Brasil mínimo
* Por
Emir Sader
Bastaram poucos meses
para que ficasse claro para todos a que veio o governo do golpe. Nada a ver com
o fim da corrupção, porque é o governo mais corrupto da história brasileira.
Nada a ver com unificação do pais, porque o pais está unificado contra esse
governo. Nada a ver com recuperação da confiança, porque ninguém confia nesse
governo. Nada a ver com resgate do crescimento econômico, porque o país foi
jogado da maior depressão econômica da sua história.
Bastaram poucos meses
para que o pais ficasse reduzido à sua mínima expressão. Estado mínimo, com o
desmonte do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, dos Correios, da
Petrobras, do Bndes, desmonte das políticas sociais, desmonte dos direitos dos
trabalhadores, desmonte do nível de emprego, do poder aquisitivo dos salários,
desmonte da dignidade e da soberania na política externa. Enfim, desmonte do
Estado, que significa desmonte da sociedade organizada, ao lado da monstruosa
promoção da centralidade do mercado.
O argumento se choca
com a realidade. Com mais Estado, a economia brasileira cresceu. Com menos,
entrou em recessão, no passado e no presente. Porque menos Estado é mais
mercado e o mercado é controlado pelo capital especulativo, o que significa
mais recessão e nenhum impulso ao crescimento econômico.
Porque menos Estado é
mais concentração de renda e a distribuição de renda foi fator fundamental no
crescimento econômico brasileiro neste século. Porque menos Estado significa
menos crédito, menos bancos públicos, taxas de juros mais altas, portanto,
menos alavanca para o crescimento econômico.
Menos Estado é menos
patrimônio publico e mais patrimônio privado, que funciona conforme os
interesses privados, como é o caso claro da dilapidação do patrimônio púbico em
mãos da Petrobras. Se investe menos, há menos retorno, mais desemprego e menos
produção.
Menos Estado
representa menos garantia dos direitos das pessoas. Menos Estado significa
menos recursos para as políticas sociais, políticas que explicam o enorme
sucesso dos governos do PT e o prestigio do Lula. Menos Estado quer dizer menos
proteção dos direitos dos trabalhadores, mais desemprego, mais trabalhadores
sem carteira assinada.
Menos Estado significa
a dominação da mentalidade do mercado contra os direitos das pessoas. Significa consolidar a hegemonia do capital
financeiro e, portanto, nada de retomada do crescimento, ao contrario, mais recessão
e desemprego.
Menos Estado se traduz
na desaparição do Brasil do cenário internacional, voltando a ser
intranscendente aliado subordinado dos EUA. Signfica não se alinhar com os
Brics e deixar de promover a integração regional e a diversificação das
relações do pais no mundo.
Estado mínimo
significa direitos mínimos, significa injustiças máximas, corrupção máxima,
entreguismo total, anulação da democracia.
Quem precisa do Estado
é quem é desprotegido pelo mercado. Os ricos querem o Estado mínimo e o mercado
máximo. O povo precisa do Estado para garantir seus direitos, a distribuição de
renda, os direitos dos trabalhadores, a proteção dos mais fragilizados. O
Estado é quem promove a inclusão social, o mercado exclui. O Estado generaliza
a cidadania, ao mercado so interessam os consumidores.
O Brasil não cabe no
Estado mínimo, nas dimensões do mercado a que o governo golpista quer encaixar
o pais. Já conhecemos o potencial do Brasil, sabemos que podemos crescer e
distribuir renda, que podemos nos orgulhar e não nos envergonharmos do nosso pais.
O Brasil está sendo
reduzido às suas proporções mínimas para o seu povo, para a democracia, para
que o mercado máximo garanta os lucros dos especuladores, o aumento da desigualdade social. Só um
Estado governado por quem o povo decida pode fazer com que a dignidade, a
justiça, a soberania, os direitos, prevaleçam.
*
Sociólogo e cientista político
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