Louca obsessão
* Por André Falavigna
Vocês vão achar que é obsessão minha, e é mesmo. Ou quase. Mas desde que eu comecei a expor, neste espaço, uma série de objeções ao modo como tratamos o futebol, eu não vi mais motivo para falar de outra coisa. Alguém poderia alegar que essa atitude não é mais do que uma transgressão aos motivos mesmos que levaram à criação do “Literário”. Esse alguém seria brutalmente ofendido por mim. E olha que eu ofendo bem. Sou um perigo ofendendo. E não duvide de minhas qualidades quando o assunto é impropério: já ofendi gente melhor por muito menos que isso.
Depois de ofender o rato que levantasse a referida objeção, eu diria à platéia (ao rato eu não diria mais nada, nunca mais) que as elucubrações acerca do esporte, e do futebol em especial, foram e continuam sendo uma das mais férteis fontes de exercício literário. Eu não vou nem citar uma lista de exemplos, porque depois outros ratos diriam que eu estou me comparando a este ou àquele autor consagrado (como se fosse possível comparar uma coisa a ela mesma, e não a outra) e aí eu teria que responder que estou mesmo, que se não fosse para isso, para atingir e superar os melhores exemplos disponíveis, era melhor não só não escrever como não fazer merda nenhuma. Naturalmente, eu faria isso em termos tão absurdamente baixos (mesmo para os meus padrões de baixeza, até hoje insuperáveis e insuperados) que o pessoal do Comunique-se iria se ver obrigado a me desobrigar de colaborar com o Site. Como eu gosto muitíssimo de colaborar com o Site, não vou citar a lista. Quem quiser a lista, que me procure pessoalmente. Leve alguma coisa que se possa beber. E algum embutido. Talvez algum gorgonzola. Parmesão certamente. Aí eu dou a lista e enriqueço o espírito do colega. Fiquem à vontade.
Nesse meio tempo, vou prosseguir. Não importa que ninguém dê muita bola para o que eu digo. Nesses tempos, isso chega até a ser meritório. Esse é outro erro do qual os ratos lançam mão como se estivessem produzindo grande material. Criticam uma idéia contestando a existência do emissor. “Fulano Quem?”. E interessa saber? Será que não é mais aceitável que um sujeito avalie o que leu e reflita a respeito do que leu sem dar vazão ao mais bocó temor reverencial? É possível ter-se mais respeito por um determinado autor e, assim, dedicar-se mais à reflexão quanto ao que ele diz do que quanto ao que dizem os outros. Mas não é possível fazer desse respeito submissão, nem deixar de compreender que cada crítica que se faz a um autor de que gostamos é, de certo modo, um complemento do que ele diz. A crítica poderá confirmá-lo ou negá-lo, mas não deixará de o complementar, positiva ou negativamente, nem que tenha sido formulada por algum pensador de esquerda (boçal o quanto seja ele).
Na verdade, o assunto é inesgotável. Eu já disse isso antes, mas vou explicitar um pouco mais a idéia mediante a apresentação de um exemplo. Galvão Bueno é o exemplo. A turma pega no pé dele, eu mesmo tenho minhas queixas e não são poucas. Uma vez, acho que no Brasileiro de 98, ele me fez dar pulos na cadeira com uma história assim: chegávamos às rodadas finais da primeira fase e, para se avaliar as possibilidades de classificação ou rebaixamento de cada time, era necessário um certo esforço de cálculo. Costuma-se dizer que este ou aquele time, cujas chances de classificação ou de fuga do descenso são mais remotas, têm “chances matemáticas”. Pois o homem narrou umas três partidas (por sinal muito bem narradas) naquele período e, ao longo de cada uma das transmissões, fez observações acerca das tais “chances matemáticas”. As observações consistiam, basicamente, em ironias a quem chamava as tais chances de “matemáticas”; elas na realidade eram “aritméticas”. Como boa parte desse tipo de cálculo gira em torno de somas e subtrações, não há dúvidas de que as chances podem ser chamadas de aritméticas mesmo. Poderiam até ser chamadas de algébricas, já que é possível obter resultados corretos para esses cálculos por generalizações, mediante a aplicação de símbolos. Mas não há dúvida de que a aritmética é uma parte da matemática generalizada na álgebra, que por sua vez é uma parte da matemática elementar que se presta a generalizar a aritmética. Como determinada chance pode ser classificada como aritmética ou algébrica sem ser matemática é algo que não se explica. Que um homem na posição de Galvão Bueno, dotado dos melhores recursos naturais e dono de toda a técnica necessária para conquistar e manter tal posição, consiga emitir uma coisa dessas sem se tocar do absurdo e sem que ninguém o alerte prontamente, isso é coisa de hospício. Com isso todos concordam, porque estamos falando de Galvão Bueno e ele é o saco de pancadas predileto da crônica esportiva chique brasileira. Muito bem. Eu quero é ver fazerem isso com os comentaristas “ponderados” e “estudiosos”, cujos prejuízos às conversas de bar sobre futebol são infinitamente mais graves do que os provocados por um narrador meio vaidoso demais, meio precavido de menos.
Vejam Paulo César Vasconcelos. Nada contra, pessoalmente. Ele é até muito simpático. Mas faz já um bom número de jogos que ele me sai com a seguinte enormidade: fulano comete muitas vezes este ou aquele erro durante o jogo porque os comete no treino e ninguém o corrige. Ele não está falando de cruzamentos errados que um treinador rigoroso e diligente pode evitar submetendo seus jogadores a treinos específicos. Ele está falando das faltas, das infrações que os jogadores cometem na disputa de bola. Ele acha que o sujeito faz a falta no jogo porque no treino não dão falta para um lance similar, e acha que a prova disso é que quase todo mundo que faz a falta reclama com a arbitragem.
Esse é o tipo de comentário que se sustenta única e exclusivamente na necessidade do camarada de se mostrar ao público como “especialista”, “técnico” ou a bobagem pedante que o valha. No último jogo entre Palmeiras e Fortaleza, ele disse isso de Marcinho Guerreiro, que por sinal foi corretamente expulso. Eu nunca vi Paulo César Vasconcelos num treino do Palmeiras, e olha que eu vou a uns 20 por ano. Todos os últimos treinadores que passaram pelo Parque Antarctica marcam as faltas, durante os coletivos, com mais sensatez do que a maioria dos nossos árbitros. E isso só levando em conta os que treinaram Marcinho Guerreiro. Os precedentes também não eram esses bobões que pinta o dileto comentarista. E isso só falando de treinadores e do Palmeiras. Mas o mesmo vale para preparadores físicos que apitam treinos e, pelo menos, para o Corinthians. Já vi algumas dezenas de treinos do Corinthians ao longo da vida, e também nunca vi Paulo César Vasconcelos em nenhum deles. Mas talvez ele tenha visto treinos de outros times e diga o que diz por analogia. Eu duvido. Duvido porque sei porque tais e quais jogadores fazem tantas faltas e porque ele inventou essa outro dia, como quem desvenda um grande mistério. Os motivos para o excesso de faltas são muitos e claros, e nenhum conhecimento técnico mais sofisticado é útil ou necessário na verificação deles.
O primeiro motivo é que os árbitros são ruins e marcam mais faltas do que deveriam, e a imprensa segue o mesmo critério não-me-toques. Assim, quando o árbitro deixa de dar faltas que não ocorreram, essas se somam, no imaginário do crítico, àquelas que ele deu corretamente e às que deu mas que não deveria ter dado, a despeito de o comentarista nefelibata achar que deveria. O sujeito sai de campo com as faltas que fez, com as que não fez e com as que o comentarista gostaria que ele tivesse feito.
O segundo motivo é que os técnicos mandam bater, não necessariamente para quebrar, mas para parar a jogada. E, como eles não são tão burrinhos como os imagina Paulo César, pedem isso mais aos defensores do que aos homens que podem fazer gols para os times que treinam. Como é mais desejável que se interrompa a jogada no nascedouro, esse tipo de falta ocorre mais no meio de campo. Como os volantes estão lá, são sempre os Marcinhos Guerreiros da vida que fazem a maior parte do trabalho sujo. Qualquer Arquibaldo sabe disso, porque ele também aprova boa parte das faltas. Aprova porque quer que o time dele ganhe e porque não é um idiota. Por isso que ele adora o jogador que sabe fugir da marcação e das faltas. Por isso que ele se incomoda tanto quando a falta é feita depois que a marcação foi vencida, seja ela cometida pelo ou contra o seu time. Porque ela então deixa de ser tática e vira coisa de grosso.
Quem tem que administrar esse tipo de recurso é o árbitro, não o treinador. Se os árbitros brasileiros são uns bananas, é obrigação profissional dos treinadores aproveitarem-se dessa condição vegetal dos sujeitos. Mais do que isso: cansei de ver a imprensa justificar seus prognósticos frustrados colocando culpa indevida nas costas da arbitragem. É o recurso número um de nossa crônica. Daí decorre a reclamação automática de nossos jogadores por cada marcação do árbitro: há sempre a esperança de que, em alguma mesa-redonda, alguém reclame também.
Para fazer girar essa ciranda louca nossos cronistas utilizam-se, dentre outras coisas, do produto semântico coletivo e pessoal resultante de formulações super-hiper técnicas e fofamente ponderadas ao longo de várias temporadas consecutivas. Quase todos os comentários que fazem consistem, num ou noutro nível, nessa empulhação pseudo-intelectual.
Só que não se tratam de comentários de verdade, porque se baseiam na necessidade de aparentar certo vislumbre, não na de se tecer observações acerca do que se viu. Eu tenho grande necessidade de ouvir pessoas que estão dispostas a falar do que viram e do que sabem, e não a falarem para os outros verem como elas são “profissionais especializadas”. Isso pode até ser obsessão. Ou quase. Mas não vejo como fugir do assunto.
(*) André Falavigna é escritor, tendo publicado dezenas de contos e crônicas (sobretudo futebolísticas) na Web. Possui um blog pessoal no qual lança, periodicamente, capítulos de um romance. Colabora com diversas publicações eletrônicas.
* Por André Falavigna
Vocês vão achar que é obsessão minha, e é mesmo. Ou quase. Mas desde que eu comecei a expor, neste espaço, uma série de objeções ao modo como tratamos o futebol, eu não vi mais motivo para falar de outra coisa. Alguém poderia alegar que essa atitude não é mais do que uma transgressão aos motivos mesmos que levaram à criação do “Literário”. Esse alguém seria brutalmente ofendido por mim. E olha que eu ofendo bem. Sou um perigo ofendendo. E não duvide de minhas qualidades quando o assunto é impropério: já ofendi gente melhor por muito menos que isso.
Depois de ofender o rato que levantasse a referida objeção, eu diria à platéia (ao rato eu não diria mais nada, nunca mais) que as elucubrações acerca do esporte, e do futebol em especial, foram e continuam sendo uma das mais férteis fontes de exercício literário. Eu não vou nem citar uma lista de exemplos, porque depois outros ratos diriam que eu estou me comparando a este ou àquele autor consagrado (como se fosse possível comparar uma coisa a ela mesma, e não a outra) e aí eu teria que responder que estou mesmo, que se não fosse para isso, para atingir e superar os melhores exemplos disponíveis, era melhor não só não escrever como não fazer merda nenhuma. Naturalmente, eu faria isso em termos tão absurdamente baixos (mesmo para os meus padrões de baixeza, até hoje insuperáveis e insuperados) que o pessoal do Comunique-se iria se ver obrigado a me desobrigar de colaborar com o Site. Como eu gosto muitíssimo de colaborar com o Site, não vou citar a lista. Quem quiser a lista, que me procure pessoalmente. Leve alguma coisa que se possa beber. E algum embutido. Talvez algum gorgonzola. Parmesão certamente. Aí eu dou a lista e enriqueço o espírito do colega. Fiquem à vontade.
Nesse meio tempo, vou prosseguir. Não importa que ninguém dê muita bola para o que eu digo. Nesses tempos, isso chega até a ser meritório. Esse é outro erro do qual os ratos lançam mão como se estivessem produzindo grande material. Criticam uma idéia contestando a existência do emissor. “Fulano Quem?”. E interessa saber? Será que não é mais aceitável que um sujeito avalie o que leu e reflita a respeito do que leu sem dar vazão ao mais bocó temor reverencial? É possível ter-se mais respeito por um determinado autor e, assim, dedicar-se mais à reflexão quanto ao que ele diz do que quanto ao que dizem os outros. Mas não é possível fazer desse respeito submissão, nem deixar de compreender que cada crítica que se faz a um autor de que gostamos é, de certo modo, um complemento do que ele diz. A crítica poderá confirmá-lo ou negá-lo, mas não deixará de o complementar, positiva ou negativamente, nem que tenha sido formulada por algum pensador de esquerda (boçal o quanto seja ele).
Na verdade, o assunto é inesgotável. Eu já disse isso antes, mas vou explicitar um pouco mais a idéia mediante a apresentação de um exemplo. Galvão Bueno é o exemplo. A turma pega no pé dele, eu mesmo tenho minhas queixas e não são poucas. Uma vez, acho que no Brasileiro de 98, ele me fez dar pulos na cadeira com uma história assim: chegávamos às rodadas finais da primeira fase e, para se avaliar as possibilidades de classificação ou rebaixamento de cada time, era necessário um certo esforço de cálculo. Costuma-se dizer que este ou aquele time, cujas chances de classificação ou de fuga do descenso são mais remotas, têm “chances matemáticas”. Pois o homem narrou umas três partidas (por sinal muito bem narradas) naquele período e, ao longo de cada uma das transmissões, fez observações acerca das tais “chances matemáticas”. As observações consistiam, basicamente, em ironias a quem chamava as tais chances de “matemáticas”; elas na realidade eram “aritméticas”. Como boa parte desse tipo de cálculo gira em torno de somas e subtrações, não há dúvidas de que as chances podem ser chamadas de aritméticas mesmo. Poderiam até ser chamadas de algébricas, já que é possível obter resultados corretos para esses cálculos por generalizações, mediante a aplicação de símbolos. Mas não há dúvida de que a aritmética é uma parte da matemática generalizada na álgebra, que por sua vez é uma parte da matemática elementar que se presta a generalizar a aritmética. Como determinada chance pode ser classificada como aritmética ou algébrica sem ser matemática é algo que não se explica. Que um homem na posição de Galvão Bueno, dotado dos melhores recursos naturais e dono de toda a técnica necessária para conquistar e manter tal posição, consiga emitir uma coisa dessas sem se tocar do absurdo e sem que ninguém o alerte prontamente, isso é coisa de hospício. Com isso todos concordam, porque estamos falando de Galvão Bueno e ele é o saco de pancadas predileto da crônica esportiva chique brasileira. Muito bem. Eu quero é ver fazerem isso com os comentaristas “ponderados” e “estudiosos”, cujos prejuízos às conversas de bar sobre futebol são infinitamente mais graves do que os provocados por um narrador meio vaidoso demais, meio precavido de menos.
Vejam Paulo César Vasconcelos. Nada contra, pessoalmente. Ele é até muito simpático. Mas faz já um bom número de jogos que ele me sai com a seguinte enormidade: fulano comete muitas vezes este ou aquele erro durante o jogo porque os comete no treino e ninguém o corrige. Ele não está falando de cruzamentos errados que um treinador rigoroso e diligente pode evitar submetendo seus jogadores a treinos específicos. Ele está falando das faltas, das infrações que os jogadores cometem na disputa de bola. Ele acha que o sujeito faz a falta no jogo porque no treino não dão falta para um lance similar, e acha que a prova disso é que quase todo mundo que faz a falta reclama com a arbitragem.
Esse é o tipo de comentário que se sustenta única e exclusivamente na necessidade do camarada de se mostrar ao público como “especialista”, “técnico” ou a bobagem pedante que o valha. No último jogo entre Palmeiras e Fortaleza, ele disse isso de Marcinho Guerreiro, que por sinal foi corretamente expulso. Eu nunca vi Paulo César Vasconcelos num treino do Palmeiras, e olha que eu vou a uns 20 por ano. Todos os últimos treinadores que passaram pelo Parque Antarctica marcam as faltas, durante os coletivos, com mais sensatez do que a maioria dos nossos árbitros. E isso só levando em conta os que treinaram Marcinho Guerreiro. Os precedentes também não eram esses bobões que pinta o dileto comentarista. E isso só falando de treinadores e do Palmeiras. Mas o mesmo vale para preparadores físicos que apitam treinos e, pelo menos, para o Corinthians. Já vi algumas dezenas de treinos do Corinthians ao longo da vida, e também nunca vi Paulo César Vasconcelos em nenhum deles. Mas talvez ele tenha visto treinos de outros times e diga o que diz por analogia. Eu duvido. Duvido porque sei porque tais e quais jogadores fazem tantas faltas e porque ele inventou essa outro dia, como quem desvenda um grande mistério. Os motivos para o excesso de faltas são muitos e claros, e nenhum conhecimento técnico mais sofisticado é útil ou necessário na verificação deles.
O primeiro motivo é que os árbitros são ruins e marcam mais faltas do que deveriam, e a imprensa segue o mesmo critério não-me-toques. Assim, quando o árbitro deixa de dar faltas que não ocorreram, essas se somam, no imaginário do crítico, àquelas que ele deu corretamente e às que deu mas que não deveria ter dado, a despeito de o comentarista nefelibata achar que deveria. O sujeito sai de campo com as faltas que fez, com as que não fez e com as que o comentarista gostaria que ele tivesse feito.
O segundo motivo é que os técnicos mandam bater, não necessariamente para quebrar, mas para parar a jogada. E, como eles não são tão burrinhos como os imagina Paulo César, pedem isso mais aos defensores do que aos homens que podem fazer gols para os times que treinam. Como é mais desejável que se interrompa a jogada no nascedouro, esse tipo de falta ocorre mais no meio de campo. Como os volantes estão lá, são sempre os Marcinhos Guerreiros da vida que fazem a maior parte do trabalho sujo. Qualquer Arquibaldo sabe disso, porque ele também aprova boa parte das faltas. Aprova porque quer que o time dele ganhe e porque não é um idiota. Por isso que ele adora o jogador que sabe fugir da marcação e das faltas. Por isso que ele se incomoda tanto quando a falta é feita depois que a marcação foi vencida, seja ela cometida pelo ou contra o seu time. Porque ela então deixa de ser tática e vira coisa de grosso.
Quem tem que administrar esse tipo de recurso é o árbitro, não o treinador. Se os árbitros brasileiros são uns bananas, é obrigação profissional dos treinadores aproveitarem-se dessa condição vegetal dos sujeitos. Mais do que isso: cansei de ver a imprensa justificar seus prognósticos frustrados colocando culpa indevida nas costas da arbitragem. É o recurso número um de nossa crônica. Daí decorre a reclamação automática de nossos jogadores por cada marcação do árbitro: há sempre a esperança de que, em alguma mesa-redonda, alguém reclame também.
Para fazer girar essa ciranda louca nossos cronistas utilizam-se, dentre outras coisas, do produto semântico coletivo e pessoal resultante de formulações super-hiper técnicas e fofamente ponderadas ao longo de várias temporadas consecutivas. Quase todos os comentários que fazem consistem, num ou noutro nível, nessa empulhação pseudo-intelectual.
Só que não se tratam de comentários de verdade, porque se baseiam na necessidade de aparentar certo vislumbre, não na de se tecer observações acerca do que se viu. Eu tenho grande necessidade de ouvir pessoas que estão dispostas a falar do que viram e do que sabem, e não a falarem para os outros verem como elas são “profissionais especializadas”. Isso pode até ser obsessão. Ou quase. Mas não vejo como fugir do assunto.
(*) André Falavigna é escritor, tendo publicado dezenas de contos e crônicas (sobretudo futebolísticas) na Web. Possui um blog pessoal no qual lança, periodicamente, capítulos de um romance. Colabora com diversas publicações eletrônicas.
Li durante um tempo as crônicas de Falavigna no Comunique-se e permaneci caladinha. Uma vez, corajosa, depois de ler muitos palavrões, também num texto palmeirense, eu escrevi alguma coisa, falando o que achei. Surpresa da série: ele foi muito cortês. Pena que tenha nos deixado, mas quem sabe um dia volta?
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