domingo, 11 de setembro de 2016

Pitadas de poesia – 1
 * Por Laís de Castro
 Solução Drummond

Meus versos nascem tristes e sem rima,
Sonham com ruínas, para ver se a rima persiste,
Desvendam biografias em escombros
Escapam de masmorras em riste
Fulgem no universo amanteigado
Dançam sob o fogo do pecado
Vencem tempestades de giletes
Perdem sílabas em hepatites
Socorrem cães vazios, ocos por dentro
Isolam-se em taquicárdicas cocheiras
Fogem de salas e antessalas exauridas,
Prevaricam em sonoras britadeiras
Espalham carruagens mentirosas
Percorrem ruas tuberculosas
Saltam para abismos homeopáticos
E entoam canções em pantomima
Para ver se escapam do triste
Para ver se persiste a rima,
Para ver se a rima persiste.

Novos tempos

Silêncio
Vai passar a caravana dos sábios
Sobre as pernas dos ignorantes
Silêncio
Vai passar a caravana dos fortes
Sobre a cabeça dos fracos
Silêncio
Ninguém faça um ruído
Nem de dor
Nem de revolta
Nem que o gosto de sangue venha à boca
trancada pelos lábios roxos
de medo.
Nenhum grito de socorro
Nenhum porre de éter. Nenhum anestésico.
Tudo o que você disser poderá
ser usado contra você
na hora do julgamento.

* Jornalista, trabalhou no grupo Abril (3 prêmios Abril). Trabalhou, ainda, na Editora Três (sob Luís Carta), na Editora Símbolo onde foi diretora da Corpo a Corpo, da Vida Executiva e, agora, é da Dieta Já. É autora do livro “Um velho almirante e outros contos”, pela Editora Siciliano.



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