segunda-feira, 4 de outubro de 2010




Fissura

* Por Núbia Araujo Nonato do Amaral

Vancleysson sabia a hora certa em que Renilce acordava. A hora em que ela lavava as roupas, em que cozinhava o feijão e a hora que ele mais gostava e que fazia a sua alegria de voyeur: a hora em que ela tomava banho de sol na laje.
- Elaiá! - dizia ele, estalando a língua.

Sua musa não era uma sumidade em beleza, mas tinha o que para ele era a coisa mais bela em uma mulher, ancas grandes e um traseiro generoso. Esse era o maior sonho de consumo de Vancleysson: ser o titular daquele belo traseiro. E, assim ele consumia todos os minutos de sua vida, sonhando em um dia possuí-la.

Alguns anos se passaram e Vancleysson definhava a olhos vistos tamanha era a sua fissura por Renilce. Em um domingo, enquanto os homens batiam a laje da vizinha, o companheiro de Renilce perdeu o equilíbrio e despencou do telhado, batendo as botas logo em seguida. Os amigos de Vancleysson, sabedores da sua paixão, trataram logo de unir os dois.

Na tão sonhada e idealizada noite de núpcias, ele cochichou-lhe aos ouvidos, o rosto de sua doce Renilce desapareceu por alguns segundos, depois de levar um jab de esquerda. Mas Vancleysson era pior do que "pau de dar em doido" e aos poucos foi se acostumando com os socos de sua amada.

Em uma noite, depois do milionésimo pedido, Renilce não lhe bateu, pelo contrário, disposta a experimentar, pediu, apenas que ele apagasse a luz. Cidoca, a vizinha do lado, acordou apavorada com a gritaria na madrugada.

Vancleysson, que havia engordado um pouco, voltou a secar. Renilce cochichava em seu ouvido todas as noites. O infeliz, cansado, bem que tentava declinar, mas ela levantava os punhos e as luzes se apagavam. A vizinha do lado? Está alugando o seu puxadinho.

* Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário

7 comentários:

  1. Nubia, interessante o texto! Recheado de paixão e humor! Parabéns! Beijos!

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  2. Quando mistério! Preciso urgente ter aulas de sexo bizarro, alternativo ou complementar. O resultado do seu texto, é que, do mesmo jeito que Vancleysson, seus leitores não tiraram os olhos do lugar.

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  3. Sayonara


    Mara


    Obrigado pela delicadeza em comentar.
    Beijos

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  4. núbia quanto prazer eu tenho ao ler teus textos,teus poemas,tudo o que escreve envolve a gente.E dessa vez não foi diferente.

    Beijos do teu fã

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  5. Edu, meu querido amigo, obrigado.
    Beijos

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  6. Este conto é rico principalmente por sugerir mais do que dizer. Adorei, Nubia!
    Beijos

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  7. Da alma da poetisa brotam doçuras e bizarrices,muitas vezes escondidas nas entrelinhas.
    Seus poemas denotam sensibilidade e nos levam a viajar em nossa imaginação.
    Parabéns!Está cada vez melhor!
    Beijos

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