quarta-feira, 22 de junho de 2011







Entrelinhas

* Por Sayonara Lino

Hoje estava pensando a respeito do que poderia escrever. Desenvolver um texto, mesmo coeso, nem sempre é fácil. Parei para ler meus textos anteriores, analisei, notei um certo amadurecimento, o começo foi bem estranho. É tarefa árdua, essa.
O mais difícil é tentar agradar. Alguns não entendem muito bem, outros consideram amargas as palavras, e há quem observe leveza em cada frase. É claro que tudo isso depende da interpretação, do estado de espírito de quem lê.
Alguns instantes atrás eu estava comentando com um amigo que é difícil ler nas entrelinhas. Ele, com seu tom espontâneo, devolveu: “Gata, as pessoas às vezes não conseguem ler nem nas linhas”. Pois é, amigo, isso acontece.
Tenho plena convicção que escrevo com muita, mas muita sinceridade. E para o bom observador, sempre haverá esperança em tudo o que escrevo, sempre haverá alento. Se eu fosse ou estivesse rançosa e desesperada, desistiria da escrita. De desânimo o mundo está cheio. Se não pudesse acrescentar, não prosseguiria.
É claro que há dias de maior melancolia, então os textos refletem tal sentimento. Mas tudo muda a todo instante, e vou junto com os dias, com as novidades, com as estações, com as transformações.
Aprecio quem escreve belas crônicas com suavidade, com delicadeza, sem cair no lugar-comum. O mineiro Rubem, Alves faz isso com maestria. Adoro seus textos, tenho vários livros que leio e releio. Um de meus preferidos tem um título que adoro: “Ostra feliz não faz pérola”. Não sei se as pessoas me compreendem, mas acredito que o Rubem Alves me entenderia, por sua sabedoria e sensibilidade.
“(...) A ostra, para fazer pérola, precisa ter dentro de si um grão de areia que a faça sofrer. Sofrendo, a ostra diz para si mesma: Preciso envolver essa areia pontuda que me machuca com uma esfera lisa que lhe tire as pontas... Ostras felizes não fazem pérolas... Pessoas felizes não sentem a necessidade de criar. O ato criador, seja na ciência ou na arte, surge sempre de uma dor. Não é preciso que seja uma dor doída... Por vezes a dor aparece como aquela coceira que tem o nome de curiosidade...”

• Jornalista, fotógrafa e colunista do Literário

4 comentários:

  1. Sayonara, ótima observação a do seu amigo. Os comentários nos causam surpresa, às vezes, pois complementam e somam coisas que nem suspeitávamos que o texto iria levantar. Sobre a sinceridade, há quem ache ser qualidade e outros defeito. Dizem que preferimos nos enebriar com falsos elogios do que com críticas que nos alertam. Uma amiga me disse que encaminhou uma cliente para mim no consultório, e a mulher reclamou que eu fui dura com ela. Espantei, pois procuro ser atenciosa e delicada todo o tempo, mas serviu para que eu ficasse ainda mais atenta a sensibilidade alheia. Claro que no dia não gostei, mas foi bom para mim. Desculpe sair do assunto principal, mas foi o que seu texto me fez lembrar.

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  2. Sayonara, talvez eu não tenha entendido muito bem... Sinceramente, quem vive como eu, evitando grupos de subservientes “intelectuais” com conchavos, a fim de obter favores... Num país onde todos são iguais perante a lei, a decepção é grande. Em termos de Brasil, ser escritor ou poeta numa nação cheia de analfabetos e semi-analfabetos, fica ainda mais difícil, e como!!!
    Um bom São João pra todaos

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  3. Gosto de seus textos pois neles está você.
    Ah...não vejo nada de amargo neles.
    Um grande beijo Sayonara.

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