terça-feira, 7 de junho de 2011







Os caminhos da distância

* Por Talis Andrade

Perdidos sons
chegam de longe
o canto de um pássaro
o canto de uma flauta
o canto de um sino
sons conduzidos pelo vento
o vento soprado por um querubim

As flores nascem pelos campos
e as árvores estão carregadas de frutos
O perfume das flores
lembra o corpo da amada
o olor dos frutos
os beijos ensolarados
os beijos roubados
com gosto de saudade

Amor de perdição a lembrança
A fêmea tangida pela brisa
que anuncia o verão
corria pelos campos
revestida de alegria
os pés descalços
os cabelos soltos
na viração da tarde

A quadra do tempo
rege a vida dos animais
A mulher guarda no cio
antigos instintos selvagens

Mojada de amor
ornada de encantos
a amada corria pelos campos
os cabelos soltos ao vento
douradas crinas de um unicórnio
fluindo livre

Os cabelos soltos ao vento
a fêmea corria pelos campos
deixando os eflúvios da terra
lhe impregnassem o corpo
lhe penetrassem a alma
A fêmea entende a mãe-terra
O corpo da mãe-terra
espelha o corpo de todas as fêmeas
De secreta fenda
o veio donde jorra
a fonte da vida
Terra úmida e ferida
Terra prenha
enverdecida
Terra parida

A fêmea fareja
a mudança do tempo
e veste a roupagem
de cada estação
A passagem do tempo
tem gosto de despedida

Sentado no vão da porta
os ouvidos atentos
escuto o mover
das asas de um beija-flor
escuto os passos da minha amada
pelos caminhos
da distância


* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).

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