Inserção na realidade
* Por Pedro J. Bondaczuk
Os que apregoam que são ferrenhamente “realistas” (e há uma infinidade de pessoas que faz isso) na maioria das vezes sequer sabem definir o que seja “realidade” e muito menos fazer distinção entre esta e meros sonhos e idealizações. Ou, o que é mais comum, não distinguem o verdadeiro, o concreto, o palpável de meras “interpretações”, sujeitas, portanto, a equívocos.
Esse pretenso realismo não passa, geralmente, de mera máscara para disfarçar o pessimismo com que esses indivíduos encaram a vida. E o pessimista, mesmo que não se dê conta, é um doente. Enquadra tudo (e todos) num prisma sempre negativo. Sofre sem necessidade e parece se comprazer com o sofrimento. Há muita gente assim, que sente prazer em sofrer, embora o negue da maneira mais enfática possível. Vá entender essas pessoas!
O que é o real? O nascimento? A morte? As pessoas e as coisas que nos cercam? Você tem certeza, mas certeza mesmo, de que tudo isso é real e não mero sonho, delirante fantasia, verossímil elucubração da mente de um poeta? Ou de um louco? Às vezes, tenho essa impressão. Ademais, não tenho certeza de nada. Nem mesmo a de estar vivo.
T. S. Eliot, em um de seus versos mais notáveis, constatou, com elegância e precisão, que “o gênero humano não suporta a realidade”. E não suporta mesmo! Daí viver criando fantasias de todos os tipos, quer para os outros, quer e, principalmente, para si próprio.
Somos o que mentalizamos. Se nos virmos como fracos, como tíbios, como doentios, nos transformaremos nesse estereótipo que criarmos. Mas o contrário também é verdade. O que cada um de nós tem que fazer é se impor. É provar, se preciso, que o mundo inteiro está errado sobre a imagem que faz de nós. É não nos deixarmos abater diante de opiniões e atitudes alheias. É inserir a nossa vontade no âmago da realidade.
Mas essa demonstração de força não se pode fazer apenas com palavras. Exige ação, muita ação, mesmo que o corpo teime em pedir repouso (o que, invariavelmente, faz). Requer energia, física, mental e, sobretudo espiritual, tirada não se sabe de onde.
Henri Bergson escreveu, em um de seus ensaios, que “cada um dos nossos atos visa uma certa inserção da nossa vontade na realidade”. Raramente conseguimos isso. Fracassamos nessa tentativa por “n” razões. Às vezes, por exemplo, esse fracasso ocorre porque a realidade se apresenta com obstáculos muito além das nossas forças para superá-los. Outras tantas, porque não somos voluntariosos o suficiente para mudar o que pode ser mudado e nos deixamos, docilmente, abater pelas circunstâncias.
Por exemplo, seria o homem capaz de compreender a relação profundíssima que tem com a Terra e mudar, em curto espaço de tempo, seu comportamento infeliz, destrutivo e absurdo, evitando (se ainda for evitável) uma catástrofe de conseqüências imprevisíveis? Em teoria, sim. Mas essa compreensão, e a conseqüente ação, dependem de força de vontade.
Para que essa mudança seja possível, é necessário, acima de tudo, educar os jovens, incutindo neles a mentalidade preservacionista. Mas não como modismo, ou bandeira "ideológica", mas como ação concreta e eficaz. Um processo como esse, porém, não se faz da noite para o dia. Demanda tempo, muito tempo. Pode durar gerações e estar sujeito a avanços e recuos. É algo demorado e que já deveria estar em andamento. Não está. A dúvida é: haverá tempo para essa conscientização? Tudo indica que não! O efeito estufa está aí para nos servir de alerta.
Ainda é possível reverter os sintomas de desgaste, de envelhecimento de "Gaia", que podem evoluir rapidamente para uma "doença" de caráter irreversível, que a leve em pouco tempo ao colapso e à morte? Sim! O ser humano pode qualquer coisa, desde que tenha vontade. Tê-la, no entanto, e da forma e no momento adequados, é que são elas.
Não seria possível produzir mais, sem poluir? Não há uma maneira racional de se explorar o que a natureza nos legou sem destruir? Claro que há! Os recursos terrestres não são como a mitológica "cornucópia da abundância", ou seja, inesgotáveis. Mas são raros os que atentam para essa realidade. E se nem ao menos lhe prestamos atenção, como poderemos inserir nossa vontade nela (se a tivermos, logicamente)? Não poderemos.
O que é realidade para mim, pode não o ser para bilhões de pessoas ao redor do mundo. Elas não vivem a mesma circunstância que vivo e sequer tomam ciência do que para mim é tão importante (e, às vezes, decisivo). A não ser que ocorra uma catástrofe planetária, como o choque de um cometa ou de um asteróide com a Terra (o que não é nada descartável), minha “realidade” é limitada ao espaço em que estou.
Não proponho, claro, que optemos por nos alienar e esconder a cabeça na areia, deixando o corpo de fora, achando que assim estaremos nos livrando dos perigos. Esta seria a pior das “soluções”. Afinal, a depredação do Planeta é, em grande parte, devida à nossa alienação. Sugiro, isto sim, vislumbrar a realidade em sua inteireza e integralidade. Ou seja,: no direito e no avesso. E inserir, nela, a nossa vontade. Caso ela nos seja penosa e ameaçadora, mudá-la. E se for benéfica e prazerosa, conservá-la e, se possível, perpetuá-la. Isto é o óbvio, porém...
*Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com
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* Por Pedro J. Bondaczuk
Os que apregoam que são ferrenhamente “realistas” (e há uma infinidade de pessoas que faz isso) na maioria das vezes sequer sabem definir o que seja “realidade” e muito menos fazer distinção entre esta e meros sonhos e idealizações. Ou, o que é mais comum, não distinguem o verdadeiro, o concreto, o palpável de meras “interpretações”, sujeitas, portanto, a equívocos.
Esse pretenso realismo não passa, geralmente, de mera máscara para disfarçar o pessimismo com que esses indivíduos encaram a vida. E o pessimista, mesmo que não se dê conta, é um doente. Enquadra tudo (e todos) num prisma sempre negativo. Sofre sem necessidade e parece se comprazer com o sofrimento. Há muita gente assim, que sente prazer em sofrer, embora o negue da maneira mais enfática possível. Vá entender essas pessoas!
O que é o real? O nascimento? A morte? As pessoas e as coisas que nos cercam? Você tem certeza, mas certeza mesmo, de que tudo isso é real e não mero sonho, delirante fantasia, verossímil elucubração da mente de um poeta? Ou de um louco? Às vezes, tenho essa impressão. Ademais, não tenho certeza de nada. Nem mesmo a de estar vivo.
T. S. Eliot, em um de seus versos mais notáveis, constatou, com elegância e precisão, que “o gênero humano não suporta a realidade”. E não suporta mesmo! Daí viver criando fantasias de todos os tipos, quer para os outros, quer e, principalmente, para si próprio.
Somos o que mentalizamos. Se nos virmos como fracos, como tíbios, como doentios, nos transformaremos nesse estereótipo que criarmos. Mas o contrário também é verdade. O que cada um de nós tem que fazer é se impor. É provar, se preciso, que o mundo inteiro está errado sobre a imagem que faz de nós. É não nos deixarmos abater diante de opiniões e atitudes alheias. É inserir a nossa vontade no âmago da realidade.
Mas essa demonstração de força não se pode fazer apenas com palavras. Exige ação, muita ação, mesmo que o corpo teime em pedir repouso (o que, invariavelmente, faz). Requer energia, física, mental e, sobretudo espiritual, tirada não se sabe de onde.
Henri Bergson escreveu, em um de seus ensaios, que “cada um dos nossos atos visa uma certa inserção da nossa vontade na realidade”. Raramente conseguimos isso. Fracassamos nessa tentativa por “n” razões. Às vezes, por exemplo, esse fracasso ocorre porque a realidade se apresenta com obstáculos muito além das nossas forças para superá-los. Outras tantas, porque não somos voluntariosos o suficiente para mudar o que pode ser mudado e nos deixamos, docilmente, abater pelas circunstâncias.
Por exemplo, seria o homem capaz de compreender a relação profundíssima que tem com a Terra e mudar, em curto espaço de tempo, seu comportamento infeliz, destrutivo e absurdo, evitando (se ainda for evitável) uma catástrofe de conseqüências imprevisíveis? Em teoria, sim. Mas essa compreensão, e a conseqüente ação, dependem de força de vontade.
Para que essa mudança seja possível, é necessário, acima de tudo, educar os jovens, incutindo neles a mentalidade preservacionista. Mas não como modismo, ou bandeira "ideológica", mas como ação concreta e eficaz. Um processo como esse, porém, não se faz da noite para o dia. Demanda tempo, muito tempo. Pode durar gerações e estar sujeito a avanços e recuos. É algo demorado e que já deveria estar em andamento. Não está. A dúvida é: haverá tempo para essa conscientização? Tudo indica que não! O efeito estufa está aí para nos servir de alerta.
Ainda é possível reverter os sintomas de desgaste, de envelhecimento de "Gaia", que podem evoluir rapidamente para uma "doença" de caráter irreversível, que a leve em pouco tempo ao colapso e à morte? Sim! O ser humano pode qualquer coisa, desde que tenha vontade. Tê-la, no entanto, e da forma e no momento adequados, é que são elas.
Não seria possível produzir mais, sem poluir? Não há uma maneira racional de se explorar o que a natureza nos legou sem destruir? Claro que há! Os recursos terrestres não são como a mitológica "cornucópia da abundância", ou seja, inesgotáveis. Mas são raros os que atentam para essa realidade. E se nem ao menos lhe prestamos atenção, como poderemos inserir nossa vontade nela (se a tivermos, logicamente)? Não poderemos.
O que é realidade para mim, pode não o ser para bilhões de pessoas ao redor do mundo. Elas não vivem a mesma circunstância que vivo e sequer tomam ciência do que para mim é tão importante (e, às vezes, decisivo). A não ser que ocorra uma catástrofe planetária, como o choque de um cometa ou de um asteróide com a Terra (o que não é nada descartável), minha “realidade” é limitada ao espaço em que estou.
Não proponho, claro, que optemos por nos alienar e esconder a cabeça na areia, deixando o corpo de fora, achando que assim estaremos nos livrando dos perigos. Esta seria a pior das “soluções”. Afinal, a depredação do Planeta é, em grande parte, devida à nossa alienação. Sugiro, isto sim, vislumbrar a realidade em sua inteireza e integralidade. Ou seja,: no direito e no avesso. E inserir, nela, a nossa vontade. Caso ela nos seja penosa e ameaçadora, mudá-la. E se for benéfica e prazerosa, conservá-la e, se possível, perpetuá-la. Isto é o óbvio, porém...
*Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com
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O que comprar:
Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista). – Preço: R$ 23,90.
Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte), uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro. – Preço: R$ 20,90.
Como comprar:
Pela internet – WWW.editorabarauna.com.br – Acessar o link “Como comprar” e seguir as instruções.
Em livraria – Em qualquer loja da rede de livrarias Cultura espalhadas pelo País.
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Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte), uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro. – Preço: R$ 20,90.
Como comprar:
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Em livraria – Em qualquer loja da rede de livrarias Cultura espalhadas pelo País.
Porém...é mais cômodo achar que está tudo perdido.
ResponderExcluirQue somos uma minoria tais como agulhas no palheiro
ou pequenas gotas no oceano...
Esse é o pensamento da maioria, mas que pode ser revertido sim...não fazem isso nas campanhas eleitorais?
Não usam e abusam da mídia pra promover o que eles querem?
Então que façam isso enquanto houver tempo.
Abraços
Também estou por entender melhor o que seja a realidade. O começo da leitura me fez pensar em muitos caminhos, e acabamos na depredação do planeta. Imaginei que seríamos levados a filosofar sobre a existência, e acabamos num tema concreto.
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