quinta-feira, 13 de abril de 2017

Bossa moderninha


* Por Pedro J. Bondaczuk


Perguntaram-me, outro dia,
se ainda me acho poeta.
Claro que não! Para quê?!
Trata-se de anacronismo
nesta era, dita "moderna"!


A bossa, agora, é não pensar.
É fingir alienação.
Temos o computador!
A moda é protestar,
sem conhecer a razão,
ou impor-se pelo terror.


O homem virou máquina,
de carne, osso e sangue.
Despiu-se da realeza!
Robô tem sentimentos?
Tem noção da beleza?!


A bossa agora é outra...
É ser "moderninho" no amor,
dividindo a companheira;
ser moderno em advogar,
protestando, destruindo;
ser "moderno" no extermínio,
criando as bombas "H"s,
mísseis com múltiplas
ogivas nucleares,
Minutemen, Poseidons,
SS-20 ou coisa igual,
foguetes antifoguetes,
satélites espiões
com carga atômica.
Afinal, o mundo é "moderno"!


É esmagar os humildes,
em nome da liberdade.
É lesar nosso vizinho
com arte, ou artimanhas.
É consumir LSD,
heroína ou cocaína,
ser hippie psicodélico,
transplantar o coração
e se houver algum problema
de complexa solução,
levar ao computador!


Ser livre?! Raciocinar?!
Ora, é anacronismo!
Somos peças descartáveis
de monumental sistema,
monstruoso super-homem
dos ideais de Nietszche.


A moda, agora, é amor livre,
com violência animal
e "suíte" de palavrão.
É a apologia da curra,
dos gays e da prostituição.


Reflito. Se esse reflexo
não for sobre droga ou sexo
estarei sendo sem nexo!


Ser poeta, neste tempo,
não passa de empulhação,
de fórmulas matemáticas,
palavras esotéricas
e muita mistificação!


Ostentar barba, cabelo
e costeletas compridos,
usar a gíria da moda,
"parecer" intelectual,
tomar ácido lisérgico,
com tragos de "marijuana",
vestir trajes burlescos
e passar a pão e banana.


Ainda querem saber
se continuo poeta? Não!
Aposentei minha lira
de arcaicas canções,
pois não mais sensibiliza,
como outrora, os corações
de plástico e transplantados.


(Poema escrito em Campinas, em 16 de outubro de 1968).


* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk




Um comentário:

  1. Em 1968 o computador dava seus primeiros passos em direção a popularização. Com poucas mudanças seu poema é atual.

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