Sobrevivendo na memória
O escritor produz sua obra de olho na posteridade e na eternidade. Não se dá conta, todavia, da sua efemeridade e da possibilidade do esquecimento. Quem fez essa constatação, aliás,não fui eu (embora a endosse), mas foi Jorge Luís Borges. Só não grafei essa declaração entre aspas porque não foram estas, exatamente, as palavras de que ele se valeu. O teor, todavia, foi este. Por isso, fico sumamente feliz quando algum escritor é lembrado tempos depois da morte e, mais, é alvo de homenagens.
Foi o que aconteceu nos últimos dias. Três dos que se consagraram pela força do talento, pela lucidez e criatividade das suas idéias – dois deles ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura e, o terceiro, um dos tantos injustiçados pelos que atribuem essa premiação, nem sempre com critério ou até mesmo lógica – foram homenageados, de formas variadas, em vários lugares do mundo.
Em Portugal, as homenagens destinaram-se ao polêmico, e genial, José Saramago, ao completar-se o primeiro aniversário da sua morte. As suas cinzas, por exemplo (e claro que ele foi cremado há um ano) foram enterradas ao pé de uma oliveira, procedente de Azinhaga, sua cidade natal, em frente à futura sede da fundação que levará seu nome.
Todavia, para um escritor, não existe homenagem mais pertinente e mais lógica do que lançamento de livros, ou escritos por ele e publicados postumamente, ou republicações, ou de outros autores tendo-o por personagem central. Este último caso foi o que aconteceu com Saramago. Há três novas publicações no mercado editorial português tendo-o por foco.
Um desses livros (o mais extenso e bem elaborado) é “Palavras para José Saramago”. Trata-se de coletânea de textos (são mais de uma centena) escritos por jornalistas e críticos de todo o mundo, nas horas e nos dias seguintes ao falecimento do único autor de língua portuguesa a conquistar o Nobel.
O segundo lançamento é “O silêncio da água”, destinado ao público infantil (cada vez mais consumidor de livros, inclusive no Brasil, como atestam pesquisas). A obra reúne, mas através de ilustrações, fragmento de “As pequenas memórias”, que o homenageado escreveu em 2006, no qual traz à baila fatos e recordações da infância e da adolescência. Finalmente, o terceiro livro dessa leva é “A última entrevista de José Saramago”, de José Rodrigues dos Santos, cujo conteúdo é óbvio, claramente explicitado no título.
O segundo ganhador do Nobel a ser homenageado, Ernest Hemmingway, (ganhou o prêmio em 1954), uma espécie de “monstro sagrado” das letras, terá homenagem, pelo menos temporalmente, mais extensa, que deverá se estender por anos. Explico. Após nove anos de intensas pesquisas, foi anunciada a próxima publicação da primeira parte das cartas do autor de “O velho e o mar”. Como a coleção completa terá 18 volumes, levará muito tempo para que esta homenagem se complete e se esgote.
Caramba, cá para nós, que volumosa correspondência Hemmingway manteve! Poucos escritores (e também poucos não escritores) escreveram tantas cartas a amigos, admiradores, conhecidos etc. e até a desafetos, como ele o fez. Sua correspondência completa será, portanto, bem vinda para conhecermos um pouco mais a seu respeito e acerca do que pensava.
Todavia, eu não poderia escrever sobre homenagens sem mencionar a que foi prestada a um gênio que considero meu guru (embora, claro, não o tenha conhecido pessoalmente), que teve, tem e certamente terá profunda influência em minha mambembe forma de fazer literatura. Quem me acompanha há anos, como meu leitor, sabe a quem me refiro. É a ele, sim, a Jorge Luís Borges.
Escritores argentinos, de todas as tendências e de todas as idades, homenagearam, em 14 de junho de 2011, o autor de “O Aleph”, o gênio das letras portenhas (e um dos clássicos da literatura universal), na data em que se completavam vinte e cinco anos, um quarto de século, da sua morte, ocorrida em Genebra.
Leio, a esse propósito, num despacho da agência de notícias France Press, que nesse mesmo dia, a viúva do escritor, Maria Kodama, inaugurou, em Veneza, “um espaço em sua memória na forma de um labirinto, uma das obsessões da vasta obra do poeta, narrador e ensaísta”.
Menciono três citações a esse gênio, das inúmeras (foram centenas) feitas nesse dia de lembranças e de saudades. Ricardo Piglia disse, por exemplo: “Deixou tanto, mas tanto, que seu legado ainda está se acomodando entre nós”. Para Ian McEwan, “há algo de libertador na escrita de Borges, é o puro prazer do jogo da abstração literária”.
Finalmente, Júlio Cortázar, outro expoente das letras argentinas (embora tenha vivido parte considerável da vida em Paris), afirmou que “a grande lição de Borges não foi a lição temática, nem de conteúdo, nem de mecânicas. Foi uma lição de escrita. A atitude de um homem que, diante de cada frase, pensou cuidadosamente não que adjetivo colocar, mas que adjetivo tirar”. Preciosa lição para nós, escritores!
Diante das pertinentes, justíssimas, mas raras homenagens rendidas a esses três geniais escritores, nada tenho a acrescentar. Resta-me, somente, render-me às evidências e reverenciar sua genialidade. E, sobretudo, buscar, o tanto que for possível, fazer o maior proveito que conseguir das lições que esses gênios nos deixaram.
Boa leitura.
O Editor.
O escritor produz sua obra de olho na posteridade e na eternidade. Não se dá conta, todavia, da sua efemeridade e da possibilidade do esquecimento. Quem fez essa constatação, aliás,não fui eu (embora a endosse), mas foi Jorge Luís Borges. Só não grafei essa declaração entre aspas porque não foram estas, exatamente, as palavras de que ele se valeu. O teor, todavia, foi este. Por isso, fico sumamente feliz quando algum escritor é lembrado tempos depois da morte e, mais, é alvo de homenagens.
Foi o que aconteceu nos últimos dias. Três dos que se consagraram pela força do talento, pela lucidez e criatividade das suas idéias – dois deles ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura e, o terceiro, um dos tantos injustiçados pelos que atribuem essa premiação, nem sempre com critério ou até mesmo lógica – foram homenageados, de formas variadas, em vários lugares do mundo.
Em Portugal, as homenagens destinaram-se ao polêmico, e genial, José Saramago, ao completar-se o primeiro aniversário da sua morte. As suas cinzas, por exemplo (e claro que ele foi cremado há um ano) foram enterradas ao pé de uma oliveira, procedente de Azinhaga, sua cidade natal, em frente à futura sede da fundação que levará seu nome.
Todavia, para um escritor, não existe homenagem mais pertinente e mais lógica do que lançamento de livros, ou escritos por ele e publicados postumamente, ou republicações, ou de outros autores tendo-o por personagem central. Este último caso foi o que aconteceu com Saramago. Há três novas publicações no mercado editorial português tendo-o por foco.
Um desses livros (o mais extenso e bem elaborado) é “Palavras para José Saramago”. Trata-se de coletânea de textos (são mais de uma centena) escritos por jornalistas e críticos de todo o mundo, nas horas e nos dias seguintes ao falecimento do único autor de língua portuguesa a conquistar o Nobel.
O segundo lançamento é “O silêncio da água”, destinado ao público infantil (cada vez mais consumidor de livros, inclusive no Brasil, como atestam pesquisas). A obra reúne, mas através de ilustrações, fragmento de “As pequenas memórias”, que o homenageado escreveu em 2006, no qual traz à baila fatos e recordações da infância e da adolescência. Finalmente, o terceiro livro dessa leva é “A última entrevista de José Saramago”, de José Rodrigues dos Santos, cujo conteúdo é óbvio, claramente explicitado no título.
O segundo ganhador do Nobel a ser homenageado, Ernest Hemmingway, (ganhou o prêmio em 1954), uma espécie de “monstro sagrado” das letras, terá homenagem, pelo menos temporalmente, mais extensa, que deverá se estender por anos. Explico. Após nove anos de intensas pesquisas, foi anunciada a próxima publicação da primeira parte das cartas do autor de “O velho e o mar”. Como a coleção completa terá 18 volumes, levará muito tempo para que esta homenagem se complete e se esgote.
Caramba, cá para nós, que volumosa correspondência Hemmingway manteve! Poucos escritores (e também poucos não escritores) escreveram tantas cartas a amigos, admiradores, conhecidos etc. e até a desafetos, como ele o fez. Sua correspondência completa será, portanto, bem vinda para conhecermos um pouco mais a seu respeito e acerca do que pensava.
Todavia, eu não poderia escrever sobre homenagens sem mencionar a que foi prestada a um gênio que considero meu guru (embora, claro, não o tenha conhecido pessoalmente), que teve, tem e certamente terá profunda influência em minha mambembe forma de fazer literatura. Quem me acompanha há anos, como meu leitor, sabe a quem me refiro. É a ele, sim, a Jorge Luís Borges.
Escritores argentinos, de todas as tendências e de todas as idades, homenagearam, em 14 de junho de 2011, o autor de “O Aleph”, o gênio das letras portenhas (e um dos clássicos da literatura universal), na data em que se completavam vinte e cinco anos, um quarto de século, da sua morte, ocorrida em Genebra.
Leio, a esse propósito, num despacho da agência de notícias France Press, que nesse mesmo dia, a viúva do escritor, Maria Kodama, inaugurou, em Veneza, “um espaço em sua memória na forma de um labirinto, uma das obsessões da vasta obra do poeta, narrador e ensaísta”.
Menciono três citações a esse gênio, das inúmeras (foram centenas) feitas nesse dia de lembranças e de saudades. Ricardo Piglia disse, por exemplo: “Deixou tanto, mas tanto, que seu legado ainda está se acomodando entre nós”. Para Ian McEwan, “há algo de libertador na escrita de Borges, é o puro prazer do jogo da abstração literária”.
Finalmente, Júlio Cortázar, outro expoente das letras argentinas (embora tenha vivido parte considerável da vida em Paris), afirmou que “a grande lição de Borges não foi a lição temática, nem de conteúdo, nem de mecânicas. Foi uma lição de escrita. A atitude de um homem que, diante de cada frase, pensou cuidadosamente não que adjetivo colocar, mas que adjetivo tirar”. Preciosa lição para nós, escritores!
Diante das pertinentes, justíssimas, mas raras homenagens rendidas a esses três geniais escritores, nada tenho a acrescentar. Resta-me, somente, render-me às evidências e reverenciar sua genialidade. E, sobretudo, buscar, o tanto que for possível, fazer o maior proveito que conseguir das lições que esses gênios nos deixaram.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Admirar é pouco. Também me rendo a inteligência e talento.
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