sábado, 15 de abril de 2017

E-mail não é lixeira



* Por Clóvis Campêlo



Comecemos por Marshall MacLuhan! Foi ele que, na década de 60, criou o termo. Iniciavam-se os tempos da comunicação via satélite. Cada vez mais, as visões e imagens do mundo chegavam até nós. Eram os primórdios da cultura do simulacro. Estávamos na aldeia global.

Para alguns, a partir dali, a humanidade se transformaria. As características culturais de cada povo se enriqueceriam. A comunicação intensa provocaria um nivelamento por cima. Para outros, no entanto, o mundo se tornaria mais chato e prevísivel, perdendo cada povo as suas características individuais.

Como consequência da nova forma de comunicação mundial, nós, brasileiros, aqui no Terceiro Mundo, pudemos assistir à chegada do Homem na Lua, em 1969. No ano seguinte, em plena época da ditadura militar e ainda em preto em branco, assistimos à Seleção Brasileira ser tricampeã mundial de futebol no México. O mundo parecia encolher. Encolhidos também parecíamos nós, aqui em Pindorama, sob a tutela do governo Garrastazu Médici. O futuro, porém, nos parecia promissor. Este era um país que ia para a frente!

A nossa modernidade chegou assim: Caetano Veloso, exilado na Inglaterra pelo regime militar, mandava, via Intelsat, notícias para o Pasquim. A ditadura militar que matou, esfolou, sequestrou e exilou centenas (ou milhares) de brasileiros, concomitantemente, mandava para o espaço sideral os satélites que abririam os caminhos para nos comunicarmos com o resto do mundo. Era o progresso chegando no bojo da repressão. Quem viveu aquela época sabe disso. Quem não viveu, precisa saber.

Com a ditadura militar, criou-se também a Rede Globo de Televisão, hoje uma das três maiores do planeta, com transmissões simultâneas para quase todo o mundo. Partíamos para atingir a maturidade na área da comunicação. Se não tínhamos um regime político adequado, tínhamos a possibilidade de ver e escutar as cores e os sons do mundo. E o mundo que também nos aguardasse.

Passou o tempo, veio a normalização democrática do nosso país e a evolução da rede mundial de comunicação. Surge a Internet. Com a popularização dos microcomputadores, aumenta cada vez mais o número de brasileiros com acesso à rede internacional. E a grande novidade com o surgimento da Internet passa a ser o controle individual da mensagem comunicativa. No entanto, com a democratização cada vez maior da Internet e com o surgimento do controle individual da mensagem comunicativa, aparece um novo problema: o lixo internáutico. Dominamos a forma, mas ainda não dimensionamos de maneira correta o valor conteudístico das mensagens.

Portanto, companheiros internautas, ao enviarem suas mensagens lembrem-se de que e-mail não é lixeira!


Recife, 2001


* Poeta, jornalista e radialista.

Um comentário:

  1. Recebemos e enviamos mensagens que não demos/tivemos aprovação para o recebimento/envio. E não há antispam que dê jeito.

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