sexta-feira, 28 de abril de 2017

Celular na sala de aula, o que fazer?


* Por João Luís de Almeida Machado


O telefone celular é, certamente, uma das mais celebradas invenções da humanidade. Seu uso, no entanto, traz não apenas benefícios, mas, em alguns casos, gera transtornos e dificuldades. Existe certa "ética" quanto ao uso do celular, que não é explícita, mas oculta e imperceptível, a orientar a maioria das pessoas. Sabe-se, por exemplo, que em locais públicos, como cinemas e teatros, é preciso desligar os celulares ou deixá-los em modo de vibração, para que os demais presentes não sejam incomodados em caso de telefonema. É esperado que as pessoas ajam dessa forma, mas nem sempre é o que acontece. É certo também que existem leis que condenam o uso de aparelhos celulares pelos condutores de veículos. Mas ande no trânsito em qualquer lugar do Brasil e perceba se os motoristas estão preocupados com sua segurança ou mesmo com as multas que a eles podem ser aplicadas quanto ao uso dos celulares.

O exagero no uso dos celulares, além dos inconvenientes na vida cotidiana, tem ocasionado também problemas invisíveis a "olho nu". Essas dificuldades vão além daquilo que pode ser considerado prejuízo no trânsito, nos cinemas, em locais de trabalho. Referem-se à overdose de informações e de ligação com o mundo (profissional ou pessoal). Trata-se, portanto, de problemas que estão relacionados a estresse, ansiedade, depressão e afins - de fundo psicológico e emocional. O fato de estarmos "ligados" pelas Tecnologias de Informação e Comunicação, entre as quais temos que incluir os celulares, cada vez mais integrados a todas as redes - não apenas via telefonia -, provoca problemas psíquicos em todas as faixas etárias, inclusive entre crianças e adolescentes, reforçando sintomas e dificuldades associados à velocidade e às cobranças cada vez mais acentuadas do mundo atual.

Nas escolas não é diferente. Há os problemas relacionados à ética quanto ao uso de telefones celulares que, para início de conversa, devem começar com os profissionais que atuam nas escolas. Diretores, coordenadores, orientadores, funcionários em geral e, principalmente professores, devem desligar seus aparelhos quando estiverem trabalhando ou, caso seja muito necessário, mantê-los em modo de vibração (silencioso) para que as mensagens e ligações fiquem em arquivo e depois possam ser respondidas.
Em sala de aula, especificamente, o toque de um celular, ainda mais com a variedade de músicas e demais estilos (muitos deles cômicos) pode atrapalhar consideravelmente o andamento das ações previstas pelo professor. Portanto, o exemplo começa com ele e, depois, deve ser combinado com os alunos, seguido das devidas explicações, ou seja, dos motivos que levam a escola (sim, a instituição e não apenas o indivíduo, o profissional) a pedir aos alunos que deixem seus celulares desativados durante o dia de atividades educacionais. Isso, certamente, inclui a questão do envio de torpedos com mensagens de texto. Essa prática, ainda que silenciosa, tira o foco dos alunos e pode, em muitos momentos, ser utilizada para fins indevidos, como passar respostas em provas ou testes.
Na hora do intervalo, na mudança de professores (período entre uma aula e outra), daí sim é possível que alunos e professores examinem seus celulares para verificar se há mensagens importantes ou telefonemas de retorno necessário. Ainda assim, cabe lembrar que isto não deve se tornar uma "neurose", não devemos nos tornar escravos do aparelho e dos serviços, tendo que a toda hora conferir as mensagens (como já foi detectado, por exemplo, com as pessoas que trabalham muitas horas por dia diante do computador e que se sentem compelidas a ver e-mails, atender comunicadores instantâneos, responder a mensagens no Twitter...).
No caso das salas de aula, por outro lado, diferentemente do que se pensa, os celulares não precisam ser vistos apenas como problemas. Além de canais de comunicação com as famílias e amigos, ou mesmo entre a escola e os alunos, esses aparelhos podem ainda se tornar elementos de aprendizagem, incluídos em projetos educacionais. As peculiaridades dos celulares, cada vez mais equipados, contando com recursos como câmeras (que fotografam e filmam com boa qualidade de som e imagem), gravadores de áudio, calendários, comunicadores instantâneos (envio de torpedos), calculadoras e tantas outras ferramentas possibilitam a criação de projetos e ações pedagógicas que não podem nem devem ser desprezadas.
Entrevistas, criação de banco de imagens, gravação de minidocumentários, elemento de comunicação entre alunos e dos estudantes com os professores, envio de mensagens sobre dúvidas e avaliações, utilização de agendas para organização da vida escolar são algumas das possibilidades de trabalho com o celular em sala de aula. Há inúmeras outras que podem ser pensadas e criadas pelos professores, se transformando em projetos que, com certeza, serão bastante atraentes aos olhos dos alunos!
Nesse sentido, chegamos à conclusão de que, ao mesmo tempo em que o celular deve sofrer algumas restrições de uso nas escolas, tanto para permitir um melhor andamento das ações pedagógicas quanto para "desligar" um pouco os alunos do ritmo frenético em que vivemos, é possível tornar esse equipamento, tão popular e acessível, igualmente um elemento de trabalho educacional com a criação de projetos que o incluam como ferramenta de pesquisa e produção. Então, que assim seja!


* Editor do Portal Planeta Educação; doutor em Educação pela PUC-SP; e autor do livro Na Sala de Aula com a Sétima Arte - Aprendendo com o Cinema (Editora Intersubjetiva)


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