Sobrevivente
* Por Risomar Fasanaro
Só hoje me dou conta de que durante anos vivi uma noite de inverno. Que por longos e intermináveis dias e noites vivi mergulhada nas águas profundas de mim mesma. Ia ao fundo, ao mais fundo dos meus rios e retornava. Afundava novamente e vinha à tona, sentindo o sal dos mares nas águas dos rios. Buscando a verdade como se busca o ar e só encontrando o fel. Uma afogada em vida.
Mas um dia, como todas as outras estações, o inverno estaria fadado a terminar, e este dia chegou.
Hoje ao acordar, senti que mundo havia mudado, a Primavera vestira de verde as folhagens da minha janela. As violetas estavam mais vivas do que nunca, e até a orquídea que há meses espero florir, apontou um botão.
Sim, disse a mim mesma, já que não havia ninguém aqui para me ouvir, embora eu não tenha percebido, o inverno acabou e eu sobrevivi. A Primavera chegou, e estou aqui- viva, inteira.
Senti uma vontade danada de sair descalça, dançando pelos gramados, tal qual Isadora Duncan, se talento tivesse para isso. Meu peito estava cheio de gaivotas e elas queriam voar.
O barco ferido que eu fora, consertara a quilha rebentada e queria partir, ir em busca de outros mares.
Senti vontade de me arriscar, de atravessar a vida com o sinal vermelho, de sentir na pele o frio arrepio do risco, de me equilibrar no fio da faca, entre a lucidez e a loucura., sentir aquele arrepio que só provocam as grandes paixões.
Maruja de meus próprios mares, guerrilheira de minhas próprias guerrilhas quero arquitetar novos planos e navegar. E em algum porto vou encontrar o que foi sempre meu e eu não sabia, e somente agora reencontro.
* Jornalista, professora de Literatura Brasileira e Portuguesa e escritora, autora de “Eu: primeira pessoa, singular”, obra vencedora do Prêmio Teresa Martin de Literatura em júri composto por Ignácio de Loyola Brandão, Deonísio da Silva e José Louzeiro. Militante contra a última ditadura militar no Brasil.
* Por Risomar Fasanaro
Só hoje me dou conta de que durante anos vivi uma noite de inverno. Que por longos e intermináveis dias e noites vivi mergulhada nas águas profundas de mim mesma. Ia ao fundo, ao mais fundo dos meus rios e retornava. Afundava novamente e vinha à tona, sentindo o sal dos mares nas águas dos rios. Buscando a verdade como se busca o ar e só encontrando o fel. Uma afogada em vida.
Mas um dia, como todas as outras estações, o inverno estaria fadado a terminar, e este dia chegou.
Hoje ao acordar, senti que mundo havia mudado, a Primavera vestira de verde as folhagens da minha janela. As violetas estavam mais vivas do que nunca, e até a orquídea que há meses espero florir, apontou um botão.
Sim, disse a mim mesma, já que não havia ninguém aqui para me ouvir, embora eu não tenha percebido, o inverno acabou e eu sobrevivi. A Primavera chegou, e estou aqui- viva, inteira.
Senti uma vontade danada de sair descalça, dançando pelos gramados, tal qual Isadora Duncan, se talento tivesse para isso. Meu peito estava cheio de gaivotas e elas queriam voar.
O barco ferido que eu fora, consertara a quilha rebentada e queria partir, ir em busca de outros mares.
Senti vontade de me arriscar, de atravessar a vida com o sinal vermelho, de sentir na pele o frio arrepio do risco, de me equilibrar no fio da faca, entre a lucidez e a loucura., sentir aquele arrepio que só provocam as grandes paixões.
Maruja de meus próprios mares, guerrilheira de minhas próprias guerrilhas quero arquitetar novos planos e navegar. E em algum porto vou encontrar o que foi sempre meu e eu não sabia, e somente agora reencontro.
* Jornalista, professora de Literatura Brasileira e Portuguesa e escritora, autora de “Eu: primeira pessoa, singular”, obra vencedora do Prêmio Teresa Martin de Literatura em júri composto por Ignácio de Loyola Brandão, Deonísio da Silva e José Louzeiro. Militante contra a última ditadura militar no Brasil.
A primavera é cheia de magia e vive
ResponderExcluirme resgatando...
Lindo texto Riso.
Beijos
Lindo esse reencontro com a primavera, Risomar!
ResponderExcluirBeijos
Todas nós gostarísmos de ter escrito esse texto e principalmente ter vivenciado essa guinada de vida, sugerida pela chegada da primavera. Muito gostoso de ler e de viver.
ResponderExcluirMinhas amigas queridas
ResponderExcluirObrigada pelas palavras de vocês, sempre bem-vindas!
Beijos nas três
Risomar