Campinas reverencia dois grandes mitos
As cidades, salvo exceções, têm seus próprios heróis. São
figuras representativas de seus ideais e tradições, cujas populações
reverenciam, geração após geração, por anos, décadas, séculos e vai por aí
afora. Alguns ganham projeção nacional. Outros projetam-se, até,
internacionalmente. Mas é na sua terra natal que são, de fato, reverenciados. Nela
ganham monumentos, seus nomes batizam ruas, praças, escolas e entidades (públicas
e particulares). Enfim, tornam-se símbolos de suas comunidades, que se orgulham
de sua existência. Com o tempo, suas vidas e seus feitos findam por se misturar
a lendas. Assim, essas pessoas acabam
por serem transformadas em mitos, numa espécie de semideuses. Adquirem a desejada
“imortalidade”, na medida (sempre relativa e precária) a que esta é acessível a
nós, humanos, seres perecíveis, passageiros e efêmeros.
Campinas, em seus 242 anos de existência (que serão
completados na próxima quinta-feira, 14 de julho de 2016), teve dezenas, quiçá
centenas ou mesmo milhares de filhos ilustres, que se projetaram tanto
localmente, quanto nacional e internacionalmente pelos seus feitos, nas mais
diversas áreas de atividades. Dois deles, todavia, se destacam no imaginário
popular e na reverência de seus concidadãos (sem demérito a nenhum outro menos
lembrado), ambos artistas, e de artes distintas, mas que se relacionam e se
complementam: música e poesia. No
primeiro caso está o maestro e compositor Antonio Carlos Gomes (o “Nhô Tonico”,
como gostava de ser chamado e como muitas vezes se assinava), que, se vivo
estivesse, estaria completando, neste 11 de julho de 2016, 180 anos de nascimento.
No segundo, insere-se quem ostentou por décadas o título, que tão bem lhe
coube, de “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, que de fato foi: Guilherme de Almeida.
A exemplo do seu mítico conterrâneo, o magnífico escritor
campineiro também nasceu no mesmo mês do maestro, e mais, no da cidade que
serviu de berço a ambos: julho. Foi em 24 de julho de 1890. Completará,
portanto, dentro de treze dias, 126 anos em que, pela primeira vez, viu a luz
do mundo, nesta vibrante metrópole, que um dia foi chamada de “terra das
andorinhas” e que hoje é, para mim, a “terra dos bentevis”, tantas que são, por
aqui, estas temperamentais aves. A diferença é que Guilherme de Almeida, ao
contrário do maestro, deixou este mundo também em um mês de julho (num dia 11,
de 1969) data em que “se encantou”, pois como costumava dizer o mineiro João
Guimarães Rosa, “o poeta não morre, fica encantado”. Coincidentemente, todavia,
seu “encantamento” deu-se no dia exato em que os campineiros celebravam mais um
aniversário de nascimento de Carlos Gomes. Grande coincidência!!!
Não trarei dados da vida e nem da obra destes dois mitos
campineiros, nestes meus canhestros comentários diários, por serem rigorosamente
redundantes e, portanto, dispensáveis. Afinal, há inúmeras biografias de ambos,
escritas por figuras intelectualmente
muito mais competentes e qualificadas do que eu. Além disso, suas realizações e
suas façanhas (pelo menos as principais) são de amplo conhecimento por parte de
boa parcela dos seus conterrâneos. Campinas dedica, anualmente, uma semana
inteira para cultuar a memória de Guilherme de Almeida (neste ano ela foi do
dia 4 ao dia 11, portanto hoje), sobretudo por parte deste templo do saber
literário, que é a Academia Campinense de Letras. Carlos Gomes, por sua vez,
vem sendo reverenciado, desde esta precisa data, com uma série de eventos promovidos
por várias instituições artísticas e culturais, o que, há tempos, já se tornou
tradição na cidade.
O escritor inglês do século XVIII, Thomas de Quincey,
afirmou, em certa ocasião: “Não existe o esquecimento total: as pegadas
impressas na alma são indestrutíveis”. Por isso, Carlos Gomes e Guilherme de
Almeida seguirão sendo reverenciados enquanto Campinas existir. Os “rastros” de
seu imenso talento são ostensivos demais para que sejam esquecidos pelos
campineiros de hoje e das gerações vindouras. Seus aniversários, assim como o
desta “jovem senhora” de 242 anos, são, também, em certa medida, o nosso.
Afinal, somos nós que damos vida a esta cidade. Somos a sua memória nesta geração.
Somos nós que asseguramos seu vigor, beleza e destino. Somos nós, o corpo, o
cérebro, a voz e a alma de Campinas. E estamos, pois, todos de parabéns por
mais esta etapa vitoriosa na sua, que igualmente é a nossa, já magnífica
trajetória.
Boa leitura!
O Editor.
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Palmas para essa dupla e a cidade de vocês: Campinas.
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