com certeza, serão
bastante atraentes aos olhos dos alunos!
Nesse
sentido, chegamos à conclusão de que, ao mesmo tempo em que o
celular deve sofrer algumas restrições de uso nas escolas, tanto
para permitir um melhor andamento das ações pedagógicas quanto
para "desligar" um pouco os alunos do ritmo frenético em
que vivemos, é possível tornar esse equipamento, tão popular e
acessível, igualmente um elemento de trabalho educacional com a
criação de projetos que o incluam como ferramenta de pesquisa e
produção. Então, que assim seja!
*
Editor
do Portal Planeta Educação; doutor em Educação pela PUC-SP; e
autor do livro Na Sala de Aula com a Sétima Arte - Aprendendo com o
Cinema (Editora Intersubjetiva)
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