segunda-feira, 11 de julho de 2016

Campinas reverencia dois grandes mitos


As cidades, salvo exceções, têm seus próprios heróis. São figuras representativas de seus ideais e tradições, cujas populações reverenciam, geração após geração, por anos, décadas, séculos e vai por aí afora. Alguns ganham projeção nacional. Outros projetam-se, até, internacionalmente. Mas é na sua terra natal que são, de fato, reverenciados. Nela ganham monumentos, seus nomes batizam ruas, praças, escolas e entidades (públicas e particulares). Enfim, tornam-se símbolos de suas comunidades, que se orgulham de sua existência. Com o tempo, suas vidas e seus feitos findam por se misturar a lendas. Assim, essas pessoas        acabam por serem transformadas em mitos, numa espécie de semideuses. Adquirem a desejada “imortalidade”, na medida (sempre relativa e precária) a que esta é acessível a nós, humanos, seres perecíveis, passageiros e efêmeros.

Campinas, em seus 242 anos de existência (que serão completados na próxima quinta-feira, 14 de julho de 2016), teve dezenas, quiçá centenas ou mesmo milhares de filhos ilustres, que se projetaram tanto localmente, quanto nacional e internacionalmente pelos seus feitos, nas mais diversas áreas de atividades. Dois deles, todavia, se destacam no imaginário popular e na reverência de seus concidadãos (sem demérito a nenhum outro menos lembrado), ambos artistas, e de artes distintas, mas que se relacionam e se complementam:  música e poesia. No primeiro caso está o maestro e compositor Antonio Carlos Gomes (o “Nhô Tonico”, como gostava de ser chamado e como muitas vezes se assinava), que, se vivo estivesse, estaria completando, neste 11 de julho de 2016, 180 anos de nascimento. No segundo, insere-se quem ostentou por décadas o título, que tão bem lhe coube, de “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, que de fato foi: Guilherme de Almeida.

A exemplo do seu mítico conterrâneo, o magnífico escritor campineiro também nasceu no mesmo mês do maestro, e mais, no da cidade que serviu de berço a ambos: julho. Foi em 24 de julho de 1890. Completará, portanto, dentro de treze dias, 126 anos em que, pela primeira vez, viu a luz do mundo, nesta vibrante metrópole, que um dia foi chamada de “terra das andorinhas” e que hoje é, para mim, a “terra dos bentevis”, tantas que são, por aqui, estas temperamentais aves. A diferença é que Guilherme de Almeida, ao contrário do maestro, deixou este mundo também em um mês de julho (num dia 11, de 1969) data em que “se encantou”, pois como costumava dizer o mineiro João Guimarães Rosa, “o poeta não morre, fica encantado”. Coincidentemente, todavia, seu “encantamento” deu-se no dia exato em que os campineiros celebravam mais um aniversário de nascimento de Carlos Gomes. Grande coincidência!!!

Não trarei dados da vida e nem da obra destes dois mitos campineiros, nestes meus canhestros comentários diários, por serem rigorosamente redundantes e, portanto, dispensáveis. Afinal, há inúmeras biografias de ambos, escritas por figuras  intelectualmente muito mais competentes e qualificadas do que eu. Além disso, suas realizações e suas façanhas (pelo menos as principais) são de amplo conhecimento por parte de boa parcela dos seus conterrâneos. Campinas dedica, anualmente, uma semana inteira para cultuar a memória de Guilherme de Almeida (neste ano ela foi do dia 4 ao dia 11, portanto hoje), sobretudo por parte deste templo do saber literário, que é a Academia Campinense de Letras. Carlos Gomes, por sua vez, vem sendo reverenciado, desde esta precisa data, com uma série de eventos promovidos por várias instituições artísticas e culturais, o que, há tempos, já se tornou tradição na cidade.

O escritor inglês do século XVIII, Thomas de Quincey, afirmou, em certa ocasião: “Não existe o esquecimento total: as pegadas impressas na alma são indestrutíveis”. Por isso, Carlos Gomes e Guilherme de Almeida seguirão sendo reverenciados enquanto Campinas existir. Os “rastros” de seu imenso talento são ostensivos demais para que sejam esquecidos pelos campineiros de hoje e das gerações vindouras. Seus aniversários, assim como o desta “jovem senhora” de 242 anos, são, também, em certa medida, o nosso. Afinal, somos nós que damos vida a esta cidade. Somos a sua memória nesta geração. Somos nós que asseguramos seu vigor, beleza e destino. Somos nós, o corpo, o cérebro, a voz e a alma de Campinas. E estamos, pois, todos de parabéns por mais esta etapa vitoriosa na sua, que igualmente é a nossa, já magnífica trajetória.

Boa leitura!

O Editor.

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