terça-feira, 25 de abril de 2017

Tecendo a rede de afetos


* Por Ana Flores


Dizem que o que acontece pela internet não parece real. Que o relacionamento afetivo virtual é artificial e quase sempre perigoso. Há quem critique a troca de e-mails entre amigos e conhecidos, muitas vezes morando a milhas de distância uns dos outros, alegando que o insubstituível calor humano ao vivo sempre foi e continua sendo o melhor e o mais autêntico carinho. Quanto a isso não tenho dúvida, mas não custa pensar nos dois lados dessa moeda tão injustiçada.

Se você faz negócios com sites sem referências confiáveis ou consulta seu saldo bancário pela internet, paga contas e faz transferência de dinheiro sem tomar comprovadas precauções de segurança, aí você tem chance de engrossar a lista de vítimas da rede. E o preço a pagar pode ser bem salgado. Se você acredita em correntes, obedece a tudo o que lhe mandam fazer nessas mensagens, encaminha-as para pessoas de sua lista porque acredita que se não o fizer pode correr riscos em sua vida pessoal, também está caindo nos modernos contos-do-vigário e nas lendas urbanas que proliferam na rede.

Bom-senso e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Não é porque a rede está aberta a todos que vou mergulhar de olhos fechados. Nem vou clicar em links estranhos, de remetentes desconhecidos, só porque alguém está jurando que foi meu colega de colégio e quer mostrar fotos daquele tempo, e outras baboseiras parecidas. Nesses casos, “Get smart!” é a palavra de ordem para quem quer ter na internet uma aliada e não uma inimiga perigosa.

Mas quando tenho a oportunidade de corresponder-me com pessoas queridas que de outra maneira não poderiam se comunicar comigo, ver pelas webcameras em tempo real filhos, netos e amigos que estão geograficamente distantes de mim, isso me dá uma certeza pessoalmente comprovada: o meio utilizado pode ser virtual, mas o sentimento que esses momentos provocam é bem real.

Mata-se a saudade, sim, quando recebemos e mandamos notícias por e-mail ou simplesmente batemos papo pelo messenger, quando ouvimos pelo skype vozes familiares ou aquelas que durante muito tempo ficaram apenas guardadas na memória. Seria melhor um abraço apertado e caloroso? Claro que sim! Apertar no colo os filhos e os netos? Que dúvida! Mas na impossibilidade momentânea de isso acontecer, não sou eu que vou desprezar essas alternativas que a internet me oferece. Alternativas virtuais, sim. Irreais, não.

E agora, com licença, vou responder ao e-mail de uma ex-colega de trabalho que no momento dá aulas em Macau. Inté!

* Jornalista





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