O estagiário e a cafeteira
* Por Rodrigo Ramazzini
Em uma repartição pública. Dia normal de trabalho. Pessoas se espremem na fila de espera para serem atendidas. Tudo corria bem. Até que o chefe do setor, nomeado por ter sido cabo eleitoral nas últimas eleições e pertencer a um partido da base aliada, em um ataque de fúria, aos gritos, convoca uma reunião extraordinária com os funcionários, pois tinha para tratar um assunto de extrema urgência. O serviço pára. Todos vão para a sala de reuniões, que começa com um questionamento do chefe do setor:
- Quem foi?
Silêncio. Ninguém sabe o que se trata e muito menos se arriscam a perguntar. O questionamento se repete.
- Quem foi que quebrou?
O silêncio permanece. Dando um soco na mesa, o chefe do setor novamente indaga, agora, dando mais detalhes.
- Quem foi que quebrou a máquina nova de café que com muito esforço eu trouxe para cá?
Os funcionários se olham, mas ninguém diz nada. O chefe do setor segue descontando a sua raiva contra todos.
- Não queriam cafezinho, cafezinho com leite, chocolate quente... Tá aí! Eu consegui para vocês... E agora vocês me quebram a máquina... Isso é um absurdo!
- Mas o que aconteceu com a máquina?-, tomando coragem, pergunta um funcionário.
- Não quer nem ligar! Responde o chefe.
Foi um burburinho na sala de reunião para descobrir quem tinha sido o autor da “obra”. Não demorou muito para que a culpa recaísse em quem mais utilizava a máquina.
- Só pode ter sido o estagiário!-, sentencia um funcionário conhecido pela fama de ser um “puxa saco” do chefe.
Bruninho, que estava sentado em uma cadeira bem no canto da sala, reage apontando o dedo pra si.
- Eu? Vocês estão loucos? Não fui eu não! Nem mexi lá hoje... Nem busquei café pra ninguém ainda!
Não tinham argumentos de defesa que salvassem o estagiário. A corda tinha arrebentado no lado mais fraco. O autor estava identificado. Todos foram liberados e Bruninho convocado pelo chefe de setor:
- Pra minha sala agora!
Trancados na sala, os xingamentos duram mais de meia hora. Ao sair, Bruninho apenas acena com uma das mãos e se despede:
- Tchau pessoal! Obrigado por tudo!
Havia sido dispensado. Ao passar pela máquina de café, na última vez que veria a causadora da sua demissão, o estagiário pára em sua frente em silêncio. Foi então que, depois de alguns segundos, falando sozinho e balançando a cabeça, exclama:
- Eu não acredito!
E acompanhando o fio da cafeteira, que passava atrás do móvel que a acomodava, verificou que a máquina de café estava apenas com o “plug” um pouco fora da tomada de energia elétrica. Sorrindo conectou-o. O funcionamento do equipamento voltou ao normal. Pensou em retornar para contar a todos, mas achou melhor sair guardando a sensação pra si e dizendo:
- É um babaca mesmo!
• Jornalista
* Por Rodrigo Ramazzini
Em uma repartição pública. Dia normal de trabalho. Pessoas se espremem na fila de espera para serem atendidas. Tudo corria bem. Até que o chefe do setor, nomeado por ter sido cabo eleitoral nas últimas eleições e pertencer a um partido da base aliada, em um ataque de fúria, aos gritos, convoca uma reunião extraordinária com os funcionários, pois tinha para tratar um assunto de extrema urgência. O serviço pára. Todos vão para a sala de reuniões, que começa com um questionamento do chefe do setor:
- Quem foi?
Silêncio. Ninguém sabe o que se trata e muito menos se arriscam a perguntar. O questionamento se repete.
- Quem foi que quebrou?
O silêncio permanece. Dando um soco na mesa, o chefe do setor novamente indaga, agora, dando mais detalhes.
- Quem foi que quebrou a máquina nova de café que com muito esforço eu trouxe para cá?
Os funcionários se olham, mas ninguém diz nada. O chefe do setor segue descontando a sua raiva contra todos.
- Não queriam cafezinho, cafezinho com leite, chocolate quente... Tá aí! Eu consegui para vocês... E agora vocês me quebram a máquina... Isso é um absurdo!
- Mas o que aconteceu com a máquina?-, tomando coragem, pergunta um funcionário.
- Não quer nem ligar! Responde o chefe.
Foi um burburinho na sala de reunião para descobrir quem tinha sido o autor da “obra”. Não demorou muito para que a culpa recaísse em quem mais utilizava a máquina.
- Só pode ter sido o estagiário!-, sentencia um funcionário conhecido pela fama de ser um “puxa saco” do chefe.
Bruninho, que estava sentado em uma cadeira bem no canto da sala, reage apontando o dedo pra si.
- Eu? Vocês estão loucos? Não fui eu não! Nem mexi lá hoje... Nem busquei café pra ninguém ainda!
Não tinham argumentos de defesa que salvassem o estagiário. A corda tinha arrebentado no lado mais fraco. O autor estava identificado. Todos foram liberados e Bruninho convocado pelo chefe de setor:
- Pra minha sala agora!
Trancados na sala, os xingamentos duram mais de meia hora. Ao sair, Bruninho apenas acena com uma das mãos e se despede:
- Tchau pessoal! Obrigado por tudo!
Havia sido dispensado. Ao passar pela máquina de café, na última vez que veria a causadora da sua demissão, o estagiário pára em sua frente em silêncio. Foi então que, depois de alguns segundos, falando sozinho e balançando a cabeça, exclama:
- Eu não acredito!
E acompanhando o fio da cafeteira, que passava atrás do móvel que a acomodava, verificou que a máquina de café estava apenas com o “plug” um pouco fora da tomada de energia elétrica. Sorrindo conectou-o. O funcionamento do equipamento voltou ao normal. Pensou em retornar para contar a todos, mas achou melhor sair guardando a sensação pra si e dizendo:
- É um babaca mesmo!
• Jornalista
A vingança dos fracos. De fato, melhor sair à inglesa, apenas sendo o único ciente da incapacidade do chefe, do que dividir com os outros. Rodrigo, o texto é a cara do Brasil.
ResponderExcluirBrasil! Brasil, brasileiro...
ResponderExcluirÉ o nosso país!
Grande, Mara! Obrigado pela interpretação!
Tenha um ótimo final de semana!
Aquele abraço!