domingo, 8 de janeiro de 2017

Vergonha de um Brasil


* Por Rosana Hermann



Existe um Brasil turístico que todos amamos. São as praias paradisíacas do litoral, as matas verde-bandeira que abrigam incontáveis espécies, a abundância de água doce que flui nos rios e despenca em quedas cinematográficas. É o Brasil-natureza que traz turistas e suas moedas para todos os estados, dos que fazem turismo ecológico aos que fazem turismo tradicional. Mas já aí, lembramos de um problema gravíssimo, o turismo sexual, especialmente com crianças menores de idade. É de chorar de revolta.

Há um Brasil cultural que também muito nos orgulha. É o Brasil popular de Chico, Caetano, Gil, Olodum e o Brasil clássico de pianistas, regentes, de Villa Lobos a Tom Jobim e tantos outros. E há ainda o Brasil da pintura de Di Cavalcanti, da literatura pop de Jorge Amado, da arquitetura de Niemeyer.

Elencar listas assim sempre nos faz incorrer em erros e injustiças, porque há tantos Brasil honrados. Veja o caso de Pitanguy, na cirurgia plástica estética. E o que dizer então do mundo dos esportes? Do futebol que, enfim, é penta, dos meninos e meninas do vôlei, do basquete, do técnico Bernardinho, tão em alta com sua disciplina, técnica e exigência?

Há até o Brasil de Sebastião Salgado, que retrata a miséria e a realidade rústica e dolorosa da nossa gente mais desfavorecida, ressecando a garganta com seus retratos e roubando a cor da face com suas paisagens.

Mas estes brasis estão ofuscados pelo Brasil vigente, o Brasil corrupto, o Brasil filhodaputa, o Brasil desgraçado, maldito e vergonhoso. De gente escrota, despreparada e ambiciosa, burra e destrambelhada. De gente de todos os partidos, atividades, credos e cruzes, que despreza qualquer tipo de refinamento humano construído durante milhares de anos de cultura e história. São pessoas toscas que estão em todos os lugares. Dessas que escarram no chão, jogam latas pela janela do carro, peidam nos elevadores e literalmente cagam para todos nós. São os shreks da política, ogros latifundiários, ciclopes das empresas. E não há categoria que não tenha seus representantes nesta horda de vagabundos. Podem ser religiosos ou ateus, ricos ou remediados, nenhum grupo escapa.

Como tirá-los do poder? Como corrigi-los? Como puni-los? Com o voto. Só com o voto. Tire o voto de um político corrupto e você terá um bandido sem arma. Não há outra solução.

Mas não. Infelizmente, vemos em algumas pesquisas que revelam que há candidatos a cargos eletivos, sabidamente ladrões contumazes, de caráter totalmente duvidoso, com passados comprometidos, que estão na lista de prováveis eleitos.

É triste. É revoltante. É desestimulante. Dá vontade abandonar a pátria, imigrar pro Canadá, mudar de nacionalidade. Dá vontade de renegar a cidadania, de abrir a janela e xingar todo mundo de idiota. E depois, chorar a culpa sabendo que muitos desses iludidos não têm a menor condição de votar diferente. Dá vontade de viajar pra justificar o voto, de votar branco, nulo, de escrever com batom no espelho, de fazer qualquer coisa pra acordar este Brasil hipnotizado pela televisão que não consegue ver que reis, rainhas, príncipes, estão todos nus. Nus de moral, ética, humanidade.

Nestas horas, dá vontade de recorrer ao D’us vingador e pedir que num zás, num gesto, Ele destrua todos, mas todos os corruptos desgraçados deste país. Mas aí, seria mesmo caso de ir embora. Com uma extensão territorial tão grande, a gente ia acabar morrendo de solidão.

*Rosana Hermann é Mestre em Física Nuclear pela USP de formação, escriba de profissão, humorista por vocação, blogueira por opção e, mediante pagamento, apresentadora de televisão.





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