quinta-feira, 21 de outubro de 2010




Emoções no balde

* Por Adelcir Oliveira



Fez do papel balde de água. A pureza do líquido é absolutamente incerta. Mas não importa, queria apenas diluir seus sentimentos. Daí, então, observou as cores que se formaram na água. É ato químico na busca de exatidão de sentimentos e emoções.

Olhou a água no balde. Chocou-se com resultado da mistura. Tentou recordar algum processo de separação aprendido em aulas de Química naquela triste escola pública. Contudo, aluno medíocre que foi, de método algum se lembrou. Nem mesmo lhe foi possível algum resquício de aprendizado. A professora bem que tentou. Lamentou tanta algazarra. E se portou de tal modo coitada que provocou a ira de seus algozes sentados às carteiras.

Com uma ferramenta improvisada fez movimentos circulares com a água. Iludia-se quanto à eficácia do ato. Via cores, mas não sabia a representação exata das emoções. Desconfiava que somar determinada cor com outra poderia resultar naquilo desejado. Mas e se fizesse escolhas erradas de cores? Temeu. Estremeceu por dentro. Permaneceu no ato dos círculos na água com a ferramenta que tinha. Receava que na mistura equivocada outras emoções sobreviessem.

Apagou a luz. Cerrou a porta. Deixou de lado a ferramenta. Saiu pior do que entrara. No balde, a água ainda fazia movimento. As emoções de então logo cessariam. A noite chegou e se fez escuridão e silêncio. Longe dali, o artista fracassado. Consigo, as cores das emoções dentro do balde. Mas nele, a mistura colorida era inevitável. Em algum canto escuro, ele tentava em vão o mesmo silêncio do balde quando outrora vazio estava.

• Jornalista

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