Gisele
* Por Leandro Barbieri
Conheci uma Giséle. Isso. Giséle... Com “é”. Acento agudo em paroxítona. Irmã de Grasiéle e Gabriéle, Giséle faz questão que assinem seu nome com o adereço gramatical. Há controvérsias sobre a origem do suposto equívoco. Não se sabe se é um erro de cartório ou um exotismo da família. A segunda opção é a mais provável.
A história de Giséle se opõe à de Flávia Câmara. Dois acentos que lhe custaram anos e anos de aborrecimento. “É com acento... Agudo no Flávia, circunflexo no Câmara”. Era uma questão de honra. Flávia demorou para compreender a acentuação de seu nome. Mas aprendeu. E o erro alheio tornou-se intolerável. Mas erravam. Muito. Sempre. E ela radicalizou. Aboliu... Era Flavia Camara e ai de quem perguntasse como escrevia.
Os pais deveriam tomar mais cuidado com o acento dos filhos. Tem muita Silvia confundida com Sílvia, Fabio confundido com Fábio e Katia confundida com Kátia (isso quando não aparece uma Cátia para complicar ainda mais).
Estudiosos se dividem. A discussão é antiga. As regras da língua valem para nomes próprios? E quando o nome é estrangeiro? Pode uma criança ser batizada de Litísgo (versão nacionalizada da expressão Let´s Go)? Se pode, é com ou sem acento?
Aquele velho argumento de que a acentuação é proveniente da fonética caiu por terra quando alguém decretou que a palavra “êle”deveria ser escrita sem o “^”. A fonética não mudou. Só mudou a regra. Logo, a ligação existente entre as duas era falsa. Fomos enganados pelas nossas professoras de português.
Nessa máfia (que pode perfeitamente ser uma mafia), o trema é marginalizado. É o primo pobre, o desvalorizado. Há quem acredite que ele não existe mais. E ninguém se sente seguro o suficiente para defendê-lo. Eu já vi cheques com a palavra “cincoenta”. Na dúvida, melhor evitar o “qü”...
E tem a crase... Ah... Crase...A vilã...O maior obstáculo do idioma... Não existem regras específicas para quem quer aprendê-la. Só algumas gerais... E cheias de exceções...
Neste caos de símbolos e grafias, Giséle leva uma vida comum. Trabalha, estuda, se diverte. Mas evita livros de gramática. Pura precaução.
*Roteirista, diretor e pesquisador de Telenovelas Brasileiras. Assina o roteiro de Umas & Outras, primeira novela interativa da internet. No espaço Literário, resgata a estrutura do Folhetim Francês, embrião da telenovela de hoje.
* Por Leandro Barbieri
Conheci uma Giséle. Isso. Giséle... Com “é”. Acento agudo em paroxítona. Irmã de Grasiéle e Gabriéle, Giséle faz questão que assinem seu nome com o adereço gramatical. Há controvérsias sobre a origem do suposto equívoco. Não se sabe se é um erro de cartório ou um exotismo da família. A segunda opção é a mais provável.
A história de Giséle se opõe à de Flávia Câmara. Dois acentos que lhe custaram anos e anos de aborrecimento. “É com acento... Agudo no Flávia, circunflexo no Câmara”. Era uma questão de honra. Flávia demorou para compreender a acentuação de seu nome. Mas aprendeu. E o erro alheio tornou-se intolerável. Mas erravam. Muito. Sempre. E ela radicalizou. Aboliu... Era Flavia Camara e ai de quem perguntasse como escrevia.
Os pais deveriam tomar mais cuidado com o acento dos filhos. Tem muita Silvia confundida com Sílvia, Fabio confundido com Fábio e Katia confundida com Kátia (isso quando não aparece uma Cátia para complicar ainda mais).
Estudiosos se dividem. A discussão é antiga. As regras da língua valem para nomes próprios? E quando o nome é estrangeiro? Pode uma criança ser batizada de Litísgo (versão nacionalizada da expressão Let´s Go)? Se pode, é com ou sem acento?
Aquele velho argumento de que a acentuação é proveniente da fonética caiu por terra quando alguém decretou que a palavra “êle”deveria ser escrita sem o “^”. A fonética não mudou. Só mudou a regra. Logo, a ligação existente entre as duas era falsa. Fomos enganados pelas nossas professoras de português.
Nessa máfia (que pode perfeitamente ser uma mafia), o trema é marginalizado. É o primo pobre, o desvalorizado. Há quem acredite que ele não existe mais. E ninguém se sente seguro o suficiente para defendê-lo. Eu já vi cheques com a palavra “cincoenta”. Na dúvida, melhor evitar o “qü”...
E tem a crase... Ah... Crase...A vilã...O maior obstáculo do idioma... Não existem regras específicas para quem quer aprendê-la. Só algumas gerais... E cheias de exceções...
Neste caos de símbolos e grafias, Giséle leva uma vida comum. Trabalha, estuda, se diverte. Mas evita livros de gramática. Pura precaução.
*Roteirista, diretor e pesquisador de Telenovelas Brasileiras. Assina o roteiro de Umas & Outras, primeira novela interativa da internet. No espaço Literário, resgata a estrutura do Folhetim Francês, embrião da telenovela de hoje.
Um docinho de texto. Deu vontade de comer, com crase, sem crase, com ou sem acento. Quanto a trema, melhor que fique onde sempre esteve: no esquecimento, mas sinto falta dela.
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