quinta-feira, 20 de abril de 2017

A Copa do Mundo é gorda


* Por Gustavo do Carmo

A FIFA anunciou no mês passado que vai aumentar o número de seleções da Copa do Mundo de 32 para 48 países a partir de 2026, ainda sem sede definida. Uma medida claramente política, principalmente para beneficiar a África e a Ásia, que com 9/10 e 8/9 vagas, respectivamente, terão mais países que a América do Sul.


Beneficiar a Ásia é até compreensível, pois aumentar o número de vagas pode trazer países árabes dos petrodólares que a FIFA adora, como Catar (sede da Copa de 2022), Bahrein, Emirados Árabes (que não disputa uma Copa desde 1990, sob o comando do brasileiro Parreira) e Arábia Saudita. Ah, claro, tem a China também, que não é árabe, mas é rica.

Já a África não merece esse populismo. Não é por racismo, mas por questões técnicas e políticas dentro do próprio continente. Primeiro, porque em quase cem anos e vinte edições de Copa do Mundo os africanos só chegaram três vezes às quartas-de-final: com Camarões em 1990, Senegal em 2002 e Gana em 2010. Além disso, em quase todas as Copas, há um time fazendo greve com a federação local às vésperas do embarque para o evento. Já a América do Sul tem 9 títulos. Como podem os africanos ficarem com até 10 vagas e nós apenas 6 ou 7? A Ásia, pelo menos, chegou à semifinal com a Coreia do Sul em 2002.

Pela proposta de distribuição de vagas, a Europa ficaria com 16, a África com 9 mais 1 da repescagem, Ásia 8+1, América do Sul 6+1, Américas do Norte e Central (CONCACAF) 6+1 e, finalmente, uma vaga direta para a Oceania (que a Austrália tanto queria, mas como não foi atendida se mudou para a federação asiática), além do país-sede. Os famigerados play-offs intercontinentais seriam mantidos.

Eu até aumentaria o número de vagas para a África e a Ásia. Desde que a América do Sul tenha mais países. Minha distribuição seria assim: 16 vagas para a Europa, 8 para a América do Sul, 7 para a África (2 a mais do que já tem), 7 para a Ásia (ganharia mais 3 vagas diretas), 6 para a CONCACAF (atualmente com 3 diretas), 1 para a Oceania, o país-sede, devolveria a tradicional vaga para o último campeão e daria uma vaga para o campeão da Copa das Confederações do ciclo anterior, ou seja, da edição de 2021. Pois este torneio tem que servir para alguma coisa além de evento-teste para o ano seguinte e iludir os torcedores do país campeão, como o Brasil, que meteu 3x0 na então badalada Espanha no Maracanã lotado para no ano seguinte tomar de 7 da Alemanha no Mineirão. E acabaria com essas repescagens mundiais, abrindo espaço no calendário para continentes decidirem as suas últimas vagas.

Se uma Copa do Mundo tiver duas ou mais sedes, a segunda desconta do continente (por exemplo, em 2002, a Ásia teria uma vaga a menos). Caso inventem de ter dois países sedes em continentes diferentes, haveria um playoff entre as sedes. O continente perdedor fica com uma vaga a menos.

Da mesma forma que não adianta eu ficar reclamando da “amarelona” África ter mais países que a vitoriosa América do Sul e sugerir a minha distribuição de vagas, também não adianta me posicionar contra o aumento de vagas na Copa do Mundo. Não adianta falar que o nível técnico dos jogos vai cair, que vão surgir mais “clássicos” como Filipinas x Panamá, que o tempo de descanso para manter os 32 dias vai diminuir, que a combinação de resultados vai aumentar, que os países sem tradição vão continuar sendo prejudicados, pois deverá acontecer mais jogos simultâneos nas duas primeiras rodadas e as TVs vão priorizar os jogos mais rentáveis, etc... o Infantino só quer saber de dinheiro na sua conta da Suiça.




Não sou tão velho quanto pensam. Quando comecei a acompanhar a Copa do Mundo da FIFA ela já tinha 24 seleções. Foi a de 1990. Da de 1982 só lembro do clima de torcida pelo Brasil, com as decorações verde-e-amarela pelas ruas e ações de marketing (como o compacto do Café Pelé com os hinos dos clubes cariocas com a Xuxa modelo na capa). E a de 1986 só torcia pelo Brasil. E ambas já tinham 24. Na última Copa com 16 países, em 1978, eu era um bebê e não tinha nem um ano.


Já era um adolescente e fã de futebol quando finalmente vi o Brasil ser campeão e estava na faculdade quando foi disputada a primeira Copa com 32 países. Voltei para a faculdade quando vi o Brasil ganhar pela segunda vez, desta vez conquistando o penta. Já terei quase cinquenta anos na primeira Copa com 48 times.


A Copa do Mundo vai engordando como a Copa São Paulo de Futebol Júnior (que começou com apenas 4 clubes, comecei a acompanhar com 36 e em 2017 teve 120) e o meu peso corporal. E a Eurocopa vai pelo mesmo caminho (eram 4, 8, 16 e agora 24). Eu preciso fazer um regime. Dona FIFA e Dona UEFA vão fazer também?


* Jornalista e publicitário de formação e escritor de coração. Publicou o romance “Notícias que Marcam” pela Giz Editorial (de São Paulo-SP) e a coletânea “Indecisos - Entre outros contos”.
Bookess - http://www.bookess.com/read/4103-indecisos-entre-outros-contos/ e
PerSe -http://www.perse.com.br/novoprojetoperse/WF2_BookDetails.aspx?filesFolder=N1383616386310
Seu blog, “Tudo cultural” - www.tudocultural.blogspot.com é bastante freqüentado por leitores




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