sexta-feira, 21 de abril de 2017

Dia ensolarado



Por Eduardo Oliveira Freire



- Mãe é só a gente?
 
- Sim.
 
- E o pai e a mana?
 
- Estão em casa. Só a gente vai para a casa de campo.
 
- Legal!!! Mas, você não está braba comigo?
 
- Não. Você fez alguma coisa de errado?
 
-Não. A viagem dura quanto tempo mesmo?
 
- Duas horas.
 
 Sofia  viu o filho dormir ao seu lado. Era um olhar de ternura. Estava cansada, não gostava de dirigir e principalmente para lugares distantes. Não queria parar, desejava chegar logo.  Chegaram ao entardecer. Ela preparou um lanche bem caprichado para o filho. Ele estava radiante por estar só com a mãe.

- Mãe, amanhã vou tomar banho de piscina, andar de bicicleta e andar pela mata.
 
Vou fazer tudo isso com você.
 
Quando o garoto dormiu. A mãe ligou para a casa:
Oi amor,  como está Aline?
 
- Tá com febre e muito agitada. E aí...
 
- Tudo certo.
 
- Espero que tudo corra bem...
 
- Conversamos depois... me deseja sorte.
 
- André tá dormindo? Queria falar com o meu filho...
 
- Melhor não Rodrigo, deixa tudo como está.
 
Foi uma semana maravilhosa para André. Só fez o que queria. A mãe colocou nenhum limite. Ele tinha doze anos. Sofia quando o via nadando e correndo pela mata, ficava admirada. Percebia como o seu filho crescia, porém ao se lembrar do motivo de estar ali, sentia-se triste.

–  Mãe, que olhar triste é esse?
 
- Nada filho. É bobagem sua.
 
- Hoje é domingo, que horas a gente vai embora.
 
- Ficaremos até segunda.
 
- E a escola?
 
- Não esquenta. Um dia sem ir...
 
- Tá bom.
 
Noite. André tomava banho. Sofia ligou para casa.
 
- Me deseja sorte. A Aline tá bem?
 
- Continua muito doentinha... parece ser emocional.
 
- Cuida dela. Tudo vai ficar bem.
 
Ela foi à cozinha. Colocou um sonífero no refrigerante do filho, começou a chorar, mas, não desistiu do que faria. “ É para o bem de todos”. André saiu do banheiro e foi para a mesa. Alguns minutos, o menino sentiu muito sono e a mãe o ajudou ir para cama. Sofia pegou uma pequena faca e cortou a garganta do filho, o sangue jorrou pela cama e na roupa da mãe. Desesperada, urrou como se tivessem dilacerado o seu ventre. Abraçou o cadáver do filho.

André era um menino cruel. Torturava e depois matava vários animais de estimação que a família pegava para criar. Espancava os colegas da escola e da rua. Manipulava todos com sua inteligência doentia. Os pais procuraram os melhores psicólogos e psiquiatras, contudo, nenhum tratamento dava jeito na sua essência má. O estopim foi quando ele violentou a irmã mais nova, que tinha apenas quatro anos.

- Adeus meu filho. Que sua alma demoníaca encontre salvação. Tenho que crer nisso...


* Eduardo Oliveira Freire é formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, com Pós Graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá.
 


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