sexta-feira, 1 de julho de 2016

Devaneios de uma roqueira 20

* Por Fernando Yanmar Narciso*


CAPÍTULO 2 (PARTE 3/3)


Ulysses dirige igual ao Ace Ventura, com a cabeça pra fora da janela pois apesar de viver investindo nesse carro, os pára-brisas já estão trincados há mais de ano. A cabine da jamanta sempre teve esse perfume peculiar de bagulho. Nunca perguntei ao Uli de onde vem o skunk que tanto fuma, mas o cheiro da erva dele é incrível! Nem a famosa ‘maconha da lata’ que apareceu em Ipanema na década de 80 devia ter um cheiro tão doce.

Please, não me julguem, ‘nunca’ pus um baseado na boca- Yeah, right...- mas toda vez que subo na bumba do Ulysses é como se o filme Yellow Submarine corresse diante de meus olhos. Preferiria se ele dirigisse um pouco mais rápido, mas parece que ele ‘tava’ até curtindo dirigir ouvindo Bob Marley comigo encostada em seu ombro, apesar de ele ser mais fã da Bárbara.

Uli entrou no restaurante do posto me carregando no colo como se fôssemos recém-casados- Valha-me, Kurt Cobain!- e lá estava minha prima lavando a louça e cantarolando alguma coisa da Adele ou do Jefferson Airplane, I dunno, minha mente já havia se despedido desse mundo há muito tempo pra prestar atenção.

Quem diz que já viu de tudo no mundo precisa ouvir a Barbie cantando enquanto trabalha ou toma banho. Desafia a lógica e a ciência: Ela fuma uns trocentos cigarros por dia, se amarra num gole e tem uma voz de querubim desde que atingiu a puberdade. Imaginem as vozes de Dorothy Moskowitz, Debbie Harry, Meg White e Fernanda Takai saindo juntas da mesma pessoa! Pure Magic!
- Opa! Não acredito, um cliente!
- Falaí, Barbie!
- Aaaaah, é só ‘ocê’, vagabundo! Tava até achando que Deus tinha me mandado um presente... Quê que foi, sô? Se perdeu no caminho de volta pra Jamaica?

Conhecendo Ulysses tão bem como eu e Barbie o conhecemos, sei que é capaz de fazer qualquer coisa só pra passar uns cinco segundos babando por minha prima, apesar de ela nunca ter ido com a cara dele. Aliás, nem com a dele e nem com a de nenhum outro homem. Mas ele não tá nem aí pras provocações dela, au contraire, quanto mais minha prima tripudia, mais ele lambe o chão que ela pisa. Como diz o ditado, ‘vivo arranhado, mas não largo minha gata’. (Risos)
- Não, nada não, Barbie... Só trouxe a Lexi aqui, que desmaiou no meu colo saindo do trabalho.
- Nossa!
- E do jeito que a barriga dela roncou no caminho, parece que ela vai esvaziar a dispensa toda sozinha. Me ajuda aqui a subir com ela pro quarto.
- Vem comigo, prima. ‘Brigada’, Ulysses.
- Rastafáris sempre alerta, meninas. Âhn... Tem problema se eu passar a noite aqui no estacionamento? Tô enfiado nuns rolos lá na cidade e...

Enquanto os dois me arrastavam escada acima, Uli não conseguiu resistir e ‘discretamente’ deu uma apalpada no bumbum da Bárbara. Malandrão! O estalo do tapa no nariz dele ardeu até em mim!
- ÊPA! Nem nessa situação ‘ocê’ deixa a mão boba de lado, vagabundo?

Eles enfiaram meu corpo derretido, com roupa e tudo, embaixo do chuveiro e me deram um banho forçado. Ou os dois usaram até bucha de Bombril pra me lavar ou o monstro das minhas costas reagiu muito mal à água morna, porque aquele banho doeu pacas! Depois desci pro restaurante e devo ter comido um saco de arroz quase inteiro, porque o estômago pesou tanto que quase desmaiei debruçada na mesa.

Adentrei a noite nos braços de Morfeu e Kurt Cobain como manda meu costume: Palhetando minha velha e querida Schecter verde-oliva e com o headphone nos ouvidos, usando os esgares furiosos de Rob Tyner e seu MC5 como minha canção de ninar. Apesar dos contratempos de noites atrás, diria que foi uma segunda-feira vitoriosa, até meu Kurt deve ter duvidado que eu conseguisse transcendê-la, mesmo estando tão alquebrada!

My gang, a gente se vê amanhã!

Alexia, sua não tão confiável narradora.

* Escritor e designer gráfico. Contatos:
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