terça-feira, 14 de junho de 2011



O poeta soldado


* Por Arita Damasceno Pettená

Quando, em julho de 1968, o Clube dos Poetas, em seu primeiro ano de existência, convidava Guilherme para que fosse alvo das homenagens de sua terra, mal poderia imaginar o Príncipe que dela já estivesse se despedindo, tais as manifestações de carinho e de ternura haveria de receber de “Sua Alteza”, a “Princesa D’Oeste”. E num jantar memorável, que se realizou a 20 de dezembro de 1968, na cabana do Círculo Militar, sob a presidência de Pettená, Guilherme, em sua Elegia a Campinas, repetia de início a mensagem de sua entrada na Academia Brasileira de Letras: “O Príncipe não é o principal. O principal é haver, entre as muitas terras do utilitário mundo de hoje, uma terra que ainda sonha”. E agora acrescentava: “Ora, essa terra útil que ainda sonha porque acredita nos poetas, essa terra, neste instante, é esta nossa, bem nossa, sempre nossa, cada vez mais nossa Campinas”. E, a certa altura, conclama emocionado: “Campinas, amorosa amada minha, de vós trazendo a luz do meu primeiro dia,/ o amor dos meus e o amor aos meus,/ eu deixei de ser “eu” para ser “Nós”.
Seis meses depois, num 11 de julho, que marcava nascimento de Carlos Gomes, morria Guilherme. E São Paulo inteirinha chorou o seu poeta soldado. E o Brasil todo espalhava pelos jornais, do mais humilde ao mais conceituado, a vida e a obra de tudo aquilo que ficara inédito do grande poeta paulista. Dele falaram grandes críticos. Poetas irmãos. Os amigos intelectuais. E os suplementos literários do Estadão, em edições quase que sucessivas, trouxeram a público muito daquilo que nos era desconhecido. Muito da sua perícia até então pouco divulgada pela imprensa. É que “Guilherme de Almeida é um poeta paulista, brasileiro e universal. É por sua universalidade que é entendido e compreendido em sua poesia onde quer que haja almas sensíveis à beleza”. Esta a afirmação de Athaíde, então presidente da Academia Brasileira de Letras, por ocasião da entrega de um medalhão de bronze, esculpido com a efígie do poeta, quando do centenário de “Nós”.(...)
Mais de 40 anos passados de sua morte, o poeta soldado de 32 ainda vive em nós, os arautos da sua poesia. E haveremos de levar a todos a mensagem de seus versos, exaltando ora a “A Bandeira que é o nosso espelho,/ Bandeira que é a nossa pista,/ que traz no topo vermelho,/ o coração do paulista”. Ora, dirigindo-se aos voluntários campineiros mortos em combate no grandioso mausoléu, diante do Cemitério da Saudade: “Não é túmulo! É berço! É sementeira/ De ideal; baliza do futuro; pista,/ Rastro de heróis na terra campineira./ Sobre eles, cor a cor, lista por lista,/ Eternizou seu voo essa Bandeira,/ Petrificou-se o pavilhão paulista./ Bandeirantes, por vós, nesta jazida./ Velam as pedras, que esta morte é vida”.

* Arita Damasceno Pettená é membro da Academia Campinense de Letras e da Academia Campineira de Letras e Artes

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