Um poema de Cida Pedrosa
* Por Luiz Carlos Monteiro
Cida Pedrosa é poetisa de Bodocó (PE), mas radicou-se no Recife há um bom tempo. Sua poesia reflete, em termos éticos, a condição da mulher brasileira e a busca incessante por cidadania. Sem, no entanto, escamotear um necessário sentido estético para as estruturas vérsicas em constante mutação e inovação. Seu livro mais recente, As filhas de Lilith, traz ilustrações de Tereza Costa Rego e design de Jaíne Cintra, para o acompanhamento de versos fortes, transparentes e arrojados. Todos os poemas têm como títulos nomes de mulheres, de A a Z. A mulher é vista em situações cotidianas e inusitadas, na rua e no quarto, na solidão e no seio da família, no salão de beleza e nas nuances da vida pública. O poema “cecília” (em caixa baixa mesmo), expõe o afã da mulher que lava rotineiramente uma calçada pela manhã, pondo nisso toda a sua concentração. Enquanto varre e enxuga, pensa pequenos sonhos e exorciza a agonia noturna. Como se pudesse consumar solitariamente a limpeza, enerva-se e se apressa quando olhos indiscretos a observam:
ela lava a calçada
como quem lava o mundo
do balde a cachoeira
molha pés dançarinos
alojador de sapatos
andante de procissões
na tirania da água
o barquinho de papel
escorre pelo sonho da menina
e o burburinho assusta o velho da janela
cecília lava a calçada
e a espuma em pedra
é breve morada em seus pés
portas se abrem
olhos espiam
a vassoura se apressa
e varre a agonia
vivida durante a noite
* Poeta, crítico literário e ensaísta, blog www.omundocircundande.blogspot.com
* Por Luiz Carlos Monteiro
Cida Pedrosa é poetisa de Bodocó (PE), mas radicou-se no Recife há um bom tempo. Sua poesia reflete, em termos éticos, a condição da mulher brasileira e a busca incessante por cidadania. Sem, no entanto, escamotear um necessário sentido estético para as estruturas vérsicas em constante mutação e inovação. Seu livro mais recente, As filhas de Lilith, traz ilustrações de Tereza Costa Rego e design de Jaíne Cintra, para o acompanhamento de versos fortes, transparentes e arrojados. Todos os poemas têm como títulos nomes de mulheres, de A a Z. A mulher é vista em situações cotidianas e inusitadas, na rua e no quarto, na solidão e no seio da família, no salão de beleza e nas nuances da vida pública. O poema “cecília” (em caixa baixa mesmo), expõe o afã da mulher que lava rotineiramente uma calçada pela manhã, pondo nisso toda a sua concentração. Enquanto varre e enxuga, pensa pequenos sonhos e exorciza a agonia noturna. Como se pudesse consumar solitariamente a limpeza, enerva-se e se apressa quando olhos indiscretos a observam:
ela lava a calçada
como quem lava o mundo
do balde a cachoeira
molha pés dançarinos
alojador de sapatos
andante de procissões
na tirania da água
o barquinho de papel
escorre pelo sonho da menina
e o burburinho assusta o velho da janela
cecília lava a calçada
e a espuma em pedra
é breve morada em seus pés
portas se abrem
olhos espiam
a vassoura se apressa
e varre a agonia
vivida durante a noite
* Poeta, crítico literário e ensaísta, blog www.omundocircundande.blogspot.com
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