terça-feira, 5 de outubro de 2010




Continho

* Por Evelyne Furtado

Desceu, Alice, a ribanceira às cegas: Olhos vendados, frio na barriga e escoriações que lhe doeram muito além da pele.

Acordou de sonho pesado. Revirou na cama e nas idéias de Freud. Salva foi por raízes de afeto. Repousou em leito de versos. Adoçou como pôde o remédio. Confortou-se na luz beirando a janela.

Hoje segue pé ante pé rente à calçada e lembra dia sim, dia não, com saudade, das nuvens que lhe substituíam o chão.

• Poetisa e cronista de Natal/RN

8 comentários:

  1. Quando numa queda até a alma quebra uma perna, as cicatrizes superficiais não importam. As marcas indeléveis no espírito são explicadas por Freud. Alice entende, vê que não está mais no País das Maravilhas, mantém um pé no chão e outro nas nuvens. Experiências deixam feridas, mas não devem tirar a capacidade de sonhar, sem medo, até arriscando-se a cair novamente na ribanceira.

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  2. Um "Continho" cheio de leveza, mas que revelam
    dores.
    Por mais que as feridas demorem a cicatrizar
    o que nos mata aos poucos é a falta de sonhos.
    Beleza de texto Evelyne, parabéns.
    Abraços

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  3. Belíssimo e sintético instantâneo, Evelyne. Um grande pequeno conto. Meu beijo e meus parabéns.

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  4. Adorei principalmente o final: "lembra dia sim, dia não, com saudade, das nuvens que lhe substituíam o chão." Pura poesia. Parabéns!
    Beijos

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  5. Lindo, Evelyne! Concordo ocm o que os colegas acima escreveram! Parabéns! Bjos!

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  6. Grata pelos comentários, queridos! Beijos e boa noite.

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  7. simplesmente uma DELÍCIA, esse continho!

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