sábado, 9 de julho de 2016

Um gigante físico e intelectual


O filósofo grego, Platão, “deve” ter sido um sujeito formidável (e não me refiro, sequer, à sua notória condição de sábio, o que é inquestionável, mas à sua pessoa, ao indivíduo, ao cidadão). E por que me refiro utilizando o verbo “dever” no sentido de possibilidade e não de certeza? Porque tudo o que conhecemos dele é através de terceiros. São inúmeros os seus biógrafos. Mas as tantas biografias que temos dele divergem em quase tudo: na data e local de seu nascimento, em quando e como ocorreu sua morte e em tantos e tantos outros dados pessoais que, todavia, considero sem importância. O importante é que a obra de Platão atravessou o tempo e nos chegou quase intacta, cerca de 2.400 anos após ser produzida, o que não deixa de ser notável e que pode ser considerado, até, sem nenhum exagero, como um “milagre”. Ainda bem que chegou até nós. .

Caso houvesse a tal “máquina do tempo” (que só “existe” na ficção científica, por ser teoricamente possível, contudo apenas no terreno da fantasia, e que na prática é rigorosamente inviável, se não absurda) que nos permitisse viajar ao passado, “vivê-lo” mesmo que temporariamente e regressar à nossa época, esse gênio, esse gigante da espécie, esse fenômeno intelectual seria, sem dúvida, um dos personagens que eu mais gostaria de conhecer pessoalmente. Teria tanta coisa a conversar com ele! E mais, como jornalista que sou, certamente o entrevistaria, em uma extensíssima e detalhada entrevista, para esclarecer determinados aspectos do seu pensamento que não consigo (ainda) compreender. Tenho, até, enorme lista, com centenas de perguntas que lhe faria, buscando arrancar dele toda informação que me fosse possível. Mas...

Seu nome, aliás, a se acreditar em seus principais biógrafos, nem mesmo era Platão. Era Aristocles (como o de seu avô). A forma como ficou conhecido entre seus contemporâneos (e principalmente, pela posteridade) era um apelido, que o filósofo adotou como pseudônimo e com ele se consagrou. Foi apelidado assim por causa da sua grande estatura e da sua enorme cabeça (pudera!). A palavra grega “platão” pode ser traduzida como “grande”, “amplo”, “largo”, “avantajado”. Nos dias de hoje, ele seria, possivelmente, apelidado de Gigante, ou de Montanha, ou de Cabeçudo, ou então de Cabeção. Há divergências, entre seus biógrafos, quanto à data do seu nascimento. Uns dizem que nasceu em 428 a.C, outros que em 424, outros, ainda, que teria ocorrido em 425.

O próprio Platão, todavia, observou, na “Sétima Carta”, que seu nascimento coincidiu com a tomada do poder, em Atenas, pelos Trinta Tiranos. Dessa forma, teria nascido em 423 a.C. Será? Tentar determinar datas exatas, por sinal, quando se trata de fatos e pessoas de tempos tão remotos é, no meu entender – como tenho enfatizado e reiterado – praticamente impossível. Afinal, foram tantos os calendários adotados por vários povos e em várias épocas, que, compatibilizá-los com o atual, o Gregoriano, é uma ficção. Antes desse nosso ser oficializado, em 24 de fevereiro de 1582, pelo papa Gregório XIII, houve cálculos, estudos, debates, brigas até, sem que se chegasse a algum consenso. Por isso, não levo a sério as datas historicamente citadas que sejam anteriores ao século XVI, embora cite-as, mencionando as respectivas fontes. Nesses casos, imito Pilatos: lavo as mãos.

A mesma controvérsia se repete em relação à época da morte de Platão. Nesse caso, fico (e apenas por “intuição”) com a informação de seu biógrafo Neantes, que escreveu que o filósofo morreu em 327 a.C, aos 84 anos de idade. A ser verdade, fazendo simples operação aritmética, é possível concluir que ele teria nascido de fato em 411 a.C. Nesse caso, “vendo o peixe pelo tanto que comprei”. O que importa, porém, não é nada disso, mas o que esse gigante (fisicamente e, sobretudo, intelectualmente) fez. Sem mencionar sua vasta obra, de mais de três dezenas de livros (cuja análise me proponho a fazer oportunamente), destaco que Platão  foi o criador da primeira universidade do mundo ocidental, que foi a celebrada Academia de Atenas. Essa instituição, à qual se deve o fundamento filosófico do Ocidente, durou nove séculos, novecentos anos!!! Foi destruída, somente no século VI d.C., pelo imperador bizantino, Justiniano I.

É forçoso reconhecer que sem ele, sem o seu mestre Sócrates (de quem foi aluno por oito anos e do qual se tornou o principal porta-voz) e sem seu não menos ilustre pupilo, Aristóteles, provavelmente o mundo, hoje, seria muito diferente, e para pior. Do pensamento desse trio (e de mais um ou outro pensador, não tão célebre) construiu-se o alicerce da ciência contemporânea, como a conhecemos hoje, com todas suas maravilhas tecnológicas, além, claro, da filosofia ocidental. Educador por excelência, foi um dos primeiros a defender a igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres. Por tudo o que fez e pelo que foi, portanto, seu apelido, Platão, cabe-lhe justinho, como uma luva. Ele foi, de fato, um gigante, não apenas físico (posto que também nesse aspecto), mas, sobretudo, no intelecto, na genialidade, na capacidade de criar. Que sujeito boa praça esse grandão deve ter sido!!!!

Boa leitura.


O Editor.

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Um comentário:

  1. Inacreditável uma só pessoa ter tanto saber. Caso ele se anunciasse como o Messias teria criado uma religião como Cristo?

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