segunda-feira, 25 de outubro de 2010




Bullying and bullshits



* Por Renato Manjaterra

Lembra daquele ritual de passagem dos índios que calçavam luvas de palha trançada com formigas presas de ferrão para dentro? Passou na TV quando eu era moleque, na ótima TV Manchete.
As crianças iam crescendo e chegava uma hora em que eram chamadas a atravessar um monte de festividades e provas, fumos, danças, orações... Lá, a uma certa hora da passagem, as crianças enfiavam as mãozinhas nessas luvas, equipadas com as formigas mais fiadasputa da selva.
Os moleques iam então saboreando cada picada até virar as bolas dos olhos. tinham alucinações de tanta dor e acordavam Homens.
Os antropólogos sempre viram com muitos belos olhos esse rito de passagem, tecendo paralelismos com tudo o que nossos curumins passam na city, hoje no condomínio. Desde as festenhas de 15 anos até o quartel.
Considere-se que aquela época era justamente a época em que se consolidaram as bases para que hoje seja proibido qualquer tipo de sofrimento imposto aos crescentes.
Se a transformação das crianças em adultos não acontece assim naturalmente, num dado alvorecer, porque é que deveria ser assim culturalmente? Não é assim, não é mesmo?
Eu que sou herdeiro dessa antropologia e estudei na Comunitária durante a abertura democrática acho lindo os indiozinhos sentirem vontade de passar aquela dor toda para sair da oca numa manhã feito homem.
Acho que pequenas coisas como essa deveriam ir acontecendo sempre na vida das pessoinhas, para que elas tenham experiências e saibam como lidar com o medo, com a dor, com o chão... e só conheço um jeito.
“Dói filho, você me desculpa, mas funciona. Cura, ensina e fortalece”.


* Jornalista e escritor, webdesigner, colunista esportivo, pontepretano de quatro costados, autor do livro “Colinas, Pará” com prefácio do Senador Eduardo Suplicy, bacharel em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUCAMP, blog http://manjaterra.blogspot.com

2 comentários:

  1. UFA! estou para escrever isso desde aquele episódio do Neymar, que virou um problemão para o Santos por falta de um corretivo coletivo bem aplicado no vestiário.

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  2. Sou do tempo em que mãe dava chinelada e o que
    o pai só de olhar de cara feia fazia a gente enfiar a viola no saco e "pedir pra sair".
    Tempo em que respeitávamos e honrávamos pai e mãe.
    Não sou adepta da violência, mas sou contra o permissivismo...
    Abração

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