Demorou
* Por Marcelo Sguassabia
- Teve uma hora que eu vi o parzinho na íntegra, cara. O vento bateu esquisito, e a blusa dela parecia vela de barco. Quando aconteceu, fez aquele barulhinho de bandeira tremulando. Não tem noção. Foi a cena do bueiro da Marilyn, só que na parte de cima. E eu de cara pregada naquelas duas coisas, iguais e enlouquecedoras.
- E aí?
- Ela viu que eu vi, flagrou o arregalo do olho. Cobriu depressa o patrimônio. Disfarçou, eu não. Uma visão dessa te deixa sem saber o que fazer com as mãos, pra onde correr. Mas correr é a última coisa que passa pela cabeça com aqueles dois olhos de carne te olhando de repente, no susto. Um ar quente e perfumado das lindezinhas guardadas, tesouro abafado posto pra fora. Você não quer que acabe jeito nenhum, quer levar a visão contigo, deixar que te persiga e te incomode. Nunca que a gente acostuma de olhar aquilo sem espanto. O Cara lá em cima inventou esse negócio pra ser mistério mesmo, e pronto.
- Nem. Conta mais aí, reparte direito essa paradinha comigo.
- Foi ir pro céu em dois segundos e voltar, véio. Ninguenzinho, nem de longe, pra cortar o barato. Barulho zero, só umas gaivotas foram chegando ali pelas cinco, quando o sol tava no ensaio e ela já tinha ido embora, me deixando ali largado e pensando no acontecido, daquele jeito de quem quer de novo. A parada foi bem essa. Mingau de sossego e paz, jardim de Alá. Foi por aí, meu. Uma tatoo feita no cérebro.
– Massa... o lance aí te deixou inspiradão, cheio de falar bonito. Quem diria, o rei da biscataiada parado numa mina só.
- Uns gêmeos rosados assim não podem nunca ter câncer, véio. O câncer sonda o material, chapa e desiste de acabar com aquilo. Animal sem pêlo, só penugem fêmea e fina, loirinha que nem de neném. A serviço do papai aqui, aquela carninha tenra detona a larica toda que tiver no mundo. Subindo um pouco uma bocaça meio das antigas, batom forte, tipo Rita Hayworth.
- Tô ligado, femme fatale de filme pb. Cara, essa nega desorienta.
- Duas horas com aquilo e eu me acabo. Subo a escadaria da Penha plantando bananeira. E de costas. Fico refém, manda que eu faço.
- Bota meu nome aí, que um filé desse eu não ligo de ficar com o osso, não. A hora que desocupar, me dá um toque.
- Demorou.
* Por Marcelo Sguassabia
- Teve uma hora que eu vi o parzinho na íntegra, cara. O vento bateu esquisito, e a blusa dela parecia vela de barco. Quando aconteceu, fez aquele barulhinho de bandeira tremulando. Não tem noção. Foi a cena do bueiro da Marilyn, só que na parte de cima. E eu de cara pregada naquelas duas coisas, iguais e enlouquecedoras.
- E aí?
- Ela viu que eu vi, flagrou o arregalo do olho. Cobriu depressa o patrimônio. Disfarçou, eu não. Uma visão dessa te deixa sem saber o que fazer com as mãos, pra onde correr. Mas correr é a última coisa que passa pela cabeça com aqueles dois olhos de carne te olhando de repente, no susto. Um ar quente e perfumado das lindezinhas guardadas, tesouro abafado posto pra fora. Você não quer que acabe jeito nenhum, quer levar a visão contigo, deixar que te persiga e te incomode. Nunca que a gente acostuma de olhar aquilo sem espanto. O Cara lá em cima inventou esse negócio pra ser mistério mesmo, e pronto.
- Nem. Conta mais aí, reparte direito essa paradinha comigo.
- Foi ir pro céu em dois segundos e voltar, véio. Ninguenzinho, nem de longe, pra cortar o barato. Barulho zero, só umas gaivotas foram chegando ali pelas cinco, quando o sol tava no ensaio e ela já tinha ido embora, me deixando ali largado e pensando no acontecido, daquele jeito de quem quer de novo. A parada foi bem essa. Mingau de sossego e paz, jardim de Alá. Foi por aí, meu. Uma tatoo feita no cérebro.
– Massa... o lance aí te deixou inspiradão, cheio de falar bonito. Quem diria, o rei da biscataiada parado numa mina só.
- Uns gêmeos rosados assim não podem nunca ter câncer, véio. O câncer sonda o material, chapa e desiste de acabar com aquilo. Animal sem pêlo, só penugem fêmea e fina, loirinha que nem de neném. A serviço do papai aqui, aquela carninha tenra detona a larica toda que tiver no mundo. Subindo um pouco uma bocaça meio das antigas, batom forte, tipo Rita Hayworth.
- Tô ligado, femme fatale de filme pb. Cara, essa nega desorienta.
- Duas horas com aquilo e eu me acabo. Subo a escadaria da Penha plantando bananeira. E de costas. Fico refém, manda que eu faço.
- Bota meu nome aí, que um filé desse eu não ligo de ficar com o osso, não. A hora que desocupar, me dá um toque.
- Demorou.
* Redator publicitário há mais de 20 anos, cronista de várias revistas eletrônicas, entre as quais a “Paradoxo”
Esse "demorou" me soa tão carioquês...
ResponderExcluirUm texto leve onde apenas uma pequena visão
fez brotar na personagem uma descrição suave
mas de grande impacto.
Abraços
Descrição bela do encanto que exerceu no protagonista essa parte do corpo feminino. Misturou tudo: desejo, ardor, respeito, encantamento. Foi um completo show.
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